RESENDE, CIDADE E MUNICIPIO – 204º ANIVERSÁRIO
Cláudio Moreira Bento, Associado Correspondente
Em 29 de setembro de 1801, o município e vila de Resende foram instalados em cerimônia pública que teve lugar no local da hoje Praça do Centenário. Presidiu a sua criação o seu donatário de honra , o Cel. Fernando Dias Pais Leme, bisneto do bandeirante Fernão Dias, o Caçador de Esmeraldas e descobridor das Minas Gerais . O Cel. Fernando comandava no Rio de Janeiro um Regimento de Auxiliares e havia comandado uma Companhia do 2º Regimento de Infantaria de Linha (O Novo) que participou da Guerra Guaranítica no Rio Grande do Sul atual de 1752/ 1759.
Ele se deslocou para este ato desde a sua fazenda em Araperi, na Baixada Fluminense, sendo transportado em rede por escravos por estar doente e, segundo o Dr João Maia, o primeiro historiador de Resende, ”ele concorreu com todas as despesas da instalação do município e vila de Resende e sem nenhuma humilhação aos resendenses”.
O Coronel Fernando herdara o direito adquirido por seu avô, Garcia Rodrigues, o construtor do caminho novo da Baia de Guanabara até as Minas Gerais, para de lá transportar o ouro e foi quando fundou Paraíba do Sul. O direito que adquirira pelo Alvará de 16 setembro de 1715, fora em razão de haver salvo o tesouro do Rio de Janeiro, o colocando a salvo, em local seguro, quando da invasão desta cidade em 1711, pelo corsário francês Duclerc. Direito consistente em poder levantar uma vila, numa das passagens do Rio Paraíba.
Ele vinha dar cumprimento a ordem do 13º Vice-Rei e Capitão General de Terra e Mar do Brasil, o Tenente General (hoje General de Exército) D. Luiz de Castro e 2º Conde de Resende, que havia ordenado, 2 anos e 3 meses antes, em 1799, ao seu Juiz de Fora, a criação de uma nova vila no distrito de N. S. da Conceição do Campo Alegre da Paraíba Nova, “ em razão de interesses convergentes do donatário de honra da nova vila, a atual Resende, com os dos seus 100 moradores pioneiros, “para evitar-lhes os prejuízos da grande distância do Rio de Janeiro, onde deviam tratar de seus interesses administrativos.”
Foram estes pioneiros resendenses que decidiram que a nova vila e município em Paraíba Nova, fosse dado o nome do título de seu criador, Resende. E isto ocorreu na instalação de Resende, quando esta autoridade se deslocava pelo Atlântico de volta a Portugal.
O Conde de Resende se consagrou por notável obra na administração do Brasil, onde se destaca haver sido o fundador do ensino militar acadêmico nas Américas e do ensino superior civil no Brasil (engenharia militar e civil), ao criar, em 17 de dezembro de 1792, aniversário da Rainha D. Maria I e sob a égide do Príncipe Regente D. João e na Casa do Trem, a Real Academia de Artilharia Fortificação e Desenho. Esta destinada à formação, para o Vice-Reinado do Brasil, de oficiais de Infantaria, Cavalaria, Artilharia e Engenheiros militares e civis.
Com a vinda da Família Real para o Brasil, esta Real Academia continuou funcionando por cerca de 17 anos, sendo reformulada e promovida e mudada a sua denominação para Academia Real Militar, agora não mais visando a formação de oficiais para o Brasil, mas para todo o Reino de Portugal, desde 1808 com sua sede no Brasil.
Ao tempo em que o Marechal José Pessoa escreveu em 1938, sobre a História do Espadim de Caxias , mencionou “que o fazia para não acontecer o que ocorrera com a Academia Real Militar, que apenas se sabia que ele havia existido”. E da Real Academia naquele tempo nem se sabia que ela havia existido. E as duas foram resgatadas por pesquisas do General Francisco de Paula Azevedo Pondé, aos descobrir, por acaso, na Escola de Engenharia do Largo São Francisco os livros registros desta Academia Real onde estudou Caxias e, Paulo Pardal, ao escrever sobre a Real Academia 1792/1811, onde estudou o pai de Caxias, o Brigadeiro Lima e Silva.Trabalhos por nós reforçados na obra Escolas de Formação de Oficiais das Forças Armada do Brasil, patrocinada pela FHE-POUPEX e hoje espalhada pelo Brasil .
