PETRÓPOLIS: POVO & HISTÓRIA II
Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga
O senhor Geraldo Pires Antunes (74), que nos relatou o declive do piso próximo ao Obelisco, também nos informou que a retirada dos bondes da CBEE em 1939, foi observada por muitos na época, como uma manobra do prefeito-interventor Yeddo Fiúza, para favorecer empresários de transporte que se organizavam na época, com seus lotações. O que de certo modo resultou posteriormente no monopólio dos transportes por João Varanda, recém-chegado de Minas, já a partir do mesmo ano (T.P. 1939), com sua Rodoviária Sul Petrópolis, posteriormente chamada de Cia. Rodoviária de Transporte.
Geraldo, um dos poucos mecânicos experientes e de tradição, que se criara no Alto da Serra, aprendera seu ofício na oficina de “Niquinho”, Antonio de Souza Lordeiro que era sócio de seu irmão “Chiquinho”, corredor do Trampolim do Diabo nos anos 40. Estas baratinhas ainda chegaram a fazer corridas em Petrópolis, no final dos anos 40, com Chico Landi, Cassini e outros.
A oficina localizava-se na Rua Teresa, e Niquinho já parara de correr, e aplicava sua experiência examinando motoristas em Petrópolis para serem autorizados oficialmente à condução.
Para Geraldo, as oficinas foram verdadeiras escolas que profissionalizaram tanto para direção de autos como principalmente para a mecânica inúmeros petropolitanos aficionados do automobilismo, em um processo que se iniciara com o famoso Irineu Corrêa, nos anos 30.
Com o crescimento demográfico nos anos 30 em Petrópolis, corria a preocupação com a “vadiagem” que se fazia representativa principalmente com o ócio dos jovens. Muitos filhos de operários com a nova legislação ficaram impedidos de trabalhar nas indústrias. Muitas famílias ofereciam seus filhos para oficinas com o objetivo de se tornarem aprendizes e profissionalizando-se mais tarde.
Muitos dos também famosos “motoristas de praça” surgiram neste período, já que era necessário noções de mecânica para ganhar sua “carta” de condutor.
Geraldo lembra também que o Abrigo Oscar Weinschenck da Paulo Barbosa fora construído em meados dos anos 40 para tornar-se uma “mini-rodoviária”, para os ônibus da Sul Petrópolis, próxima ao posto-oficina e garagem de FILPO, que fora adquirida por Varanda e passava a ser FILPAN, já que ao lado da estação ferroviária ficavam os ônibus da ÚTIL e depois também os da ÚNICA, formando outra Rodoviária com a extensão da calçada da Estação.
Segundo Geraldo, Varanda ainda transformou as oficinas de bondes da CBEE na Rua Padre Siqueira (atual Única-Fácil), na Fábrica de Carrocerias Jová, passando a fabricar os famosos “caras-chata”, onde adaptava o motor e fazia carrocerias sobre os mesmos motores dos chassis de caminhões americanos da Internacional (TP 07/04/42), e chegava também a comercializá-los no Rio.
Varanda não possuiu somente o monopólio do transporte para os bairros da cidade, foi proprietário de lojas de peças, postos de gasolina, como o antigo Posto das Onças na subida da serra, atualmente Posto do Motel Ítalo. Foi dono também da agência e representação da FORD em Petrópolis, com o posto na subida da Dr. Nelson de Sá Earp, onde atualmente é a academia e loja de equipamentos elétricos.
Geraldo é quem salienta: “o homem era praticamente dono de Petrópolis, tamanha importância no mundo empresarial do automobilismo”. Tal fato pode ser confirmado pela presença do jornal O Povo, que se transformou em órgão do PTB em Petrópolis, com a presença de Silvio de Carvalho como redator e editor do mesmo nos anos 50.
Para Geraldo, outros nomes também se destacaram na época, mas foram sobrepujados. Um exemplo era de FILPO, que dominava o transporte de óleo combustível durante a Segunda Guerra, e que possuiu a oficina e posto da Rua Paulo Barbosa. Posto que foi assumido por Varanda. Renato Kreischer que também se destacou no transporte de combustível, e fundou em 45 a Viação Esperança, quando o monopólio de Varanda iniciou seu desmonte. Assim como a família Falconi, que assumiu a Cia. Rodoviária de Transporte de Varanda, posteriormente transformada em Viação Imperial.
Geraldo Antunes assinala que seu caminho como mecânico passou posteriormente para a oficina de Possato, quando foi no final dos anos 60 para a São Bernardo que posteriormente foi transformada em São Vicente, concessionária da Mercedes Benz, que fazia revisão e manutenção de ônibus e caminhões em Petrópolis.
Ele ainda se recorda que a Varig na época, procurando solucionar o problema de transporte no Galeão para seus aviões, encomendou na empresa serrana um projeto, no qual Geraldo foi auxiliar do Engenheiro Mario Muniz, o de transformação dos ônibus da SATA de locomoção em ambas as direções (o famoso duas frentes), sem contorno, com adaptação de um motor central e com duas portas de frente, exclusivamente para o Galeão. Projeto único no mundo para um aeroporto internacional.
Anos mais tarde foi contratado pela ATA para a manutenção dos potentes caminhões que conduziam as imensas caldeiras pelas estradas do país.
Profissionais produzem em seus depoimentos a memória local. Existe o dever de recuperarmos esta memória recente de nossa cidade, já que as instituições públicas se omitem.