VERTENTES DO ENSINO EM PETRÓPOLIS

Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira n.º 14 – Patrono João Duarte da Silveira

A educação em Petrópolis é tema veiculado por alguns estudiosos e cujos trabalhos, esparsos na imprensa, necessitam ser agrupados para uma sistematização e complementação que aprecie a temática sob o ângulo científico da História.

Quando a cidade ganhou foro de recanto sazonal, a partir da construção do Palácio Imperial de Verão, passando o Império a ostentar duas capitais federais: a Corte, no Rio de Janeiro e Petrópolis, no recôndito interior da Velha Província, montou-se na serra um cenário particularizado, como nenhum outro no país.

Duas vertentes de habitantes ilustres vieram chegando, primeiro nas hospedarias e hotéis, em seguida, construindo mansões definidoras do cabedal do veranista proprietário. A primeira delas, iniciada pelo Imperador D. Pedro II, era originária da Corte e representada por titulares do Império, ministros e funcionários graduados, intelectuais, representantes diplomáticos brasileiros e do Exterior; a segunda vinha do interior para o interior; eram os fazendeiros ricos do café, a maioria com títulos e honrarias, edificando prédios que obedeciam ao estilo neoclássico. O Centro Histórico foi enriquecido com variados estilos, tendências e bordados que definiam a posição de cada habitante sazonal. O Palácio Imperial, ocupando grande área, era mais simples, em termos arquitetônicos, do que muitos palacetes, onde o esmero dos adornos recortava no céu da serra as silhuetas rococós. Nos bairros, onde predominava o assentamento dos alemães, uma outra realidade urbana era a construção simples e funcional.

Eram duas Petrópolis distintas, à qual se juntaram o centro comercial da rua do Imperador e os complexos fabris em nesgas expressivas de terras, tanto no centro como rompendo áreas e criando bairros novos.

Nossos pioneiros, sentindo a necessidade da formação e atualização de nosso povo bastante heterogêneo, visando à educação para o futuro, cuidaram da criação de estabelecimentos de ensino, dentro da simbiose natural da cidade, educandários para os alemães radicados e para os brasileiros fixados em Petrópolis.

A distinção se fez presente nos primeiros anos porque os alemães estavam definitivamente instalados nas terras recebidas por aforamento perpétuo, iriam viver na nova pátria e nela criar as raízes do povoamento. Os brasileiros fixados na serra compreendiam dois segmentos: o permanente e o sazonal. Permanente aquele que vinha abrir um negócio; sazonal o habitante por temporada. Para atender a ambos, os educadores estabeleceram colégios com internato e externato, uma das marcantes características de nossa história escolar.

Grandes educandários surgiram sob o sistema duplo de acolhida, com alunos residentes na cidade e, portanto, externos; e filhos das famílias da Corte, que veraneavam, as quais, no retorno ao Rio de Janeiro, deixavam os filhos entregues aos educandários, no sistema de internato.

A peculiaridade educacional que funcionava muito bem nos grandes centros e ganhava contornos próprios em Petrópolis, tanto para os colégios, como para os pais, atraiu as comunidades religiosas de dedicação deitada ao ensino, aqui instalando-se grandes educandários e ordens maiores e menores.

A fase imperial viu o desenvolvimento de ótimos educandários, de renome nacional, formadores de gerações de grandes personagens da vida brasileira, tornando-se Petrópolis uma cidade reconhecidamente de porte educacional de primeira linha. Nenhum internato era misto, ficando bem definida a separação dos colégios para moças de um lado e para rapazes de outro. O externato funcionava sob o sistema misto.

O advento da República, não prejudicou essa imagem, pelo contrário, a solidificou, mantendo os educandários os sistemas de internato e externato, com turmas sempre em ascenção e o ensino de bom nível. Muitos professores preferiam deixar o Rio de Janeiro e outras cidades para integrar os corpos docentes dos educandários petropolitanos. Por aqui se formava uma seleção magnífica de grandes mestres.

A partir dos anos 40 a 60, com a perda, por Petrópolis, de sua atração climática sazonal e o encurtamento das distâncias pela abertura de estradas rompendo o granito maciço da serra, os educandários partiram para reformas de adaptação, diante do fortalecimento da escola pública do nível federal e municipal, além da atração pelo internato vir se diluindo diante da mudança estrutural da família brasileira. A pouco e pouco os internatos para meninos ou para as meninas dão lugar ao sistema misto e externo; aqueles que insistiram no internato experimentaram dificuldades de manutenção, tanto pela parte financeira como disciplinar.

Escorado em uma tradição escolar respeitada e admirada, Petrópolis consegue, hoje, manter um nível de ensino de razoável a bom em seus educandários e que atraem muitos estudantes de outros municípios.

Observa-se que a excelência do ensino mantido pelos Colégios antigos, com bom quadro de professores, programas formativos de cultura geral, foi substituída por fancarias promocionais em maior escala do que melhoria didática eficientemente adaptada aos nossos tempos, que não são mais iguais aos antigos. E nem poderiam ser.

Na década de 50 surge o ensino superior, com a criação das Faculdades Católicas Petropolitanas, com o curso de Direito no primeiro ano e seguido de Filosofia, Ciências e Letras, no seguinte. Antes já alguns educadores haviam tentado a criação de cursos superiores, fracassados pela falta de interesse dos jovens locais de famílias abonadas que preferiam acompanhar seus colegas, após cumprida a fase do internato, para o imediato ingresso nas faculdades principalmente do Rio de Janeiro. Significava para eles mudança de status e desenvolvimento pessoal. A hoje Universidade Católica de Petrópolis chegou no exato momento em que, para muitos, era impraticável estudar no Rio, em tempos inflacionários e de grande instabilidade política e até, por que não dizer, familiar.

O artigo não tem a pretensão de concluir nada, senão tentar colaborar para a abertura de uma pesquisa de abrangência sociológica que possa levar a uma interpretação correta do ensino em Petrópolis. Certo é que os colégios de peso mantidos por congregações religiosas adaptaram-se, para pior, e a maioria não conseguiu sobreviver.

Hoje, os colégios particulares disputam os alunos como os supermercados apregoam seus produtos e os educandários públicos continuam no reboque das boas intenções dos governos nunca satisfeitas e nem mesmo dinamizadas com o mínimo de qualidade. As exceções cabem no próximo espaço em branco que sobrou da diagramação do jornal.