RUA DO IMPERADOR 881/887

Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga

“O Corredor cultural precisa entrar num ciclo reformador” (Augusto Ivan, criador do corredor em 1985 no Rio, in Corredor Cultural: Passagem para o Abandono, p.25, O GLOBO)

Prédios históricos semidestruídos, obras artísticas e arquitetônicas entregues ao descaso. No artigo o autor apresenta um raio X do descaso público e privado com sua herança e assinala que seu projeto necessita de “revitalização”.

E necessário repensar os fins de utilização da herança cultural de nossas cidades para que a sociedade possa desfrutar melhor desta riqueza.

Pelo interior, em centenas de cidades que apresentam conjuntos arquitetônicos apreciáveis, tornam-se quase inexistentes reivindicações político-culturais como estas, inúmeros prédios e estruturas arqueológicas urbanas sucumbem a aterradoras tentações e interesses imobiliários.

O vistoso conjunto da Rua do Imperador que engloba prédios do final do século XIX e das duas primeiras décadas do século XX necessita urgentemente de uma comissão de especialistas que possam pensar seus fins junto às administrações públicas vigentes, já que se desenvolveu um projeto de revitalização do centro urbano do sitio histórico.

O prédio em destaque é parte integrante do conjunto mais representativo da arquitetura petropolitana do final do século XIX, e que foi tombado pelo IPHAM, sob no.1175 em 1981. Dentro da proposta de administração pública, é o mais precioso e talvez único conjunto arquitetônico sobrevivente fora do eixo administrativo republicano Rio-Niterói do século XIX.

O no. 881/887 apresenta um prédio de térreo com pavimento superior que foge ao tradicional sobrado colonial por sua apresentação e disposição interna. Com estilo arquitetônico eclético, que não destoava da do prédio público contíguo.

Construído na quadra complementar onde foi erguido o magnífico, para a época, edifício público do Governo do Estado, pelo petropolitano Tomás da Porciúncula, para que fosse sede do governo estadual ante a ameaça de bombardeio à Niterói (Revolta da Armada), e sendo posteriormente doado ao município.

Sua localização, em termos econômico-administrativos, para a sociedade, foi a segunda mais importante para Petrópolis, secundando a região próxima à Estação Ferroviária, pois se articulava à época com o centro administrativo e financeiro do município, tendo à sua proximidade grandes hotéis, como o próprio Bragança que se situava à frente do conjunto, assim como boutiques e lojas comerciais de grande importância.

Para este centro dirigiam-se empresários, industriais e outros profissionais do período. Importante região que após a derrubada do Hotel Bragança, ergueu-se o Petrópolis Crédito Móvel (tradicional magazine do final da Rua Paulo Barbosa), hoje Banco do Brasil, assim como o Hotel Rio-Petrópolis (antiga CAEMPE) e o prédio da Tribuna de Petrópolis, único jornal diário, foram construídos na região entre 1925/28.

O prédio (881/887) foi construído por Franklin Sampaio, um dos mais expressivos empresários do período no eixo Rio-Petrópolis, ao final do século XIX e meados do XX, após a inauguração do conjunto público, portanto entre 1896/98. Sediando a mais importante instituição financeira do município, o Banco Construtor do Brasil.

Banco este que se tornou, por contrato com a Câmara Municipal, composta à época pelo grupo hermogenista, concessionária do fornecimento de energia elétrica para o município, servindo tanto às residências do perímetro urbano do centro, assim como à iluminação pública das ruas periféricas à então Avenida XV de Novembro.

Seu interior apresentava, ou ainda apresenta, na parte superior área destinada aos funcionários administrativos, profissionais capacitados para contabilidade “mercantil” e financeira, como denominadas na época, assim como a gerência e a presidência da instituição, com entrada própria para atendimentos diferenciados a industriais, comerciários e políticos. No térreo, um longo balcão para atendimento da população em madeira de lei trabalhada, assim como área de crédito bancário, com assentos laterais próximos às portas de entrada, em madeira trabalhada, para acomodação do público. Por trás do balcão, e de construção mais moderna para a época, apresentava-se como hoje ainda pode ser observado o magnífico cofre construído seguindo padrões clássicos do século XIX, com a porta e suas soleiras em estrutura de ferro fundido própria fabricada em Costa Ferreira & C., uma das mais especializadas fundições do Império, criada após a de Ponta de Areia do Barão de Mauá. Fato que se destaca pelo símbolo da Casa Imperial presente em relevo no mesmo cofre, e que era qualidade de fornecimento de produtos e destaque de algumas empresas importantes no período. Milagrosamente conservado até a atualidade, o cofre, assim como suas janelas originais e vidros ornamentados na parte superior.

Reuniões de maior destaque e importância eram realizadas no palacete do próprio Franklin Sampaio, que também serviu como sede do Governo Estadual, localizado na Praça da Liberdade, e onde se realizavam também saraus, festas e até mesmo reuniões carnavalescas como as que documentamos em ensaio especial publicado pela Tribuna de Petrópolis em 1984.

Da sacada do mesmo prédio do Banco, assim como da do Hotel Bragança, autoridades assistiram a eventos públicos, comícios e passeatas de protesto ou apoio como as que foram registradas pelos jornais nas primeiras décadas. Observe que a Câmara Municipal durante algum tempo ficou sediada nas proximidades, no prédio que também abrigou os Correios no inicio da Rua Cruzeiro, posteriormente João Pessoa e atualmente, Dr. Nelson de Sá Earp.

Historiadores… Pesquisadores sociais, não são detratores de projetos públicos, mas sim, pensadores do chamado novo modo de viver da sociedade urbana, procurando harmonizar o passado e os fins a que se destina no presente a herança patrimonial da sociedade, junto aos demais profissionais, sem agressões, preservando, eternizando e cultuando a história para as futuras gerações.