“… a cultura é mais do que as belas artes. É memória, é política, é história, é técnica, é cozinha, é vestuário, é religião, etc…”
Palácio de Cristal, Palácio Rio Negro, Casa de Santos Dumont e muitos outros estão sempre presentes no material de propaganda e divulgação da cidade, nos discursos dos políticos, nos slogans, nos anúncios publicitários. Vira e mexe são restaurados e postos à visitação pública como símbolos dignos de preservação. Recentemente, o Palácio de Cristal e a Casa de Santos Dumont mereceram atenção do governo municipal.
Certamente é inegável a importância desses bens, mas no tocante às políticas de preservação do patrimônio histórico, essas ações “isoladas” quase sempre guardam a marca da improvisação ou da manipulação e do uso político da cultura. É preciso estabelecer uma política de preservação através do reconhecimento, proteção, tombamento, valorização e divulgação do seu patrimônio histórico, artístico, arqueológico e ambiental.
O patrimônio histórico da nossa cidade não é constituído apenas de bens imóveis. Igualmente significativos são os seus bens da cultura material, os objetos de arte, as coleções de documentos escritos e iconográficos (particularmente os de suporte fotográfico), periódicos etc.
A preservação dos bens arquitetônicos é importante e inquestionável, mas é preciso que haja projetos que despertem o interesse da população pela história da cidade e que haja meios para ampliar o universo de registros relativos à memória e à história da cidade. É preciso refletir sobre o critério de preservação dos documentos, objetos e monumentos, não deixar que eles sejam meros objetos de reverência a uma memória mítica do passado, mas sim perceber o significado do passado como experiência coletiva de formação da cultura e da sociedade.
O patrimônio documental da nossa cidade tem sido valorizado, reconhecido e preservado? Basta ver a situação do Arquivo Público Municipal para se obter a resposta. No último governo, o Arquivo deixou de ficar administrativamente subordinado à Secretaria de Cultura (desde a sua criação em 1977) para se vincular à Secretaria de Educação, com a alegação de que esta possuía maiores recursos financeiros. Sem entrarmos na questão se tecnicamente é recomendável ou não, visivelmente percebemos e lamentamos que a cultura continue ocupando um lugar sem destaque, num plano secundário e as verbas sempre escassas. Recentemente, nesta atual administração, o Arquivo voltou a pertencer a Fundação Cultural Petrópolis. Será que agora o Arquivo deixará de ser apenas um “apenso” da Biblioteca Municipal? Terá uma estrutura administrativa compatível com as suas necessidades? Contará com unidades orçamentárias?.
Toda vez que um bem imóvel é restaurado, que um livro é preparado, o primeiro passo é a busca dos registros documentais. Só para citar três exemplos que se ocuparam: da restauração do Palácio de Cristal, das obras no prédio do Fórum e da publicação do livro sobre os Correios, recorreram aos registros escritos e fotográficos, conservados no Arquivo Histórico do Museu Imperial, para reunir as informações necessárias para a construção e reconstrução dos fatos. Isto nos leva a questionar se tem havido preocupação em preservar os registros da nossa história do período mais recente, se há uma atividade de registro fotográfico sistemático da cidade de Petrópolis, se há projetos, como a história oral, através de coleta de depoimentos relativos à vida cotidiana da cidade, à memória do trabalho fabril e de movimentos sociais.
Não há como a cidade de Petrópolis, candidata a Patrimônio da Humanidade, ficar a mercê da sensibilidade, dedicação e interesse de pessoas – graças a Deus existiram e ainda existem – que guardam documentos sobre a cidade, pois apesar do inquestionável valor, a sua acumulação e a sua guarda são norteadas pelo interesse de cada um e pelas atividades que exercem, portanto seria necessário também somar a isto um registro amplo e definido por um projeto técnico que traçasse quais os objetivos a serem alcançados. Podemos citar o Acervo Histórico Gabriel Kopke Fróes, Acervo Joaquim Eloy dos Santos e Acervo Rodolfo Haack.
Um outro acervo digno de nota e de exemplo é a Coleção Fotográfica de José Kopke Fróes adquirida, em 1991, pelo Museu Imperial. Descendente de tradicional família petropolitana, exerceu vários cargos, dentre eles, bibliotecário da Biblioteca Municipal de Petrópolis, presidente da Academia Petropolitana de Letras e teve forte atuação na imprensa, sobretudo na Tribuna de Petrópolis.
Estudioso e conhecedor da história de Petrópolis, colecionou fotografias e postais de fotógrafos como Henrique Kopke Júnior, Jorge Henrique Papf, Guimarães e algumas de sua própria autoria – significativos dos eventos históricos e de aspectos locais, referentes ao final do século XIX e meados do século XX: fábricas, paisagens, enchentes, comércio, arquitetura etc. Segundo um depoimento de sua filha, ele tinha receio de que mais tarde ninguém pudesse identificar as imagens, assim na maioria das fotografias há legendas, onde José Kopke Fróes não só dá uma descrição detalhada da imagem como, também, expõe sua opinião e faz criticas. O valor da Coleção Fotográfica de José Kopke Fróes é inestimável, como exemplo, há 2 fotografias da praça Princesa Isabel que a registram em dois momentos diferentes, a primeira sem o monumento e a segunda com o monumento. Delas podemos extrair diversos dados referentes à praça, ao monumento (que já foi objeto de estudo do nosso historiador Francisco de Vasconcellos em sua obra Júlio Frederico Koeler: A dura conquista da praça), à residência da família Grandmasson (demolida e depois no mesmo local construída a residência de Eduardo Simão, até hoje existente) e ainda identificar outros aspectos.
Outras coleções, conservadas no Museu Imperial, merecem destaque:
Coleção Agência “A Noite”, sucursal de Petrópolis, compreende cerca de 800 fotos das décadas 40, 50 e 60 do século XX, e registra os eventos significativos da cidade, como eleições, festas cívicas, desfiles, esportes, tipos populares, acidentes, enchentes, carnaval etc. e vistas da cidade.
Coleção Vera Bretz que contém documentos referentes a Walter João Bretz, filho de comerciantes estabelecidos em Petrópolis. Ocupou diversos cargos na cidade e teve forte participação na imprensa local. Abrange o período de 1847 a1943.
Arquivo da 67ª Delegacia de Polícia de Petrópolis. Trata-se de documentação de valor informativo para a vida social da cidade, uma vez que todas as iniciativas tais como fundação de clubes, associações, partidos, sindicatos etc., dependiam de autorização policial bem como a realização de atos cívicos e sociais. Abrange o período de 1895 a1980.
Coleção João Duarte da Silveira. Trata-se de documentos na sua maioria de interesse para a história de Petrópolis, colecionados pelo leiloeiro João Duarte da Silveira que ocupou vários cargos em Petrópolis, foi membro do Instituto Histórico de Petrópolis e escreveu vários artigos sobre a cidade. Abrange o período de 1804 a 1941.