OS QUINHENTOS ANOS DO NASCIMENTO DE SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA
Jeronymo Ferreira Alves Netto, Associado Titular, cadeira nº 15 –
Comemoramos este ano cinco séculos do nascimento de São Pedro de Alcântara, um dos mais virtuosos santos da Igreja de Cristo, que é o padroeiro do Brasil, o patrono particular de Dom Pedro II, o padroeiro de Petrópolis e também o Orago de nossa Catedral.
Para compreender São Pedro de Alcântara é necessário situá-lo no contexto histórico do século XVI. A Reforma Protestante ocorrida na primeira metade deste século, transformou brutalmente a estrutura eclesiástica e a doutrina da salvação.
A Igreja Católica, procurando deter o avanço do protestantismo, convocou o Concílio de Trento, em 1545, o qual esteve reunido até 1563, dele resultando uma Igreja reformada e modernizada.
Entretanto, é importante ressaltar que antes do grande conclave, algumas importantes providências foram tomadas pelos católicos no sentido de realizar “uma renovação da vida espiritual, através da oração, visando a permitir que os homens vivessem mais intensamente, mais ardentemente, mais individualmente, com o Salvador, n’Ele e por Ele” (1).
Neste particular destacaram-se os jesuítas, franciscanos e dominicanos, que escreveram diversos tratados de oração, traduzidos em diversas línguas.
Assim, em 1526, Santo Inácio de Loiola publicou os Exercícios espirituais, “que agrupavam, metodicamente e em boa ordem, os princípios da oração, acrescentando-lhe conselhos minuciosos, que formam uma espécie de manual de tática espiritual. Fornecem assim um sumário de uma série de meditações que, em princípio, devem executar-se em quatro semanas, e que incidem sobre o destino do homem, a vida de Cristo, a Última Ceia, a Paixão e os mistérios de Cristo ressuscitado.
Esta oração exige esforço: a cada ponto da meditação, a memória recorda os fatos, a imaginação torna-os sensíveis, a inteligência tira as respectivas conseqüências e a vontade formula decisões. Cristo é um Rei que convida a entrar no seu exército. O fiel é o cavaleiro que se entrega ao Senhor e lhe testemunha seu amor pela luta contra os maus instintos” (2).
Entretanto, outros espirituais praticavam e espalhavam o conhecimento dos restantes graus da oração, a oração de fé, conversação interior sem qualquer ruído de palavras, sentimento da presença de Deus e do contato com Deus, sem qualquer imagem, sem nada sensível, como por meio de um sentido especial e finalmente os diferentes graus de oração mística, cujos melhores tratados foram escritos por Santa Teresa d’Ávila, a reformadora da ordem das Carmelitas – O Castelo Interior (1577) e São Pedro de Alcântara – Tratado da Oração e Meditação (1556).
As orações contidas nestes tratados “permitem ao fiel comunicar-se com Deus pelo espírito e unir-se a Ele no êxtase, no arrebatamento, em que a alma é arrancada da terra. Quando volta a si , o fiel possui uma atividade transbordante a serviço de Deus, um desejo imenso de sofrer por Ele” (3).
(1) MOUSNIER, Roland. Os Séculos XVI e XVII. História Geral das Civilizações. São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1957, volume I, p. 96.
(2) Id., ibid., p. 97.
(3) Id., ibid., p. 98.
Deste modo, a oração, o movimento espiritual que se propagou entre os leigos e atingiu, em alguns, o misticismo, determinou em toda parte o recuo da Reforma protestante.
Estes apóstolos com sua penitência reparadora e oração silenciosa, foram os verdadeiros líderes da Contra-Reforma, pelo enérgico desmentido e severa resposta que deram àqueles que haviam rompido com o Catolicismo.
O melhor testemunho sobre a importância do Tratado de Oração e Meditação de São Pedro de Alcântara nos é fornecido pela rainha da Suécia, Maria Regina Cristina, protestante, convertida ao Catolicismo, que assim se manifestou sobre o mesmo: ” o livro de meditação de Pedro de Alcântara, embora mais breve do que todos os que me chegaram às mãos, é contudo o que por mais valioso tenho, pois nenhum outro produziu em mim aqueles afetos que ele em meu espírito produziu. Por ele parece-me que me esclareci no intelecto, me confirmei nas verdades católicas, e abracei a vontade no amor de Deus. Ele é uma pérola que não tem preço, porque em breves lições abrange sólidas verdades” (4).
