VICENTINOS, SEMPRE: MEMÓRIAS DO COLÉGIO SÃO VICENTE DE PAULO

Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, Associada Titular, Cadeira nº 27 – Patrono José Thomáz da Porciúncula

Recentemente, como tem sido bastante comum nas redes sociais, e a partir da difusão dos aplicativos de mensagem, foi criado um grupo de amigos do Colégio São Vicente de Paulo. Como ex-aluna do São Vicente, e parte deste grupo, saltaram-me aos olhos, e por que não dizer, ao coração, as muitas memórias e laços de amizade que unem aqueles que tiveram o privilégio de estudar neste estabelecimento, que funcionou em Petrópolis, até 1992.

Como homenagem àqueles que comigo compartilham imensas saudades e excelentes lembranças dos tempos do São Vicente, e visando divulgar a sua história para os mais jovens, falarei um pouquinho deste colégio que formou gerações não só de petropolitanos, mas de brasileiros vindos de toda parte, enquanto recebeu alunos em sistema de internato, semi-internato e externato.

Fundado em 1890 por padres lazaristas, o Colégio São Vicente de Paulo, posteriormente, teve a sua direção transferida para a Ordem Premonstratense, ou Ordem de São Norberto. Ocupou a princípio um prédio na Westphália, na atual Avenida Barão do Rio Branco, e, em 1908, já como uma importante e nacionalmente reconhecida instituição de ensino, mudaria para o Palácio Imperial, de onde só sairia no início da década de 1940.

Após o Decreto-Lei do Presidente Getúlio Vargas, de 29 de março de 1940, que criou o Museu Imperial, os cônegos que dirigiam o colégio adquiriram o terreno à Rua Coronel Veiga, nº 550, para a construção do novo prédio que deveria abrigar o São Vicente. Nesta ocasião, era diretor do colégio o cônego Guilherme Adriansen, que se encontrava à frente do educandário há mais de vinte e cinco anos.

Para o novo empreendimento foi contratado o engenheiro Eduardo Piragibe da Fonseca, autor da planta do edifício que, além do prédio principal, contava com uma capela, à esquerda, e um salão de estudos e festas, à direita. A construção e a execução das obras ficaram a cargo da firma Graça Couto e Cia Ltda, enquanto a fiscalização de parte dos trabalhos foi realizada por Pedro Niebus, construtor em Petrópolis. Na Rua Coronel Veiga, onde atualmente se encontra o Instituto Teológico Franciscano, o Colégio São Vicente ficaria até o encerramento de suas atividades, apenas dois anos após completar o seu centenário.

Em sua trajetória, uma das grandes marcas foi sempre a prática desportiva, em tempos mais recentes, reforçada pela realização das disputadas Olimpíadas Internas. Mas, entre todas as modalidades, seria o futebol a deixar nas páginas da história dos esportes no Brasil o nome do Colégio São Vicente de Paulo.

Como assinalou Mario Filho, o célebre jornalista esportivo que empresta o seu nome ao estádio do Maracanã, entre os alunos do Colégio São Vicente de Paulo em Petrópolis, à época uma escola só para meninos, o futebol era praticado, pelo menos, desde 1896. Naquele ano, logo após a primeira partida promovida por Charles Miller em Santos, o padre Manuel Gonzales, professor do colégio que, muito provavelmente de forma equivocada, se orgulhava de ter trazido o futebol para o Brasil, fabricou uma bola de couro cru, apelidada de “peluda”, que se tornaria célebre no colégio. Recentemente chegado da Europa, e utilizando-se de traves de bambu, foi ele quem ministrou primeiro as regras do “novo” esporte aos alunos. O futebol era coisa tão séria no São Vicente, e tão fortemente incentivado, que, segundo Mario Filho, até o Jornal do Brasil publicaria um artigo contrário àsua prática no colégio.

Em Petrópolis, até meados dos anos 1900, o futebol era praticado apenas no Colégio São Vicente. Somente a partir de 1905, surgiriam os primeiros clubes na cidade, voga que seria referendada pela criação do Petropolitano Football Club, em 1911, o qual, aliás, fez a sua estreia contra a equipe do São Vicente, em 16 de julho daquele ano, em partida jogada no campo do Palácio Imperial. Naqueles idos, os colégios serviam como celeiros de craques para os clubes que iam surgindo. Eram os tempos da popularização do futebol no Brasil.

Voltando ao nosso grupo de ex-alunos do São Vicente de Paulo, é interessante pensar como o futebol continuou sendo por todos estes anos um assunto que ainda nos mobiliza, intimamente ligado às práticas no colégio, seja na quadra, seja no inesquecível campo de terra, que ficava para os lados do Valparaíso.

E em tempos de Copa do Mundo, nada mais justo que recuperar a memória sobre a contribuição desta instituição para o desenvolvimento do futebol no Brasil, aproveitando para exclamar: Uma vez vicentinos, sempre vicentinos!

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Pátio do Colégio São Vicente de Paulo, no Palácio Imperial. Partida de Futebol. Sem data.
Acervo Museu Imperial/Ibram/MinC

 

 

FONTES:

Almanaque de Petrópolis: o esporte em Petrópolis. n. 5 (mar.2016). Petrópolis: Museu Imperial, 2016.

Jornal Pequena Ilustração. Acervo Museu Imperial/Ibram/MinC.

FILHO, Mario. O negro no futebol brasileiro. Rio de Janeiro: Mauad Editora, 2003.

FRÓES, Gabriel Kopke. Esporte em Petrópolis (2). Disponível em: www.ihp.org.br Acesso em: 07 Jun. 2018.