RESGATES PETROPOLITANOS
Francisco de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima
De Utrecht a Samambaia, passando por Cantagalo, eis a trilha que pontua a saga dos VAN ERVEN na terra fluminense.
Foi em 1824 que chegou ao então imenso Município de Cantagalo o engenheiro João Batista van Erven. Trazia a mulher, Maria Cecilia Carolina Auwen, e, dois filhos nascidos em Utrecht, Jacob e João.
Jacob dedicou-se à administração das enormes fazendas do Barão de Nova Friburgo, um dos principais cafeicultores da Província do Rio de Janeiro e empresário de sucesso no setor das estradas de ferro.
João, que nascera em 1803 e que chegara a Cantagalo com 21 anos, depois de passar duas décadas na companhia dos pais, viera ter a Petrópolis, onde se metera em empreendimentos agrícolas, que infelizmente lhe proporcionaram escasso retorno.
Como Jean Baptiste Binot, João van Erven era um defensor da natureza petropolitana e um estudioso das potencialidades da lavoura, tanto no Município de Petrópolis quanto no todo fluminense.
Segundo informações fidedignas, João van Erven publicou em 1864 nas páginas do “Mercantil” uma série de artigos sob o título “A lavoura em nosso País”.
Antonio Machado, escrevendo sobre as velhas fazendas de Petrópolis no vol. IV dos “Trabalhos da Comissão do Centenário”, informava, que João van Erven, por volta de 1872, dedicava-se na Engenhoca à criação de gado e à lavoura.
A Engenhoca era parte integrante do Retiro de São Tomaz e São Luiz, cujo proprietário e senhorio direto era o então Major José Candido Monteiro de Barros, que de fato, conforme depoimentos de alguns de seus descendentes, arrendara aquelas terras ao batavo, que se tornara brasileiríssimo e petropolitano.
Entretanto João van Erven não prosperou na Engenhoca, apesar de seus ingentes sacrifícios para produzir em terras pobres e pouco vocacionadas para as atividades agro-pastoris. Devolveu a herdade ao arrendante e a convite deste foi abrigar-se na Fazenda da Olaria, residência oficial do Major Monteiro de Barros, a pequena distância da Engenhoca, onde mais tarde erguer-se-ia o Castelo de São Manoel.
E na Olaria, João van Erven, na idade e 72 anos, faleceu a 8 de abril de 1875. Foi sepultado no Cemitério Municipal.
A 10 de abril de 1875, um periódico que não pude identificar por falta de elementos, de onde a família van Erven extraiu o recorte, anotava:
“Durante a enfermidade que o roubou aos seus numerosos amigos, foi, João van Erven, cuidadosamente tratado pelo seu vizinho e particular amigo, o Sr. Major José Candido Monteiro de Barros, em cuja casa faleceu”.
João van Erven morreu no estado de viúvo, sendo dada como causa mortis a meningo-encefalite.
A missa de sétimo dia realizou-se na então Matriz de Petrópolis, às 8 horas da manhã do dia 15 de abril de 1875; na lista dos que convidavam para o evento, estava o nome do Major, depois Coronel da Guarda Nacional José Candido Monteiro de Barros, homem que se caracterizou por sua extrema bondade, por suas indiscutíveis fidalguia e superioridade de espírito.
O velho holandês, que está na raiz de Petrópolis, já que aqui chegou ainda nos anos quarenta dos oitocentos, morreu sem testamento, sem bens a inventariar e sem herdeiros necessários. Era muita felicidade para um homem só. Foi lírico e idealista, pondo o espírito acima da matéria.
O destino escreve certo por linhas tortas. Quando se pensava que a morte de João van Erven extinguiria o vínculo desta família com Petrópolis, eis que um cidadão chamado João van Erven Sobrinho, haveria de perpetuar nesta urbe a ilustre descendência de João Batista van Erven, natural de Utrecht e radicado em Cantagalo.
É que o seu filho mais velho Jacob, que vivia em Nova Friburgo administrando as fazendas do Barão deste nome, havia se casado com Francisca Maria de Freitas, nascendo-lhe dessa união aos 14 de fevereiro de 1843, um filho, batizado como João van Erven Sobrinho, certamente em homenagem ao tio que se deslocara para Petrópolis.
João van Erven Sobrinho casou-se no Rio de Janeiro aos 11 de fevereiro de 1872 com Maria Luiza Moreira Guimarães Rocha Miranda, na intimidade Cafunchinha, sobrinha do Barão de Guimarães (José Agostinho Moreira Guimarães – 1825/1905) e cunhada de Horácio Moreira Guimarães, que tornar-se-ia proprietário da Fazenda Samambaia a partir de 1891.
Do casal João van Erven Sobrinho/Maria Luiza nasceu, no Rio de Janeiro, em 1º de junho de 1881, Henrique van Erven, que contrairia núpcias em 10 de setembro de 1908 com Elvira D’Amarante Cruz, que faleceu em 23 de julho de 1946. Dessa união veio ao mundo Maria Luiza van Erven em 4 de julho de 1909. Casou-se mais tarde com Antonio Augusto Martins Lage.
Quando Horácio Moreira Guimarães, casado com Ana Maria Rocha Miranda, irmã de D. Cafunchinha, em 28 de julho de 1884, vendeu a Fazenda Samambaia a José Eduardo Macedo Soares por escrituras de 16 de dezembro de 1915 e 9 de fevereiro de 1918, ficou reservada uma parte da propriedade, entre a Estrada de Minas ou da Samambaia e o leito da Estrada de Ferro Leopoldina, para morada dos van Erven e das sobrinhas do Horácio.
D. Cafunchinha que enviuvara em 1918 passou a viver no prédio que abrigara a antiga venda da Fazenda Samambaia e ali eu conheci seu filho Henrique em 1963, que sempre me acolhera com fidalguia, colaborando nas minhas pesquisas com excelentes depoimentos. Dividia então a sua propriedade com o alemão Otto Schwartz, que faleceria por volta de 1970.
Aos 91 anos de idade, à Estrada da Samambaia n.º 307, morreu Henrique van Erven. Era 29 de outubro de 1972 e eu, ausente de Petrópolis, não pude prestar-lhe minha última homenagem. Consigno-a aqui, no transcurso das quatro décadas de seu passamento.