Na verdade, a grande originalidade do Tratado de Oração e Meditação do santo de Alcântara, foi ter sido escrito com clareza e objetividade, tornando-se assim acessível às pessoas simples, sem grande cabedal cultural. Daí ter se tornado “o breviário de todo homem de oração” e ter conferido ao seu autor o título de “um dos maiores mestres na ciência da oração” (5).
(4) Cf. Tratado da Oração e da Meditação. Vozes, Petrópolis, 1951, p.12.
(5) Id., ibid., p.26.
Tecidas estas considerações iniciais que certamente nos ajudam a entender o espírito de renúncia, despojamento e mortificação de nosso glorioso padroeiro, recordemos alguns fatos de sua vida tão repleta de perfeição.
Pedro Garavito nasceu em 1499, em Alcântara, na Estremadura, fronteira com Portugal. Seu pai, Dom Pedro de Garavito, de origem nobre, era o governador da cidade. Sua mãe, Maria de Sanabria y Maldonado, também de origem nobre, era uma senhora de peregrinas virtudes.
Recebeu de seus pais uma esmerada formação moral e intelectual. Ainda bastante jovem estudou gramática, em Alcântara e, após a morte do pai, foi enviado pelo padrasto, Dom Afonso de Barrantes, com quem sua mãe se casara em segundas núpcias, à Universidade de Salamanca, onde cursou filosofia e iniciou-se no estudo do direito.
Na Universidade logo se tornou conhecido por sua inteligência invulgar, sua grande dedicação aos estudos, sua extraordinária memória, que lhe permitiu dominar toda a Bíblia. Foram entretanto suas virtudes cristãs, sobretudo sua extrema sensibilidade e ternura para com os sofrimentos do próximo, que mais encantaram seus superiores e colegas.
Rezam as crônicas que , aos dezesseis anos, assaltado por dúvidas, teve sua atenção voltada para um grupo de religiosos descalços, vestidos com um hábito marron, cingido por uma corda de três nós.
Foi então que inspirado por um sentimento de intensa instabilidade das coisas do mundo e pelo desejo, cada vez mais ardente de abraçar a vida eclesiástica, buscou a ajuda daqueles religiosos, recebendo segura orientação do Padre Francisco Fregenal, que logo percebeu “as qualidades da vocação e a têmpera de sua alma” (6).
(6) PIAT, Frei Estefânio José. São Pedro de Alcântara. Vozes, Petrópolis, 1962, p. 16.
Em conseqüência, em 1815, toma o hábito franciscano, no convento de São Francisco de Manjares, localizado na zona fronteiriça, entre Castela e Portugal.
Seu noviciado constituiu uma longa preparação, durante a qual praticou a mais dura austeridade, mortificação dos sentidos, recolhimento, contemplação e oração. Entregou-se com tal predisposição às tarefas que lhe foram atribuídas que, aos vinte anos, foi nomeado superior do Convento de Badajoz, sem ter sequer sido ordenado sacerdote. Era apenas um clérigo e o mais moço do grupo, mas logo se impôs aos demais, por suas inúmeras virtudes, sobretudo pela humildade de seu coração.
Em 1524, aos vinte e cinco anos, foi ordenado sacerdote, após muita resistência, só aceitando a ordenação por obediência. Pouco depois, designado pregador, entregou-se a estas atividades com tal disposição de espírito, que não tardou a adquirir grande renome como confessor, pregador e teólogo. Contribuiu deste modo o humilde frade, para inúmeras conversões e para que muitos fiéis “encontrassem a paz da alma e se conservassem na graça de Deus.
Entre 1525 e 1532, foi guardião dos conventos de São Miguel de Plasência, Nossa Senhora dos Anjos de Robredilho e Santo Onofre da Lapa, onde afirmam que ele teria composto o Tratado de Oração e Meditação.
No exercício de seus deveres religiosos, logo conquistou a admiração e o respeito de seus irmãos de hábito, quer por seus exemplos de oração e penitência, quer por seus santos ensinamentos, mas sobretudo pela prudência com que procurava guiá-los, “censurando-os com mansidão e falando-lhes com respeito” (7).
Eleito definidor, resolveu importantes questões concernentes à Ordem Franciscana, procurando restabelecer nesta o antigo espírito de pobreza, humildade e penitência.
Sua fama chegou até o reino de Portugal; dom João III o chama a Lisboa e, conforme nos informa Frei Justo Perez de Urbel “o reino inteiro cai embalsamado com o hálito de suas virtudes” (8).
