PÉROLA DO ECLETISMO

Luciano Cavalcanti de Albuquerque, Associado Correspondente

 

O ecletismo na arquitetura pontificou entre nós na virada do século XIX para o XX. Com o progresso da indústria começaram a surgir grandes construções estruturadas em ferro, o que agilizava a subida de edifícios, geralmente comerciais, cujo dinamismo produtivo impedia que ficassem “parados” no tempo.

Com a estrutura pronta fechavam-se paredes com alvenaria de tijolos maciços, cobertos com reboco decorado com diversos tipos de enfeites, escolhidos por catálogos vindos dos países mais desenvolvidos como Reino Unido, Alemanha, França e EUA.

Nesses catálogos havia de tudo, escadas das mais variadas formas, janelas as mais mirabolantes, portas de todo jeito, isso para se falar apenas da serralheria e da madeira.Vitrais espetaculares eram oferecidos ao novo mundo empreendedor, uma sorte de enfeites como frontões triangulares, coruchéus, taças, flores, tudo em argamassa dura também estruturada em ferro.

E os edifícios viraram verdadeiras vitrines desses artefatos, alguns até “abarrocados” por tanta ornamentação,

Muito criticado pelos nossos primeiros arquitetos modernistas, o estilo caiu em quase desgraça, pois a nova ordem arquitetônica preconizava a limpeza das formas, a funcionalidade sem artifícios desnecessários, panos de vidro em fachadas para, melhor aproveitar a iluminação natural, e telhas substituídas por lajes de concreto armado, além, é claro, de algumas criações brasileiras desenvolvidas aqui para ornamentar as mais variadas fachadas.

Muitos exemplos poderiam ser citados, como os Teatros Municipais do Rio de Janeiro e de São Paulo, o, infelizmente, demolido Palácio Monroe, nosso antigo Senado Federal, além de tantos e tantos outros, que poderiam ser esmiuçados em outro artigo.  Projetos de Arquimedes Memória, Oliveira Passos, Ramos de Azevedo, Souza Aguiar, deram o tom eclético à arquitetura brasileira do período.

Entretanto encontramos, para exemplificar, na Rua do Imperador em Petrópolis, uma pérola eclética digna de nota e em muito bom estado, datada, pela prefeitura, como sendo de 1910, pertencia a Manoel Joaquim da Costa e no início dos anos 50 do Século XX foi transferida para Itatiaia Companhia de Seguros.  Em sua loja funcionou, até bem pouco tempo, a tradicional casa A Predileta desde o início dos anos 30, também do século XX.

Todavia não possui o referido edifício esse exagero de decoração quase obrigatório nessas construções: o nº 906, elegante edifício com cinco pisos, lojas no térreo, como convém em rua de setor financeiro; nos outros andares tem uma decoração variada, onde não encontramos dois pavimentos iguais, portas e janelas com desenhos diferentes, estuques em relevo, dando à fachada um aspecto da variedade de elementos decorativos em disponibilidade no mercado internacional. Vale dizer que o empenhado arquiteto idealizador, deve ser José Soares da Silva Sobrinho, o mesmo construtor que assina projeto de 1926, onde, modificando o telhado, inclui o último pavimento, e ainda assim, nunca descambou para o exagero.

Figura-1---Fachada-Imperador-906-para-site

figura-2-modificacao-telhado-imperador-906-para-site