VOVÓ GRANDE, A BARONESA

Kenneth Henry Lionel Light, Associado Titular, Cadeira n.º 1 – Patrono Albino José de Siqueira

 

Maria José Villas Boas Antunes de Siqueira nasceu em 28 de janeiro de 1862, na Fazenda da Glória, em Angustura, MG, de propriedade de seus pais, Josefina Villas Boas de Siqueira (1821-1914) e Antônio Antunes de Siqueira (1808-1874), ricos cafeicultores. Aos 11 anos, ela foi internada no Colégio Providência das freiras vicentinas, em Mariana, principal estabelecimento para a educação da elite daquela região, onde permaneceu por três anos. Aos 17 anos, em 20/07/1879, casou-se com José Jerônymo de Mesquita (1856-1895) de 23 anos, que era filho de José Jerônymo de Mesquita (1826-1886), conde de Mesquita, e neto de José Francisco de Mesquita (1790-1873), marquês do Bonfim, e passaram a residir na fazenda Paraízo, em Leopoldina (MG), de propriedade da família Mesquita. Tiveram cinco filhos: Jerônyma, Francisca de Paula (minha avó), Jerônymo, Maria José e Antônio, todos nasceram na fazenda com auxílio de parteiras. Seu marido recebeu o título de 2º barão de Bonfim em 19/08/1888.

O casal dividia o seu tempo entre a fazenda e a residência no Rio de Janeiro, à Rua Haddock Lobo nº 116. Viúva aos 34 anos, no início do século XX, mudou-se com os filhos para Paris e lá permaneceram por mais de uma década. A baronesa participou junto com a filha Jerônyma (1881-1971) de organizações na França e na Suíça como, por exemplo, da Cruz Vermelha. De volta ao Brasil, instalou-se no casarão à Rua Senador Vergueiro nº 238.

A casa da “Baronesa” era um ponto de encontro, em suas reuniões compareciam membros destacados da elite carioca, políticos, homens de negócios, entre eles Raul Fernandes, Nelson Romero, Juarez Tavora, e personalidades estrangeiras em visita ao Brasil como madame Chian Kai-Shek, pianista Diomar Novais e madame Curie. Nas reuniões eram proibidas bebidas alcoólicas; seus filhos, especialmente Jerônyma, engajaram-se em campanhas contra o álcool, promovendo a formação de entidades de auxílio aos dependentes de bebida.

Exerceu intensa atividade de assistência social, dentre muitas iniciativas, adquiriu um terreno em Correias, em Petrópolis, onde foi construído o sanatório São Miguel destinado a crianças e mulheres tuberculosas, além de levantar  recursos para concluir a obra e sustentar seu funcionamento. Com o surto da gripe espanhola, ela e a filha Jerônyma com a amiga Stella Duval, fundaram a associação Damas da Cruz Verde. Criaram a maternidade Pró-Matre, no Rio de Janeiro, e foram responsáveis por outras obras como: Cruzada Nacional contra a Tuberculose, Serviço de Obras Sociais (SOS), Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, Federação Brasileira de Girl Guides mais tarde alterado para Movimento Bandeirante do Brasil.

A Baronesa contribuiu com seu prestígio social para o sucesso das iniciativas de sua filha Jerônyma no campo do movimento feminista. Compareceu aos grandes eventos promovidos pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF) e apoiou os congressos feministas realizados no Rio de Janeiro nos anos 1922, 1931 e 1936. Em 1932, Jerônyma com suas amigas Bertha Lutz e Maria Eugênia lançaram o “Manifesto Feminino”.

Faleceu no Rio de Janeiro, em sua residência, no dia 18 de outubro de 1953. O Dia Nacional da Mulher instituído pela Lei nº 6.971, de 9 de junho de 1980 é celebrado no dia 30 de abril, em homenagem a sua filha Jerônima Mesquita, por sua atuação como feminista, sufragista e assistente social.

Toda a documentação da família que se encontrava em meu poder foi doada, por mim, ao Arquivo Histórico do Museu Imperial.