(7) Tratado da Oração e Meditação, Vozes, Petrópolis, 1951, p. 18.
(8) URBEL, Frei Justo Perez. Año Cristiano, volume IV, Madri, 1959.
Durante sua estada em Portugal, foi conselheiro do Rei Dom João III, do Príncipe Dom Luís e da Infanta Dona Maria, que testemunhou sua gratidão a São Pedro de Alcântara, abrindo em Lisboa um mosteiro para as Clarissas e construindo o Hospital da Misericórdia.
Acostumado ao recolhimento e à mais completa austeridade, tinha dificuldades em suportar as honrarias que lhe eram tributadas pela Corte Portuguesa, já que preferia viver desconhecido, dedicando-se à oração, à penitência e à contemplação.
Talvez por isto tenha recusado, mais tarde, o convite do Imperador Carlos V, que se tinha retirado para o Convento de São Justo, após sua abdicação e desejava tê-lo como confessor e da Princesa Joana d’Áustria, que igualmente, queria torná-lo seu diretor espiritual.
Em 1538, eleito Provincial da Estremadura, por aclamação de seus confrades, pode dar vazão a seu espírito reformador. “Juntou-se aos frades menores que habitavam as montanhas áridas de Arrábida próxima à embocadura do Tejo, humildes eremitas que andavam descalços, deitavam-se em feixes de sarmento (galhos de videira) ou na terra; abstinham-se da carne e do vinho e não comiam peixe senão nos dias de festa; vivendo em celas pequenas e baixas, inteiramente consagrados à oração e aos trabalhos manuais” (9).
(9) O Cruzeiro. Órgão Oficial da Paróquia de Petrópolis e do Patronato “O Cruzeiro”. Petrópolis, 16 de outubro de 1927, Ano II, Nº 20, p. 318.
Sua presença entre estes humildes servos do Senhor, despertou nele o desejo de fundar uma Congregação ainda mais austera. Obtendo a autorização do Papa Júlio III, fundou então um Convento perto de Pedroso, na Diocese de Palência, em 1555, o qual tinha apenas trinta e dois pés de comprimento por vinte e oito de largura, iniciando neste mesmo ano a reforma dos Frades Menores descalços, ou da estreita observância de São Pedro de Alcântara.
São Pedro de Alcântara e Santa Teresa d’Ávila foram duas almas que bem se compreenderam e realizaram obras de reformas monásticas que se tornaram célebres na história da Igreja. Não há como negar que a austeridade do Carmelo reflete o espírito de Pedro de Alcântara que soube compreender e explicar todas as provações da vida espiritual da Santa de Ávila, esclarecendo seu confessor e o Bispo de Ávila de que “as visões da Religiosa provinham de Deus”, chegando mesmo a afirmar de certa feita que, “depois das verdades de fé, nada lhe parecia mais certo do que a ação do Espírito Santo, na alma da carmelita” (10).
Assim, conseguiu dissipar todas as apreensões de Santa Teresa e concitou-a a estabelecer a reforma na Ordem do Carmo, e a fundá-la principalmente sobre a pobreza.
Ao contrário do que possa parecer, o fato de São Pedro entregar-se à contemplação, à penitência, ao recolhimento e à oração, não o levaram a descuidar-se de seu apostolado. Neste sentido, realizou um trabalho missionário extraordinariamente eficaz, pois como vivia para Deus, o contato com o mundo não lhe fazia o menor dano.
Pregava as verdades fundamentais de uma forma sensível e evangélica, visando sempre a algo de imediato e prático. Passava horas incontáveis no confessionário, confortando e orientando a todos, com tal dedicação, que não foram poucos os que “por seu intermédio, acharam a paz da alma e se conservaram na graça de Deus” (11).
(10) Tratado da Oração e Meditação, Vozes, Petrópolis, 1951, p. 32.
(11) Id., ibid., p. 19.
Igualmente importante foi o seu espírito reformador. Procurando restabelecer o antigo espírito de pobreza, humildade e penitência da Ordem Franciscana, redigiu os Estatutos Provinciais, enfrentou uma série de preconceitos, prevenções e ingratidões, realizou longas excursões para visitar os conventos sob sua jurisdição e, finalmente, concluiu sua obra, já no fim da vida, quando o Papa Pio IV, ligou novamente os alcantarinos ao tronco da Observância onde, unidos aos descalços de Espanha e Portugal, constituirão por séculos o ramo mais vigoroso.
