OS VERÕES PRESIDENCIAIS EM PETRÓPOLIS

Jeronymo Ferreira Alves Netto, Associado Titular, Cadeira n.º 15, Patrono – Estanislau Schaette

 

O Palácio Rio Negro, foi edificado em dois prazos, localizados na atual Avenida Koeler, adquiridos à viúva do colono Pedro Klippel, por Manuel Gomes de Carvalho, Barão do Rio Negro, em l889.

Por pouco tempo residiu o Barão no imponente edifício que, em l896, quando Petrópolis era a capital do Estado, foi adquirido pelo doutor Joaquim Maurício de Abreu, então Presidente do Estado do Rio de Janeiro, por 300 contos de réis.

Na oportunidade, segundo nos informa Fróes, ” o segundo andar do Palácio transformou-se em moradia do Presidente, enquanto no primeiro andar, foram instalados os serviços administrativos, nas três salas ali existentes.

Assim, Petrópolis, que no final do século XIX havia se tornado uma mini-corte imperial, onde no Palácio de Verão de Dom Pedro II se decidiam os rumos da história do país, guardadas as devidas proporções, continuou a desempenhar este importante papel na República, tendo como centro o Palácio Rio Negro.

Com efeito, no referido Palácio, de l896 a l902, foram tomadas importantes decisões políticas, econômicas e administrativas, pelos dirigentes do Estado do Rio, Joaquim Maurício de Abreu, Alberto Seixas Martins Torres e Quintino Bocaiúva.

Foi durante a administração deste último que o Estado, atravessou séria crise financeira, “chegando-se a cogitar da anexação do Estado à União como única solução para debelar a crise”¹.

Tentando contornar a difícil situação financeira, o Governo do Estado solicitou um empréstimo de três mil contos para resgatar a hipoteca existente com o Banco Comercial, da ordem de mil contos e, para pagar os atrasados do funcionalismo, da ordem de dois mil contos.

Por outro lado, necessitando de numerário para efetivar as transferência da capital para Niterói, Quintino Bacaiúva vendeu o Palácio Rio Negro ao Banco da República, em l0 de agosto de l9O3.

Tem então início a tradição de veraneio dos Chefes de Estado brasileiros em Petrópolis, sendo interessante assinalar, conforme comenta Walter Bretz, “que antes de ser adquirido o Palácio, o Marechal Manuel Deodoro da Fonseca esteve em Petrópolis, em l890, residindo à Rua General Osório, 57; Prudente de Moraes e Barros passou aqui o verão de l895, hospedando-se na chácara do Visconde da Penha, à Rua Palatinado e Manuel Ferraz de Campos Sales esteve três verões em Petrópolis, hospedando-se no Palacete do Barão do Catete, situado à Avenida Koeler”².

Como a compra do Palácio efetuou-se na gestão do presidente Rodrigues Alves, foi este quem oficializou o verão presidencial em Petrópolis e, consequentemente inaugurou a praxe dos despachos no Palácio Rio Negro.

A partir de então veranearam em nossa cidade os seguintes presidentes: Afonso Augusto Moreira Pena (l908 e l909), Nilo Paçanha (l9l0), Hermes da Fonseca (1913 e l914), Venceslau Brás (l9l7 e l9l8), Epitácio Pessoa (l920,l92l e l922), Arthur Bernardes (l924,l925 e l926), Washington Luís Pereira de Sousa (l927 e l930), Getúlio Vargas (l931 a 1945 e 1951 a 1954), Eurico Gaspar Dutra (1946 a 1951), Juscelino Kubitschek (l956, l957 e l958), João Belchior Marques Goulart (apenas l8 dias) e o Marechal Costa e Silva (l968), encerrando este último os veraneios presidenciais no histórico palácio.

Alguns destes presidentes tornaram-se dedicados amigos e benfeitores de nossa cidade, sendo muitos responsáveis por importantes realizações.

Assim, um dos presidentes que mais se afeiçoaram a Petrópolis, mais precisamente a Itaipava, foi Nilo Peçanha que adquiriu de D.Maria Júlia Clavery, uma extensa propriedade naquela localidade.

Nesta propriedade, conhecida carinhosamente como a “Fazendola de Itaipava”, o ilustre político recuperava suas energias, conforme nos informa Carlos Maul “cultivando com as próprias mãos aquela rizonha gleba”6.

Homem de fino trato, Nilo fez entre os moradores locais e das regiões vizinhas, vários amigos e correligionários, entre os quais o Ten. Cel. Sebastião Soares de Azevedo Marcial, proprietário de terras na região; o Ten. Cel. Jeronymo Ferreira Alves, comerciante, industrial e também proprietário de terras em Itaipava e Domingos Nogueira, com passagem pela política onde exerceu os cargos de vereador, presidente da Câmara e prefeito interino, de 2 a 4 de maio de l9l7.