Ao Conde de Resende cabe a glória de haver comandado, como Capitão General de Mar e Terra do Brasil, a vitoriosa Guerra de 1801 que incorporou no Rio Grande do Sul os Sete Povos das Missões e mais os territórios entre os rios Piratini e Jaguarão e os arroios Taim e Chuí e o Sul de Mato Grosso e partes do atual Amapá.
Mas a sua imagem foi deformada longo tempo em Resende, depois que um jornalista apaixonado, de passagem por Resende, falou para vários resendenses que deviam mudar o nome da cidade de Resende para Timburibá, pois que o nome Resende não era digno, pois ele mandara enforcar Tiradentes. E esta falsa acusação, ao que parece foi levada a sério a se concluir da mudança do nome da Estação Ferroviária de Resende para Agulhas Negras e da Escola Militar de Resende, que assim permaneceu por cerca de 6 anos, para Escola Militar das Agulhas Negras .
Em 25 de setembro de 1992, como fundador e presidente da Academia Resendense de História, na qual o Conde de Resende é o nosso patrono de cadeira, fomos convidados pela Câmara de Resende para ser orador na sua comemoração, quando abordamos a verdade histórica sobre o Conde de Resende, que foi condenado a morte por um Tribunal Civil e cujos tópicos principais foram reproduzidos, bem com sua foto em artigo – Resgate histórico traz à tona a verdade sobre o Conde de Resende, A Lira, 25set/1out 1992. E depois o que falamos na Câmara em artigo, O criador do municipio de Resende em 1801, na Tribuna do Comércio, Resende, 15 a 22 out. 1992. E sobre o assunto e mais desenvolvido foi nosso artigo sob o título Conde de Resende, o fundador do ensino militar acadêmico nas Américas e do ensino superior civil no Brasil e criador da cidade de Resende, na Revista do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, nº 375, abr/jun 1992, p.32/43.
Neste trabalho se baseou o povo de Resende para fazer justiça ao criador e patrono de Resende, o Conde de Resende, para através de sua Câmara de Vereadores criar como sua maior distinção, a Comenda Conde de Resende, com a qual já fomos honrados.
O Conde de Resende nasceu no ano de 1744 que se tem como o da descoberta da atual Resende, pela bandeira vinda da Lagoa da Ayruoca, chefiada pelo Tenente Coronel de Ordenanças Simão da Cunha Gago, do Regimento de Ordenanças de Jacareí-Mogi das Cruzes .
E decorrido um século da descoberta de Resende e do nascimento do Conde de Resende foi instalada em Resende a atual Academia Militar das Agulhas Negras, que como resultado de evoluções, transformações e denominações sucessivas, possui sua raiz histórica na Real Academia por ele criada em 17 de dezembro de 1792, com o aval do Príncipe Regente D. João, autoridade que cerca de 18 anos mais tarde a promoveria a Academia Real Militar, que seria considerada por decreto do Presidente Getúlio Vargas a raiz histórica da AMAN, pois era desconhecida na época a existência da Real Academia de 1792/1911. E lembro que sobre a Academia Real o Marechal José Pessoa mencionou em 1938, que dela apenas se sabia que havia existido .
Se a data aniversária da AMAN fosse 17 de dezembro, ela teria completado 200 anos em 1992 e seria a mais antiga academia militar das Américas, pois West Point só foi criada em 1801.
Seria também considerada o primeiro estabelecimento militar acadêmico estabelecido no Brasil, pois a Escola Naval, considerada a primeira, só chegou no Brasil 18 anos mais tarde. História e verdade e justiça.!!!