A partir daí, a reforma alcantarina progrediu rapidamente, chegando a contar 20 províncias e 22 frades canonizados. Missionários alcantarinos foram lançados em várias partes do Mundo, inclusive em nosso país, onde destacamos, nos primeiros tempos, Frei Pedro Palácios que havia ingressado na província franciscana de São José, passando mais tarde para a Custódia portuguesa da Arrábida que aderiu à reforma de São Pedro de Alcântara. Em época difícil de ser determinada com precisão desembarcou em Salvador na Bahia, onde iniciou sua atividade missionária.
Posteriormente dedicou-se à catequese dos Aimorés, tornando-se o primeiro missionário do Espírito Santo, já que os Jesuítas, estabelecidos em Vitória desde 1551, não haviam ainda iniciado as missões.
Segundo nos informa Frei Pedro Knob, OFM, “Frei Palácios incluiu também em sua atividade missionária os moradores de Vila Velha e Vitória. Como eremita que era, instalou-se numa pequena caverna ao pé do morro. Ao lado construiu um nicho para o painel de Nossa Senhora dos Prazeres, diante do qual reunia o povo, todos os dias para rezar o rosário e ensinar-lhes as verdades da santa Religião” (12).
(12) KNOB, Frei Pedro. Dois Franciscanos , pioneiros da Evangelização do Brasil. In Brasil Franciscano, Petrópolis, 1998, p. 13.
Frei Pedro Palácios faleceu em sua ermida, no Espírito Santo, em idade avançada, provavelmente no ano de 1571.
Em 1562, São Pedro de Alcântara adoeceu gravemente. Em seu leito de morte, em meio aos maiores padecimentos, ainda encontrou forças para confortar seus seguidores e dar-lhes conselhos sobre como conduzir a reforma que iniciara, de modo a consolidá-la. Por fim, às doze horas do dia 18 de outubro daquele ano, aos 63 anos de idade e 47 de vida religiosa, entregou a alma ao Criador, sendo sepultado na Igreja do convento de Arenas.
Quatro anos mais tarde ao exumarem seu corpo para transportá-lo a uma capela construída especialmente para abrigar seus restos mortais, encontraram-no em perfeito estado de conservação. A partir daí, seu túmulo tornou-se um lugar de peregrinação e o convento de Arenas, onde havia passado seus derradeiros dias, transformou-se em cenário de inúmeros milagres que levaram o Papa Gregório XV a beatificá-lo em 18 de abril de 1622 e o Papa Clemente IX a canonizá-lo em 28 de abril de 1669.
Em 31 de maio de 1826, o Papa Leão XII, atendendo a uma solicitação do Imperador Dom Pedro I, proclama São Pedro de Alcântara o Padroeiro Principal do Brasil. Vejamos o que diz o documento oficial a respeito:
“Desde que Sua Majestade Real e Imperial recebeu, sob o nome de Pedro I e sob o título de Imperador e Defensor perpétuo do Brasil, a missão de governar e dirigir esse povo quase inumerável, esteve convencido do profundo espírito de piedade e de religião, que brilha igualmente nos demais membros da Família Imperial e se persuadiu de que não poderia reger e administrar os negócios desta Nação, sem que antes se interessasse em ter um Padroeiro celestial que, por sua intercessão junto de Deus, lhe assegurasse os meios de bem agir e de bem dirigir e de bem administrar.
Não foi necessário longa reflexão. Já pela devoção especial que ele tinha por São Pedro de Alcântara, da família dos Franciscanos, que foi um prodígio de penitência e de austeridade, já por trazer, como imperador, o próprio nome do santo, ele decidiu escolhê-lo como padroeiro principal de todo o império.
Mas para que essa escolha fosse bem conforme aos costumes da Igreja Católica, Sua Majestade, em seu sentimento de respeito e amor filial, suplica a S.S. o Papa Leão XII que se digne, com sua benevolência apostólica, confirmar a escolha e conceder ao clero secular e regular de todo o império licença de celebrar a festa de São Pedro de Alcântara com ofício e missa, sob rito duplo de primeira classe, com oitava.
Depois de eu, o abaixo assinado secretário da Congregação dos Santos Ritos, apresentar o relatório, Sua Santidade dignou-se conceder o favor, conforme o pedido feito, com a condição de se observarem a rubricas a respeito” (13).
(13) Cf. Pastoral Coletiva dos Senhores Arcebispos e Bispos das Províncias eclesiásticas de São Sebastião do Rio de Janeiro, Mariana, São Paulo, Cuiabá e Porto Alegre. Rio de Janeiro, 1911, p. 619-620.
