PESQUISA HISTÓRICA II – AS ORIGENS DE SÃO JOSÉ

Carlos e Jany Limongi, Associado Titular falecido e Associada Emérita

4. As origens de São José:

As pesquisas históricas são uma atividade apaixonante e infindável. No meio da caminhada, aparecem misteriosas encruzilhadas que são um novo desafio a ser vencido.

As dificuldades em encontrar novas fontes, o penoso trabalho de leitura, muitas vezes, antagônico, a perplexidade diante de certas afirmações, tudo isso faz da pesquisa atividade sumamente complexa e altamente comprometida com o que expressam os documentos.

As origens de São José constituem tema que tem três partes e ainda está incompleto. A cada passo, encontramos dúvidas que só o tempo e o trabalho nos proporcionarão as soluções. Até o dia de hoje, não tínhamos idéia clara sobre o tipo de dependência que São José teve, no passado, em relação à Vila de Cantagalo. Alguns historiadores cautelosos alegaram não terem encontrado documentação suficiente para esclarecer esta vinculação.

Dias atrás, esta era também a nossa posição. Entretanto, sabemos agora, graças a uma reprodução do “Termo de Declaração e Demarcação dos Limites da Vila de São Pedro de Cantagalo” que , sem dúvida, São José, em grande parte, estava dentro do referido Termo, desde 1814, quando a Vila em questão foi criada. É bem verdade que, pela leitura do Alvará, se conclui que somente os territórios situados à margem direita do Rio Preto pertenceram à Cantagalo, ficando as terras da margem esquerda do Rio Preto com a Freguesia de Inhomirim e o seu segundo Distrito sobre o Termo da Vila de Pati de Alferes.

Encontramos vários documentos que foram levados à Comarca de Cantagalo, o que comprova a extensão de sua jurisdição sobre São José.

A História nos mostra que as divisões administrativas da Igreja, realizadas para dar atendimento às populações, de modo geral, prevaleceram, sendo adotadas pelo Governo na Administração Pública. Mas nem sempre as coisas aconteceram assim. Alguns Presidentes da Província do Rio de Janeiro preocupados com a repetição de nomenclaturas e com a variação de dependências, tentaram criar instrumentos legais que viessem por fim a tais situações.

A existência dos Distritos Eleitorais que criavam novo tipo de dependência aumentava mais ainda a confusão. O Distrito Eleitoral de São José e de Cantagalo era originalmente em Santo Antônio de Sá, cuja origem era bem anterior. Neste caso, para evitar o deslocamento dos eleitores para votarem em Santo Antônio de Sá por caminhos extremamente difíceis. A solução foi criar dois novos Distritos Eleitorais: um em São José e outro em Cantagalo, podendo os eleitores da área escolher qual o mais conveniente para a sua filiação, comunicando o fato à Câmara da sua Jurisdição.

Por questões políticas sociais e até mesmo religiosas de devoção, foi difícil instituir uma disciplina uniforme para todas essas questões que, em cada região assumiam matizes diferentes. Era sempre mais fácil trocar o nome da localidade do que trocar o Santo da devoção.

5. Quadro das dependências de São José do Rio Preto:

As dependências e as preponderâncias que as localidades vão tendo umas das outras, de acordo com o curso da história, vão ligando e desligando temporariamente as vidas dessas comunidades, formando um emaranhado, muitas vezes difícil de descobrir o fio da meada. A pesquisa histórica traz no seu bojo uma situação de mudança permanente. Cada época tem, seqüencialmente, as suas características próprias e o fio da História se faz de mudança em mudança.

Os ciclos evoluem e, às vezes, até se repetem.

Quando se usa a pesquisa para o levantamento da Memória histórica de uma região, acaba-se descobrindo que este estudo nada mais é do que o exame das diversas alterações históricas, sociais, econômicas e geográficas das regiões enfocadas.

Outra verdade que a gente aprende na rota da pesquisa é a coexistência dos fatos. Nada acontece isoladamente. É impossível estabelecer um sistema fechado com estudos isolados e estanques. A documentação sempre é a fonte de informações que se entrecruzam numa cadeia de causas e conseqüências que, a todo o momento, nos atira para fora dos limites a priori instituídos.

Assim, no levantamento da Memória de São José, encontramos o nosso atual território circunscrito em imenso espaço desconhecido na Província do Rio de Janeiro: “Certões Ocupados por Índios Brabos” que foi o nosso primeiro marco de referência, conforme já informamos. Mas, para fazer um resumo mais objetivo das dependências da povoação rio-pretana, vencendo as dificuldades que acima dispomos, chegamos à ordem cronológica que nos pareceu mais próxima da realidade, remontando ao período em que as freguesias da baixada fluminense estenderam a sua hegemonia sobre as terras da serra acima:

De 18 de janeiro de 1569 a 12 de janeiro 1775, São José foi dependente da Freguesia de N. S. da Piedade de Magé;

De 13 de janeiro de 1755 a 09 de março de 1814, foi dependente da Freguesia de N. S. da Piedade de Inhomirim;

(pela Carta Régia de 20-09-1813, foi criado o Curato de São José da Serra Acima, na Freguesia do Inhomirim.);

(pelo Alvará de 09-03-1814, foi criada a Vila de São Pedro de Cantagalo, passando o Curato de São José da Serra Acima a pertencer à Nova Vila até 15 de janeiro de 1833.);

(pela Resolução n. 39, de 25-11-1815, foi criada a Freguesia de São José da Serra, posteriormente, denominada de São José do Rio Preto.);

(pelo Decreto de 15 de janeiro de 1833, na Regência Trina Permanente, foi criada a Vila de Parayba do Sul, sendo incorporada ao seu território a Freguesia de São José do Rio Preto, perdurando esta situação até 07 de dezembro de 1874.);

(A Lei Provincial n. 153, de 07-05-1839, criou a Freguesia de Cebolas e o Curato de Matosinhos, ambos desmembrados da Freguesia de São José do Rio Preto.);

(A Lei Provincial n.07, de 22-05-1842, criou a Freguesia de N. S. de Aparecida, desmembrando-a da Freguesia de São José do Rio Preto.);

(A Lei Provincial n. 397, de 20-05-1846, criou a Freguesia de São Pedro de Alcântara, desmembrada da Freguesia de São José do Rio Preto.);

(A Lei n. 811, de 06-10-1855, criou a Freguesia de N. S. da Conceição de Bemposta, desmembrando-a da Freguesia de São José do Rio Preto.);

(A Lei Provincial n. 2068, de 07-12-1874, criou a Vila de Sapucaia e a Freguesia de São José do Rio Preto foi desmembrada da Vila de Parahyba do Sul e anexada ao novo Município de Sapucaia.);

De 08 de dezembro de 1874 a 08 de junho de 1892, foi dependente da Vila de Sapucaia;

(Pelos Decretos n. 01, de 08-05 e de n.01-A, de 03-06, ambos de 1892, a Freguesia de São José do Rio Preto foi incorporada ao Município de Petrópolis, como seu 5º Distrito e

Pela Lei Estadual n. 1255, de 15 de dezembro de 1987, o Distrito de São José do Rio Preto foi emancipado, criando-se um novo município, desmembrado do Município de Petrópolis e que teve a denominação de São José do Vale do Rio Preto.