RESGATES PETROPOLITANOS

Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima

JOSÉ FERREIRA DE SOUZA ARAÚJO, mais conhecido como Ferreira de Araújo, foi das maiores expressões do jornalismo brasileiro das últimas três décadas do século XIX. Era respeitado internacionalmente e gozava de imenso prestígio entre seus colegas, nacionais e estrangeiros.

Foi durante anos redator chefe da “Gazeta de Notícias” do Rio de Janeiro, jornal de significativa circulação, em que colaboravam os mais eminentes homens de letras do fim da monarquia ao princípio da república.

Ferreira de Araújo faleceu na então Capital Federal aos 21 de agosto de 1900.

Sobre ele disse a “Gazeta de Petrópolis” em sua edição de 23 do mesmo mês e ano:

“Grande espírito, iluminado sempre pelo sol de uma inteligência superior, talento de eleição, alma aberta para todas as ações generosas, abraçando num volver de olhos todos os cometimentos elevados, encarando todas as questões que se agitavam no país com uma clarividência de inspirado, Ferreira de Araújo era a organização jornalística mais perfeita que existia no Brasil”.

Era verdadeiramente um espírito eclético, pois escrevia quase simultaneamente sobre política, sobre economia, sobre questões internacionais e também sobre literatura, teatro, lingüística, etc. Fazia humor e arriscava folhetins que faziam a festa de seus leitores assíduos.

Mantinha na “Gazeta de Notícias” seções curiosíssimas que se chamavam “Macaquinhos no Sótão”, “O Mosquito”, “As Balas de Festim”, “Jornal do Ausente”. Aparecia freqüentemente sob os pseudônimos de “Lulu Sênior”, “José Telha” e “A”.

Ferreira de Araújo, abraçou algumas causas de incontestável relevância, pondo desinteressadamente sua pena flamante a serviço dos mais condoreiros ideais. Foi assim que dedicou-se de corpo e alma à campanha abolicionista, tendo recusado a condecoração que o Ministro João Alfredo lhe ofertara.

Ferreira de Araújo colaborou em 1897 na “Revista Brasileira”, de cujo corpo redacional saíram os fundadores da Academia Brasileira de Letras. Fazia o jornalista comentários políticos, focando os grandes temas do governo conturbado de Prudente de Moraes.

Nesta urbe viveu alguns anos Ferreira de Araújo e aqui chegou a escrever para a “Gazeta de Petrópolis”, o grande órgão de imprensa da então capital do Estado.

Nas “Palestras Literárias” que fez inserir nas edições da “Gazeta de Petrópolis” de 1897 deu provas cabais de seus profundos conhecimentos lingüísticos.

Vinte anos depois da morte de José Ferreira de Araújo, começou a tomar forma nestas serras a Associação de Ciências e Letras, que veio a furo em 1922, resolvendo-se depois na Academia Petropolitana de Letras.

Em 1935 apareceu em o n.° 2 da revista da Academia o nome de Ferreira de Araújo como patrono da cadeira n.° 19, então ocupada por Octavio Venâncio da Silva. Fazia assim a Academia uma justa homenagem ao polígrafo e talentoso jornalista que tanto brilho trouxera à imprensa fluminense num dos períodos mais ricos de sua história.

E ainda havia uma grande justificativa para tamanha distinção: Ferreira de Araújo vivera em Petrópolis e aqui colaborara na “Gazeta” enriquecendo suas colunas com matérias de elevado teor cultural.

Enfim, ele tinha tudo a ver com as “letras” razão de ser das academias, que no entanto tornaram-se clubes de gente afinada na mútua adulação e na exposição das vaidades. Compulsei os diversos números da revista da Academia e percebi que até o fim da década de trinta Ferreira de Araújo figurava como patrono da cadeira 19. Eis que se me deparou uma súbita mudança nesse quadro. Fato curioso e insólito, talvez único na história das academias.

De uma hora para outra passou a ser patrono da indigitada cadeira o Bispo D. Francisco do Rego Maia, saindo de cena o velho jornalista da “Gazeta de Notícias”.

Por jurisprudência firmada e confirmada, como diria José Cândido de Carvalho, o patrono de uma cadeira acadêmica é inamovível e inarredável, até mesmo imexível, consoante o ex-ministro Antonio Rogério Magri. Já o acadêmico é transitório, pois que só tem direito ao assento no grêmio enquanto vivo for.

Gostaria de saber mais, estribado em documentos, sobre essa esdrúxula substituição de patronos na Academia Petropolitana de Letras.

Penso que o meu amigo Antônio Eugênio de Azevedo Taulois, que vem de tomar posse da cadeira em questão possa satisfazer a minha curiosidade. E é por isso que dedico a ele este resgate.

Vai que é sua Taulois!!!