Santa Cecília, 120 anos de música
Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, cadeira nº 14 –
Eu nasci na Escola de Música Santa Cecília, posso afirmar, na constatação de que meu pai, o grande cidadão petropolitano Joaquim Heleodoro Gomes dos Santos, naquele dia 10 de fevereiro de 1935, era presidente da instituição e comandava reunião de sua Diretoria. Chamado às pressas, subiu a Aureliano Coutinho, ganhou a pacata Teresa e, quando chegou à casa, já o menino chorava após as palmadas de praxe tão bem executadas pelas parteiras de antanho. Assim, em meio a uma reunião de Diretoria na “Santa Cecília”, eu cheguei, a pouca distancia do prédio da Escola, porém no seio da musical sociedade. Desde pequenino andei e corri, brinquei e traquinei no velho prédio e ali aprendi a amar a música, o teatro, o cinema.Adulto, presidi a Casa por quase uma década e até hoje integro conselhos e diretorias e leciono. Quando cheguei já não mais existia o maestro Paulo Carneiro, em sua forma física, mas seu nome e sua obra andavam em crescimento constante no acanhado casarão da rua Marechal Deodoro nº 192, ecoando por toda a cidade. Uma história eu conto e repiso: Paulo Carneiro, músico diplomado e “Medalha de Ouro” do Conservatório Nacional de Música, chega a Petrópolis. Traz bagagem de muita sensibilidade nordestina e raro talento musical. Mestre de música acompanha alunos no veraneio da serra. Apaixona-se pela musicalidade da pequena cidade, e, incontinenti, resolve abrir uma Escola de Música para atender aos talentos que desabrocham no dia-a-dia, das alvoradas, nos ocasos dos dias, na imensidão do plenilúnio, encanto e magia de Petrópolis. Na tarde de 16 de fevereiro daquele ano (1893) organiza e abre a Escola de Musica Santa Cecília, com duas dezenas de interessados. Seus espaços são emprestados e ele anda daqui para ali nos passos da determinação. O talentoso e humanitário maestro torna-se uma das personalidades maiores de Petrópolis, mantendo sua Escola, com amor e dedicação, até a sua morte em 1923, após manter o ensino durante completos 30 anos de meritória atividade. Morto e sepultado o fundador e mantenedor, alunos, admiradores e amigos constatam que a Escola era ele, o querido maestro. Nada possui senão o aguerrido nome e o registro da bela atividade realizada por sua Escola. Ele solicitara, no leito de morte, que não deixassem sua Escola terminar. Resolve o grupo de admiradores manter a Escola sob uma sociedade civil, sem fins lucrativos e essencialmente filantrópica. É momento mágico de muita determinação e coragem, recompensado o arrojo pelo apoio da sociedade daqueles dias. Ela caminha, cresce,mantém o projeto e cumpre o objetivo de ensinar música. Adquire um velho prédio no coração do Centro Histórico e nele funciona com os cursos e instala modesto cinema – o saudoso e querido Cinema Santa Cecília, forjador dos melhores sonhos infantis e adolescentes daqueles anos 20/50 -, para o pagamento do prédio e manutenção do ensino. Através de heroica campanha popular promove a demolição do casarão e, no mesmo sítio, ergue o Edifício Paulo Carneiro e o Teatro Santa Cecilia, hoje monumentos-patrimônios petropolitanos argamassados pelo destemor e pela coragem de seus realizadores, mantenedores, dirigentes, amigos e admiradores da obra magna. Para manter o prédio, a atividade de ensino e difusão da música e de todas as artes cênicas, a Escola arrenda o teatro para empresa cinematográfica, por 20 anos (o Cinema Art-Palácio); em seguida, explora o mesmo por sua conta em nova etapa e, hoje, a casa de espetáculos está integrada plenamente aos objetivos artísticos, sob Diretoria Executiva e Conselhos de apoio administrativo. É uma epopeia que chega aos 120 anos de existência, no dia 16 de fevereiro de 2013, com a Escola funcionando plenamente, bem administrada, com excelente Corpo Docente e abnegado e competente Quadro de Funcionários. Mantém cursos de vários Instrumentos de Corda, Sopro, Percussão, Canto, Balé Clássico e Danças Populares, Teatro, História da Música, cursos de Teoria Musical e demais atividades artísticas. Grandes nomes fizeram sua bela historia, plenos artistas desabrocharam seus talentos na centenária Escola e ela continua a missão do maestro Paulo Carneiro, integrada definitivamente à Cultura Petropolitana, Fluminense e Nacional. É presidida hoje pelo advogado Mauro Carneiro Senna, perfeito continuador da saga de grandes nomes que emprestaram o melhor de cada um à manutenção da Escola, seus objetivos, sua história, sua mágica presença entre nós. Comovido, cumprimento a Escola de Música Santa Cecília e dedico o artigo a quantos argamassaram tijolos de amor e crença na magnífica obra do Maestro João Paulo Carneiro Pinto.