Jorge Namé, de saudosa memória, no discurso que pronunciou, em homenagem ao lº Centenário do Município, recordou, com grande emoção “a transformação da cadeia local em uma escola primária, transformando assim a idéia de punir para a de educar e instruir”7, pelo laborioso político, a quem a localidade de Pedro do Rio, ficou também devendo sua iluminação elétrica, inaugurada em l2 de dezembro de l9l5.

O Marechal Hermes da Fonseca, casou-se com D. Nair de Teffé, em cerimônia realizada a 8 de dezembro de l913, no Palácio Rio Negro.

A respeito do importante acontecimento, a Tribuna de Petrópolis teceu os seguintes comentários: ” A cerimônia civil do casamento foi presidida pelo Sr. Ticiano Teixeira Tocantins, 1º juiz de paz, tendo como escrivão o Sr. Ten. Cel. José Caetano dos Santos, oficial do registro civil e realizou-se no salão de recepções do Palácio.

A cerimônia religiosa foi celebrada pelo Sr. Cardeal Dom Joaquim Arcoverde, Arcebispo do Rio de Janeiro, coadjuvado pelos Monsenhores Theodoro Rocha e Macedo da Costa e realizou-se no salão de despachos do Palácio, onde fora armada uma capela, ricamente ornamentada…

Foram padrinhos, no civil e religiosos a Sra. Álvaro de Teffé, o senador Pinheiro Machado, o deputado Fonseca Hermes, por parte do noivo e a Sra. Pinheiro Machado e os Senhores Álvaro e Oscar Teffé, por parte da noiva.

Os noivos recepcionaram os convidados com serviços de Buffet e Buffette, fornecidos pela Confeitaria Paschoal, enquanto nos jardins do Palácio faziam-se ouvir as bandas da 55ª de Caçadores e do Corpo de Marinheiros Nacionais…”³.

Este foi na realidade o maior acontecimento social ocorrido no Palácio Rio Negro, com extraordinária repercussão a nível nacional e internacional.

No palácio, o Marechal Hermes da Fonseca, muito preocupado com os conflitos no Ceará, onde as disputas coronelísticas se agravaram quando o padre Cícero Romão, forte aliado do coronel Flório Bartolomeu, resolveu participar dos mesmos, realizou importantes reuniões para tratar do mesmo, com o Senador Pinheiro Machado e o Deputado Fonseca Hermes.

Numa delas, o Presidente enviou um telegrama ao General Torres Homem, Inspetor da 4º região militar, “concitando-o a envidar esforços no sentido conciliatório e pacificador, para impedir que se generalize a conflagração já existente naquele Estado”4.

Após deixar a presidência, fixou residência em Petrópolis, aqui falecendo em 9 de setembro de l923 e aqui sendo sepultado no Cemitério Municipal. Morreu pobre o excelso brasileiro, que deixou para a esposa apenas a pensão do seu soldo como militar, já que a única casa que possuía no Rio de Janeiro ele já havia doado a seu filho doente, Manuel Deodoro Hermes da Fonseca.

Outro dedicado amigo de nossa cidade foi o Presidente Epitácio Pessoa. A ele Petrópolis ficou devendo a construção do prédio dos Correios e Telégrafos, o Quartel do

1º BC, atual Batalhão Pedro II, na Presidência e a Estrada Rei Alberto, ligando nossa cidade a Teresópolis, sem falar no sublime ato da revogação do banimento da família imperial, e, conseqüente repatriação dos despojos do Imperador e da Imperatriz, que, em conseqüência foram sepultados na Catedral de Petrópolis.

Afastado de suas atividades, Epitácio Pessoa escolheu Petrópolis para morar, residindo na Granja Nova Betânia, em Nogueiras, onde faleceu em l3 de fevereiro de l942.

Washington Luís Pereira de Souza, deixou sua marca em Petrópolis, ao inaugurar em 25 de agosto de l928, a Estrada Rio-Petrópolis, data em que recebeu do governo petropolitano o honroso título de 1º Cidadão Honorário de Petrópolis.

O Presidente Getúlio Vargas foi desde l93l hóspede da cidade, conquistando desde logo a estima e a simpatia dos petropolitanos.

Quando foi vítima de um acidente, nas proximidades do quilômetro 53 da estrada Rio-Petrópolis, motivado pelo deslocamento de um bloco de rocha que caiu sobre a capota de seu automóvel, vitimando seu ajudante de ordens e ferindo-o gravemente, bem como a sua esposa, o povo petropolitano acompanhou com emoção e angústia a recuperação do simpático casal.

