UMA HISTÓRIA DO QUITANDINHA

José Afonso Barenco de Guedes Vaz, Associado Titular, Cadeira n.º 11 – Patrono Henrique Carneiro Teixeira Leão Filho

 

A biblioteca do Museu Imperial, na última quinta-feira, dia vinte e sete, abriu suas portas para realizar mais um evento cultural dentro da programação intitulada “Fale-me de Petrópolis”.

O espaço foi ocupado por senhoras, senhores, representantes de entidades culturais, estudantes, enfim pessoas que se interessam vivamente pela cultura, pela história de nossa cidade, intitulada Imperial, com toda justiça, em decorrência do Decreto no 85.849, de 27 de março de 1981, assinado pelo Presidente João Batista de Oliveira Figueiredo.

Como de praxe, as apresentações e demais providências de ordem administrativa ficaram a cargo da historiadora Claudia Maria Souza Costa, integrante do qualificado quadro funcional do referido Museu Imperial.

Pela mesma, foi apresentado aos presentes, embora já bastante conhecido, o jornalista e pesquisador Flavio Menna Barreto Neves, que durante quase duas horas proferiu uma verdadeira aula ao público extremamente interessado no assunto.

Membro destacado do Instituto Histórico de Petrópolis, ocupante da cadeira nº 24 e também de demais entidades que faz integrar pelo mesmo declinadas.

O orador traçou com absoluta competência e leveza de palavras, prova do mais elevado conhecimento a respeito do assunto ora explanado, possibilitando aos presentes, ainda que no transcurso das mesmas, viesse a responder, por extrema delicadeza, dúvidas e indagações no tocante ao tema de interesse, não só com relação às pessoas presentes como, também, à população em geral que reside nesta abençoada terra de Pedro.

Afinal! A respeito do que versou o magnífico encontro? Ah! “A História do Quitandinha”.

Por intermédio não de palavras mas, também, de fotos, plantas e documentação diversa, fez discorrer, com absoluta propriedade e clareza, sobre a trajetória do Quitandinha, desde os seus primórdios, época de sua construção.

Em razão de seus importantes relatos e informações veio à lume, como não poderia deixar de ocorrer, a figura notável do empreendedor e visionário da magnífica obra – seu idealizador – o mineiro nascido em Dom Silvério, estado de Minas Gerais, Joaquim Rolla.

Ilustrou o palestrante tratar-se de um cidadão dotado de visão futurística bem diversa de muitos que viviam àquela época, quiçá descrentes da concretização do empreendimento.

Prosseguindo, Flavio Menna Barreto discorreu sobre a grandiosa obra desde o seu início até a conclusão, trazendo importantes informações no que concerne aos períodos de sucesso vivenciados por Joaquim Rolla, até os dias amargos quando se deu a proibição do jogo no país.

Menna Barreto, extremamente detalhista e por esta razão continuamente aguçando a curiosidade dos presentes.

 Como por mim já frisado, não ocorreu uma palestra; foi proferida uma verdadeira aula sobre a belíssima história do Quitandinha.

Deixou claro sobre as áreas escolhidas, enfatizando no tocante a questão da proximidade de Petrópolis com a cidade do Rio de Janeiro, à época capital do país.

Prestou detalhados esclarecimentos sobre as áreas que Rolla fez adquirir as quais não pertenciam, na totalidade, à família de Alcindo de Azevedo Sodré, médico,político, advogado e historiador que acabou por ser o fundador do Museu Imperial, além de haver desempenhado vários outros encargos, de extrema relevância, inclusive prefeito interino de Petrópolis.

A se destacar, outrossim, quando fez lembrar a pessoa do competentíssimo arquiteto Luiz Fossati, contratado por Joaquim Rolla para levar a cabo a obra, figura que nesta cidade foi responsável, também, pela construção do edifício Imperador. Também salientou a contratação da decoradora norte-americana Dorothy Draper, que se encarregou de tratar da decoração total do ambiente, destacando o orador que tais obras e projetos foram marcantes para o Quitandinha.

Nascera à época da construção, também, a Companhia de Terrenos Quitandinha recordada por Menna Barreto na pessoa de José Gomes, incrível que pareça, também por mim conhecida.

Menna Barreto, por outro lado, recorda que a grandiosa obra foi iniciada em 1941, informando que muitos dos funcionários contratados, egressos de Minas Gerais.

De acordo coma orientação de técnicos especializados, em especial, do engenheiro Fossati e sua equipe, já bastante conhecido em nossa cidade, Joaquim Rolla previra – e em razão de sua obstinação – e por isso mesmo quedou por serem realizadas também outras várias obras no entorno da majestosa construção, destacando-se galerias pluviais, calçamento de ruas e o mais importante, a construção de uma barragem no bairro do Caxambu e bem assim um reservatório para abastecimento de água.

O expositor relembra, outrossim, Ernani do Amaral Peixoto, genro do presidente Getúlio Vargas e fiador político do projeto do hotel-cassino, bem como a figura de Benjamin Vargas, irmão de Getúlio, na condição de frequentador influente e assíduo dos cassinos de Joaquim Rolla.

Conforme deixou claro o expositor, Joaquim Rolla defendia, obstinadamente, a tese de que após o funcionamento do Quitandinha, ou seja, do jogo, os empréstimos financeiros seriam quitados e, por isso mesmo, no dia 12 de Fevereiro de 1944 o Quitandinha abria suas portas, admitindo sem dúvida, que o empreendimento ainda viesse a necessitar de aportes financeiros.

Em determinado momento de suas palavras, o orador fez relembrar, ainda, muitas particularidades relacionadas com a obra, inclusive a presença no Hotel de personalidades famosas chegavam à Petrópolis com o único objetivo de conhecerem o “Palácio Quitandinha”, atualmente por nós assim chamado. Dentre tais personalidades, destacam-se as atrizes Jan Clayton e Lana Turner.

Entretanto, o orador chegou ao ponto nodal do majestoso empreendimento, exatamente o fim do jogo, o que ocorreu em 30 de abril de 1946, através do Decreto-Lei n. 9215 assinado pelo então Presidente da República, Eurico Gaspar Dutra.

Deu-se, assim, “o início do fim” do Quitandinha com o jogo em pleno funcionamento, porém os credores movimentando-se para receberem valores decorrentes de empréstimos feitos a Joaquim Rolla.

Muitos momentos comemorados como de sucessos – período áureo do Quitandinha – todavia, outros se seguiram de preocupações e tristezas, em especial de ordem financeira, eis que o empreendimento acabou por passar por novas dificuldades e o grande prédio atuando apenas como Hotel, sofrendo profundas alterações no que diz respeito às finalidades para as quais foi construído.

O momento, de absoluta tristeza! Joaquim Rolla vindo a falecer em 10 de julho de 1972, com 72 anos.

Não fora o fim do Quitandinha, mas o desaparecimento de seu idealizador que tanto lutou para que o empreendimento lograsse sucesso – o que conseguiu – mas que, por outro lado, viu desabar, assistindo a proibição do jogo no país.

Neste momento, após haver me inteirado a propósito de tudo o que ocorreu relativamente ao Quitandinha, arrisco a relembrar o poeta, quando escreveu sobre “amigos”: “… Se faz bom tempo, eles vêm, se faz mal tempo, eles vão!”.