PENSANDO A CIDADE…

Maria de Fátima Moraes Argon

“A união entre o passado e o futuro está na própria idéia de cidade, que a percorre tal como a memória percorre a vida de uma pessoa e que, para se concretizar, deve conformar a realidade, mas também conformar-se nela. E essa conformação permanece em seus fatos únicos, em seus monumentos, na idéia que temos deles…”.(Aldo Rossi. A arquitetura da cidade. 1995).

Petrópolis constitui-se numa referência fundamental pela sua trajetória de cidade fundada e “vivida” por D. Pedro II e, mais tarde, como capital do Estado do Rio de Janeiro a sua paisagem sofreu e sofre uma série de transformações diárias que vão dando lugar a novos “lugares”. Podemos citar, por exemplo, a residência do Barão de Quartim que foi demolida para dar lugar ao Edifício Quartim; a antiga casa onde funcionava a Biblioteca Municipal que deu origem ao prédio do Centro de Cultura Raul de Leoni; o antigo Hotel Max Meyer, atual Edifício Minas Gerais, e os sobrados da Praça D. Pedro II que deram vez ao Edifício Arcádia.

Tais mudanças são resultados das exigências, contradições e dos conflitos inerentes à gestão da cidade, lembrando que muitas delas foram e são feitas em nome do progresso e da modernidade.

É preciso destacar que estes símbolos da cidade são testemunhos de modos de vida e experiências, e que as imagens são testemunhos desta transformação. Portanto, é preciso que os cidadãos se reconheçam nestes sinais e registros do passado, e não que tenham apenas as lembranças subjetivas, pois isto acaba por conferir aos “donos do poder” e aos especialistas a capacidade exclusiva de decidir sobre os símbolos que devem ou não ser preservados.

Em Petrópolis – não diferentemente do que ocorreu em outras cidades – foi consagrado e definido o que era digno de ser preservado e de integrar o patrimônio da cidade – as sedes do poder político, religioso e militar, classes dominantes, com seus feitos e modos de vida. Além dos bens móveis e imóveis e, constituem também o Patrimônio, os documentos escritos e iconográficos (particularmente os de suporte fotográfico).

A falta de documentos sobre um determinado grupo ou ação acaba por apagar marcas importantes do cotidiano e da experiência social vivenciada por grandes contingentes da população, que se torna alijada da reflexão para constituir-se em cultura.

Cabe ao governo municipal a implantação de projetos que resultem na ampliação de registros relativos à memória e à história, como por exemplo, um programa de atividades de registro fotográfico sistemático da cidade e visitas e passeios monitorados a edifícios públicos, logradouros ou espaços da cidade de significação histórica e social, que possibilitem uma reflexão crítica sobre a história de Petrópolis.

O Arquivo Histórico do Museu Imperial conserva um importante acervo iconográfico da cidade de Petrópolis, abrangendo a década de 1850 até a década de 40 do século XX, no qual podemos apreciar construções como as pontes de cimento do nosso Centro Histórico, os prédios do Edifício Profissional e da Escola Santa Cecília.

A documentação produzida pelo poder público municipal relativa às décadas seguintes, de 1950 até os dias de hoje, está sendo preservada? Há registros da abertura das ruas 16 de Março e Irmãos D´ Ângelo e, mais recentemente, da construção da nova Rodoviária?

“A cidade é sempre um organismo em transformação, pois, a cada instante, há algo mais que o nosso campo de visão não consegue alcançar; por essa razão, quando se busca uma cidade guardada na memória de alguns atores sociais, “constrói-se” uma cidade de determinado momento. Cada cidadão tem vastas associações com alguma parte da cidade, e as imagens que cada um guarda estão impregnadas de lembranças, significados…”.(Francisco Alcides do Nascimento. Em busca de uma cidade perdida. 2002).