UM PROJETO HISTORIOGRÁFICO PETROPOLITANO

Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga

Completamos este ano exatamente três décadas de criação de um desaparecido “ente” petropolitano, o “Centro de Pesquisa de História” (CEPEH), da Universidade Católica de Petrópolis.

Centro que foi fruto de convênio firmado em 05 de dezembro de 1969, entre o Museu Imperial, Instituto Histórico de Petrópolis, Universidade Católica de Petrópolis e Prefeitura Municipal de Petrópolis, sob orientação do prof. Jeronymo Ferreira Alves.

Ele ocorreu justamente na época em que a repressão policial se apresentava de forma acentuada na cidade. Época em que professores ou se demitiram ou se afastaram por serem perseguidos por simples suspeições ideológicas, tais como, Francisco Falcon, Cyro Flamarion Cardoso em 1965, entre outros.

Porém idéias sedimentaram-se e um louvável trabalho de organização na implantação de novas orientações, de atualizadas perspectivas às retenções históricas petropolitanas ocorreu, apesar de sangrias e perseguições.

Mas com a criação deste Centro, realizou-se um projeto pelos então professores-pesquisadores: Maria Amélia Porto Migüeis, Nazira Murad, José Henrique Rabaço e José Ribeiro de Assis, seguindo orientações metodológicas da professora da UFF, Universidade Federal Fluminense, Amélia Maria de Souza.

O produto resultante deste projeto intitulou-se “Considerações Sobre a Historiografia Petropolitana”, um levantamento estatístico de fôlego sobre toda produção histórica realizada e publicada no município petropolitano desde o século XIX, e que foi publicado pela Gráfica da UCP, criada para publicação de trabalhos científicos e segundo autorização dos conveniados em 1975. Trabalho historiográfico que carece de continuidade.

Mas, não seria a única obra-prima em historiografia editada em Petrópolis.

Outra com menor rigor da técnica arquivística, porém fruto das anotações e observações de um museólogo petropolitano, comprometido com o propósito da indexação, ocorreu em publicação pelo anuário do Museu Imperial também nos anos 70, tendo por base a documentação petropolitana presente no próprio Museu.

Publicação que até bem pouco tempo era utilizada como índex para a grande maioria dos pesquisadores leigos da imprensa por sua praticidade e generalização sobre os mais variados assuntos a serem pesquisados sobre Petrópolis. Um trabalho em que Geraldo Camargo com grande paciência costurara por décadas, servindo de complemento após a produção dos volumes da Comissão do Centenário de 1957. Não somente uma relação de notas de publicações como também relações produzidas pelos antigos bibliotecários da Biblioteca Municipal.

Porém, desde os anos 90 um trabalho de levantamento histórico, dados, biografias e crônicas históricas publicadas e inéditas, produzido por um historiador, que se intitulava “colecionador de fatos e acontecimentos locais”, que não era afeito a regras técnicas, somente às de fichamento de cunho positivista características aos de sua geração, foi posteriormente avaliado tecnicamente, digitado e editado pela Internet.

Referimos-nos ao único Arquivo Digital sobre Petrópolis publicado, o Acervo Histórico de Gabriel Kopke Fróes (1897/1986). Trabalho ímpar desenvolvido por Arthur Leonardo de Sá Earp há mais de duas décadas e disposto desde 1999 para consulta na rede. Arquivo que recebe uma média de até dez consultas diárias segundo registros.

Majestoso trabalho de compilação, avaliação técnica e digitalização onde Sá Earp devotou amor e profissionalismo, assim como vem realizando com o site do Instituto Histórico de Petrópolis cuja média tem se aproximado das dez consultas diárias.

Outras fontes primordiais para o desenvolvimento da consulta histórica se apresentam na Biblioteca Municipal de Petrópolis, em trabalho que foi desenvolvido por sequência a partir do proposto pelos irmãos Fróes quando esta Biblioteca estava sob a guarda da Câmara Municipal e estes eram seus bibliotecários, e em sua sequência ocorreu a continuidade por Maria Helena Avelar Palma, Yedda Lobo, Mário Pitzer e por Mariza que há quase duas décadas continua o desenvolvimento dos mesmos fichamentos e ferramentas de consulta.

Não devemos também nos esquecer que trabalho primo foi desenvolvido por Maria das Neves Krüger, competente, ex-bibliotecária da Universidade Católica de Petrópolis, não somente de coleções, como também de recortes de publicações.

Outra fonte historiográfica que não deve ser esquecida são as Atas da Câmara, desenvolvidas ao longo das últimas décadas pelo Dr. Paulo Machado com dedicação, profissionalismo e rigor técnico e que carecem de continuidade.

As citadas fontes historiográficas são essenciais para o conhecimento da história de nossa sociedade. Historiar esta historiografia não é nosso objeto, pois não é nossa formação especifica, mas apresentá-las é necessário em uma época onde as formações acadêmicas desconhecem os contextos historiográficos locais.

Este trabalho seria valorizado no âmbito acadêmico desde que se apresentasse a organização de um Arquivo Geral no município, fato que a bibliotecária Maria das N. Krüger ressaltava como fundamental para os trabalhos de pesquisas, tanto universitárias como leigas.

Importante também é observar que todos que participaram nas variadas épocas deste empreendimento o realizaram pelo mais puro altruísmo e amor à história local, sem qualquer patrocínio ou interesses.