QUITANDINHA: MISSES, POETA & TV

Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga

O concurso de Miss Brasil foi destaque em nossa sociedade desde a década de 20, mesmo que alguns atribuam suas origens ao final do século XIX, em plena belle époque.

Em plena década de 20 as mulheres lutavam por um espaço político e representativo na sociedade, e a ideologia machista afirmava que a beleza é que representava a verdadeira condição da mulher, fato estampado nos jornais de então. Assim, estabeleceu-se uma luta ideológica, onde o sufragismo foi a bandeira de maior presença.

Nesta representatividade, a paulista Zezé Leone, foi a miss de 1922; mais tarde, Olga Bergamin de Sá, 1929; e no ano da revolução, 1930, um jornal carioca, A Tarde, promoveu no Rio de Janeiro o “Miss Brasil” e o “Miss Universo”, sendo que Iolanda Pereira, a gaúcha, venceu os dois concursos.

Na década de 30, destacaram-se as cariocas Ieda Telles de Menezes (1932) e Vânia Pinto (1939), eleitas Miss Brasil; depois a goiana Jussara Marques, em 1949.

Porém, a verdadeira história do concurso de Miss Brasil, contando com a incansável presença da mídia e das empresas de produtos de beleza que foram criadas nos anos 50, mais precisamente em 1954, está em uma passarela armada na boate do Hotel Quitandinha, em Petrópolis. Por ela desfilaram misses de diversos Estados da Federação, diante de um público extasiado, tendo por fundo um cenário hollywoodiano como o do Quitandinha.

Muitos atribuem esta notoriedade do concurso ao reflexo da realização em Long Beach, na Califórnia, em 1952, de um concurso de Miss Universo que foi transmitido para todo o país, fato de grande importância para o universo feminino de então, e com grande popularidade.

Mas, o concurso que foi realizado no Quitandinha, em uma noite do mês de junho de 54, com a presença de jurados formados entre inúmeras personalidades destacadas no cenário nacional, como os escritores Manoel Bandeira, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, o artista plástico Santa Rosa, a colunista Helena Silveira, entre inúmeros outros participantes. Fato que propiciou relevo nacional e internacional ao concurso.

Ao analisarmos a vida de Bandeira nos anos 50 e sua biografia observamos o que segue: na data de uma carta-poema, existem menções a um livro publicado em 1954 – o “Itinerário de Pasárgada”, a um concurso para a escolha da Miss Brasil 1954, e referências a uma escultura do poeta feita em 1955.

A participação de Manuel Bandeira nesse evento do Hotel em Petrópolis, o conduziu a presidente do júri, um delírio para o público presente, com a presença do famoso poeta.

Bandeira, dedicou-se a “…sabatinar as candidatas com perguntas repetidas sobre literatura, geografia e arte…”, que “…não contavam para o prêmio, mas divertiam…”, e decidiu-se, por fim, pelo nome de Marta Rocha. Isto, segundo a reportagem de um colunista social e publicada na revista O Cruzeiro.

A mesma reportagem destacava “…o efusivo cumprimento de Bandeira à escolhida…”, presente em uma foto conhecida e que possuía a seguinte legenda: “A BELA E O POETA”.

“…O poeta consagrou Miss Brasil, após a proclamação, beijando liricamente as faces de Maria Marta Haecker Rocha, a loura baianinha vencedora…”.

Foi nessa noite, sob o imponente Quitandinha, que Marta começou o seu reinado de históricas décadas na lembrança dos brasileiros.

Lamentável foi que Marta Rocha não se tornasse a vencedora do concurso de Miss Universo pelas famosas e discutidas “duas polegada a mais”, porém, ficou em segundo lugar.

Na seqüência de concursos realizados no Quitandinha, o Miss Brasil de 1957, em 22 de junho de 1957, também chamou a atenção dos brasileiros, pela vitória da bela amazonense, Terezinha Morango, eleita dentre vinte candidatas que disputaram a quarta edição do concurso e que teve transmissão pela TV Tupi diretamente do Hotel. O que nos leva a crer segundo informações de especialistas, foi também a primeira transmissão realizada fora da sede da empresa de TV que era o Rio de Janeiro.

Outro detalhe não deve passar despercebido, seria o do maiô que as candidatas trajavam, de imensa elegância para a ocasião e que era exclusividade da malharia petropolitana, Águia, cuja marca “Catalina”, foi consagrada internacionalmente.

A fábrica havia sido fundada em 1937 por Adler e Fritz Weil, com parque industrial no Valparaíso, ocorrendo logo fusão com a família Fischer nos anos 50, recém-chegados da Argentina, passando a marca “Catalina” a tornar-se modismo, pois além do uso pelas misses passou a ser incorporada pelas atrizes de Hollywood.

Petrópolis, orgulhosamente era sede da beleza brasileira e da indústria de malhas de qualidade, ante a falsa avalanche modernista e especulatória que agredia o patrimônio histórico no período.