REPENSANDO O FUTURO DE PETRÓPOLIS

Antônio Eugênio Taulois

Com esse título, o Sr. Ebenézer Anselmo, Instrutor de Motivação Pessoal, publicou no último dia 30, nessa página da Tribuna, um extenso artigo, com uma avaliação crítica sobre o futuro de nossa cidade, valorizando com desconfiança, as tradições e o passado petropolitano. Ele interpretou fotos dos idos de 1920-30, afirmando que só se viam casas pobres, em Petrópolis, ruas estreitas e mal cuidadas, carros com manivelas na frente do motor, pessoas simples e mal vestidas, sem demonstrarem a menor ação e progresso. E arrematou, afirmando que Petrópolis precisa acordar, porque o saudosismo exagerado propõe o atraso, o antigo, a manutenção do velho, do ultrapassado. Por isso Petrópolis tem fábricas fechadas, combustível caro, poucos empregos e não tem um grande shopping, um conjunto de supermercados concorrendo entre eles, no centro da cidade.

São considerações surpreendentes para um Motivador Pessoal, que deve formar opiniões. Ele não valoriza o nosso passado porque desconhece a nossa história e o sentido de sua preservação. È bom saber que, naquela época, 1920-30, as casas e ruas petropolitanas não eram tão miseráveis, pois a cidade foi escolhida pelo recém-criado Rotary Clube do Rio de Janeiro, uma entidade que reúne profissionais destacados na comunidade, para sediar o segundo Rotary Clube da região do Rio. Essa opção poderia facilmente, ter sido por Botafogo, Copacabana, Tijuca ou São Cristovão, todos, importantes bairros do Rio de Janeiro. As grandes fábricas de Petrópolis foram fechadas, principalmente, porque a moderna fiação para tecelagem usava fios sintéticos, incompatíveis com a umidade da serra. Nenhuma cidade de porte médio, tem supermercados no seu centro, por causa do movimento de cargas. Especialmente Petrópolis, que nasceu espremida entre montanhas e rios. Koeler entendeu bem essa dificuldade e a fez tão pitoresca. Sem pretensões a megalópolis, também não cabem no seu centro big-shoppings. Dizia Le Corbisier, “… as cidades são finitas.”.

O Sr. Ebenézer conclui que “… manter a cidade bonita é muito pouco, pois é necessário crer, sonhar e buscar o nosso desenvolvimento, para enfraquecermos e esvaziarmos as cidades vizinhas. Ao passado, basta o nosso respeito, ao futuro, o nosso suor”. É uma afirmação espantosa. Nenhuma teoria econômica preconiza um desenvolvimento pontual, que diferencie comunidades, instabilizando a convivência entre elas.

No seu comentário, o articulista também mistura desenvolvimento, riqueza e pobreza com combustível caro, desemprego, preços injustos e lucros exorbitantes, numa avaliação simplista de uma questão bem mais complexa. Macrofatores geográficos e institucionais como a organização social, a paz, a educação, a administração da justiça é que geram as oportunidade para os investimentos que garantem o progresso das sociedades.

Petrópolis surgiu de um decreto oficial de Dom Pedro II e foi fundada a partir de uma ilusão. A colônia agrícola criada para ocupar os imigrantes alemães não tinha futuro. As terras desse alto de serra não se prestavam para a agricultura, como já se sabia, pelas experiências anteriores nas Fazendas da Samambaia e a do Pe. Correia.

Mas os ativos colonos se adaptaram às condições que encontraram e desenvolveram uma ativa indústria artesanal e industrial. Depois, com os italianos, a poderosa indústria têxtil petropolitana movimentou a economia local. E a vilegiatura da nobreza da corte e da elite burguesa e intelectual brasileira privilegiaram Petrópolis, transformando e desenvolvendo a cidade.

O declínio da indústria têxtil, que não precisava mais de umidade para o fio sintético e sim, cada vez mais, de avultados investimentos, a ascendência de outras classes sociais, a ocupação das encostas e o deslocamento do poder central para o interior, obrigaram a cidade a novas perspectivas e novas adaptações foram necessárias.

Restaram ao petropolitano e a sua cidade, o compromisso com o passado e a confiança no futuro. O nosso futuro tem de ser esboçado a partir desse compromisso, que leva em conta, principalmente, três fatores, segundo Francisco Vasconcelos.

O primeiro é a nossa posição de passagem, encurtando distâncias e facilitando o tráfego para o interior. Em seguida, a natureza e a estética da cidade e suas obrigações com a terra. E, por fim, nosso compromisso com a liberdade e com a paz, que são também marcas petropolitanas bem definidas. Afinal, não podemos esquecer que a escravidão foi extinta em Petrópolis, quarenta e três dias antes do 13 de maio de 1888 e a única revolta popular aqui, foi a iniciada pelo Pe. Wiedemann, em 1856 e sufocada em cinco horas.

Esses aspectos se prestam a muitos enfoques, indagações e propostas de trabalho. Na discussão, obrigatoriamente, temos de levar em conta a nossa tradição e vivência nesses campos. Não existe presente sem o passado e nem o futuro sem o presente. É por esse ângulo que temos de desenhar o futuro de Petrópolis.