Seu hábito de realizar caminhadas pelas ruas da cidade , prestigiar todos os acontecimentos importantes da mesma, bem como jogar “golf” na Fazenda Santo Antônio, em Itaipava, explica a estima que lhe dedicavam os petropolitanos.

Presidiu a inauguração do centro de educação física do lº BC, a inauguração da Creche do Itamarati e foi o orador oficial da solenidade de sepultamento dos despojos de Suas Majestades o Imperador Dom Pedro II e a Imperatriz Dona Teresa Cristina, realizada a 5 de dezembro de l939, na Catedral São Pedro de Alcântara.

Getúlio Vargas foi ainda o criador do Museu Imperial, atendendo aos eficientes esforços do Dr. Alcindo Sodré neste sentido, inaugurado-o em l6 de março de l943.

Durante sua estada no Palácio Rio Negro, assinou importantes decretos, merecendo destaque o de número 2.96l, de 20 de janeiro de l94l, que criou o Ministério da Aeronaútica, determinando a fusão das aviações Naval e Militar em uma coorporação única, subordinada ao novo ministério, sob a denominação de Forças Aéreas Nacionais e o de número 4.l24, de 2 de março de l942, dispondo sobre a criação da Base Aérea de Natal, fator decisivo para a vitória final dos aliados na 2ª Guerra Mundial.

A notícia de seu trágico desaparecimento provocou grande comoção na cidade. Houve paralisação da indústria e do comércio, “foram organizadas passeatas e alguns grupos mais exaltados arrancaram as faixas dos partidos rivais e as queimaram”5.

O chefe do executivo municipal numa justa homenagem àquele que havia conquistado a admiração e o respeito dos Petropolitanos, decretou luto oficial por trinta dias.

Em 4 de fevereiro de l957, o Presidente Juscelino Kubitschek, iniciou a temporada de verão em Petrópolis. Sempre sorridente e atencioso com todos, logo se impôs à simpatia dos petropolitanos.

Em l6 de fevereiro do mesmo ano, inaugurou no Hotel Quitandinha, a IX Exposição de Flores e frutos e foi recepcionado pelo Governador do Estado do Rio, Miguel Couto Filho, no Palácio de Itaborai.

A l9 de fevereiro, visitou o lº Batalhão de Caçadores, sendo homenageado pelo Cel. Manuel Mendes Pereira.

Em 25 de fevereiro, inaugurou no Palácio da Princesa, a lº Exposição do Instituto Histórico de Petrópolis, comemorativa do centenário de elevação à cidade, “demonstrando na ocasião grande interesse pelas coisas do passado de Petrópolis, demorando-se longamente no exame da planta primitiva de Petrópolis, feita pelo Major Júlio Frederico Koeler”6.

Foi no Palácio Rio Negro, que no dia 28 de fevereiro de l957, o Presidente Kubstichek, fiel ao seu binômio “Energia e Transporte”, criou, por escritura pública, a então Central Elétrica de Furnas S.A., participando, deste modo o Governo Federal, maciçamente e de forma direta, no suprimento de energia elétrica à Região Centro-Sul do país.

Em setembro de l957, Juscelino Kubstichek, voltou a Petrópolis, especialmente para presidir as solenidades do Centenário da Cidade, inaugurando o Obelisco e a Exposição Histórica e Industrial, organizada pela Prefeitura Municipal de Petrópolis e Associação Comercial e Industrial de Petrópolis, no Palácio de Cristal.

Um outro destaque do veraneio do Presidente Kubitschek em nossa cidade, naquele ano, foi a consubstancial ajuda que D.Sara Kubstichek prestou à Casa da Providência e, consequentemente à cidade. Recebendo no Rio Negro a Irmã Luiza Eppinghaus que se fez acompanhar das escritoras Dinah Silveira de Queirós e Lúcia Benedetti, a lº Dama fez com que as Pioneiras Sociais enviassem um caminhão repleto de alimentos àquela Instituição e, posteriormente, veio a ordem de pagamento de um cheque de Um Milhão de Cruzeiros à mesma.

A mudança da capital para Brasília, praticamente inviabilizou as verões presidenciais em Petrópolis. O Palácio Rio Negro, restaurado e aberto ao público, continua reverenciando a memória daqueles que fizeram a sua história.

Referências:

1 – TRIBUNA DE PETRÓPOLIS, Petrópolis, l5 de janeiro de l903.
2 – BRETZ, Walter. In O Comercio, l2 de fevereiro de l927.
3 – TRIBUNA DE PETRÓPOLIS, Petrópolis, 20 de dezembro de l913.
4 – _____________., Petrópolis, 21 de dezembro de l913.
5 – _____________., Petrópolis, 26 de agosto de l954.
6 – _____________., Petrópolis, 26 de agosto de l954.