31 de maio de 1826
JÚLIO MARIA
Bispo de Óstia, cardeal de Somália vice-chanceler e prefeito da S.C.R.
José Gaspar Fatati
Secretário adjunto da S.C.R.
Em 19 de outubro de 1829, na Capela Imperial, foi lido e publicado o decreto da Santa Sé e inaugurada e benta a imagem do Padroeiro. Na oportunidade, Frei Francisco de Monte Alverne, pregador da referida Capela, um dos mais renomados de nossa oratória sacra, proferiu caloroso sermão, ressaltando as excelsas virtudes do Santo de Alcântara.
Anos mais tarde, em 1854, com setenta anos, cego e doente, por insistência do Imperador Dom Pedro II, o referido franciscano, pronuncia, na mesma Capela um segundo panegírico em honra ao santo Padroeiro. Foi na opinião dos estudiosos , seu mais célebre discurso sacro, sendo inclusive considerado por seus contemporâneos “o acontecimento literário do ano”. Novamente, o erudito franciscano põe em relevo as virtudes do Padroeiro, afirmando a certa altura:
“Deus se comprazia em derramar a enchente dos seus dons sobre o homem estupendo, que ele escolhera na sua providência para ressarcir as perdas da Igreja. Ele se deixou ver cingido com o laurel de honra e cercado do esplendor da santidade. O Senhor entregou-lhe o coração dos príncipes e confiou-lhe o império da natureza; a pompa de seus milagres dava testemunho da magnificência com que o Eterno o sublimara. Pedro de Alcântara restitui vivo a uma mãe o filho que acabara de perder; ressuscita na entrada entre Ávila de Pedroso um menino que se afogara. Novo Eliseu, aquece com seu calor vital o inanimado cadáver do filho do Conde de Ozorno; fere as águas com seu manto, e encostado a seu cajado vadeia a pé enxuto o Tejo e o Guadiana” (14).
O Decreto Imperial de 16 de março de 1843, que fundou Petrópolis, determinava a demarcação “de um terreno para nele se edificar uma igreja com a invocação de São Pedro de Alcântara…” (15).
(14) MONTE ALVERNE, Frei Francisco. Segundo Panegírico de São Pedro de Alcântara. In PLAT, Frei Estefânio José. São Pedro de Alcântara. Vozes, Petrópolis, 1962,, p. 142.
(15) Decreto Imperial de 16 de março de 1843.
Assim, neste decreto, que foi o ato oficial e político, que promoveria a criação de Petrópolis, quis o Imperador determinar desde logo, e conjuntamente com a idéia da povoação inicial, o levantamento de seu primeiro templo católico, sob a invocação do padroeiro do Império e seu patrono particular.
A Colônia de Petrópolis, apenas fundada, pertencia como curato à Freguesia de São José do Rio Preto, quando, pela Lei Provincial nº 389, de 20 de maio de 1846, foi elevada à categoria de Freguesia com a invocação de São Pedro de Alcântara de Petrópolis, passando a fazer parte do Município de Estrela, criado pela mesma lei.
A sede da nova paróquia foi então instalada em templo fronteiro ao Palácio Imperial, construído entre 1847 e 1848 e que funcionou por mais de setenta e sete anos, assistindo aos católicos petropolitanos e sendo palco de importantes acontecimentos ligados à nossa história religiosa.
Em 29 de novembro de 1925, a nova Matriz, cuja primeira pedra fundamental fora lançada em 12 de março de 1876, com a presença da família imperial, foi solenemente inaugurada, embora inacabada.
Finalmente, em 13 de abril de 1946, com a Criação da Diocese de Petrópolis, a igreja de São Pedro de Alcântara tornou-se Catedral.
Assim, “nossa cidade nasceu e cresceu sob o signo da celestial proteção desse extraordinário santo” (16). Nele têm os petropolitanos um espelho fiel de Cristo, nosso Mestre e Exemplo. Sua pureza angélica, sua paixão pela pobreza, sua vida de penitente, sua dependência completa do Senhor, sua aplicação e zelo a serviço da Igreja, sua intimidade com Cristo, fazem dele um dos mais virtuosos santos da Igreja.
(16) CINTRA, Dom Manuel Pedro. Carta Circular aos diocesanos, por ocasião do IV Centenário da morte de São Pedro de Alcântara. Petrópolis, 1962.
Que ele continue amparando nossas súplicas e velando pelos nossos destinos.