Agradeço penhorado o convite feito pelo Clube 29 de Junho para ser o seu orador nesta solenidade de homenagem ao Major de Engenheiros Júlio Frederico Koeler, dentro das comemorações dos 148 anos da chegada dos colonos alemães a Petrópolis.

De Koeler muito já se disse e muito a ser dito ainda há.

Hoje, porém, neste lugar, os descendentes dos colonos querem prestar uma homenagem, não só da razão, do conhecimento, mas, sobretudo, do coração.

São descendentes daqueles famílias que chegaram ao topo da Serra da Estrela tomadas da esmagadora incerteza dos imigrantes frente ao desconhecido das terras que pela primeira vez pisavam e à incógnita das condições reais de trabalho e subsistência.

Eles querem reverenciar aquele que foi o executor da verdadeira hospitalidade, recebendo seus antepassados e encaminhando a solução dos problemas concretos que lhes oprimiam a alma.

Sim, Senhores, os descendentes dos colonos alemães e todos nós outros aqui presentes queremos realizar agora algo de real e não uma farsa, algo de vivo e não uma representação. Queremos dedicar a Koeler, o vibrar autêntico da melhor emoção que possamos ter neste momento.

E como fazer brotar tal emoção, que sem dúvida existe no nosso íntimo?

Abramos com mais empenho os nossos olhos. Apliquemos verdadeira atenção ao que está diante de nossas vistas.

Não estamos num palco.

O monumento não é uma construção vazia.

As pedras e os outros materiais artisticamente dispostos abrigam os restos mortais de Koeler.

São os restos mortais daquele que caminhou tantas vezes por estes mesmos espaços que hoje ocupamos, daquele que acolheu e tranquilizou os imigrantes e lhes possibilitou uma vida digna, daquele que sonhou uma bela e humana Petrópolis e começou a concretizá-la.

Foi a 23 de janeiro de 1955 que, por solene ato fúnebre, presentes o Sr. Prefeito Municipal Cordolino José Ambrósio e o Sr. Presidente da Câmara Municipal Arnaldo Teixeira de Azevedo, se transladaram os restos mortais de Koeler do cemitério para aqui (Petrópolis e seus monumentos, Coordenação Geral: José Ribeiro de Assis, pág. 47).

Estamos, portanto, no local do repouso terreno de Koeler morto. A lembrança vale para nos levar ao respeito e à concentração que o especial campo santo pede e que a generosa emoção que queremos ter exige.

A seguir, levantemos os olhos para além do monumento e nos deixemos invadir pela beleza deste verde das encostas do Quarteirão Francês, destas majestosas e variadas árvores, destas matas que compõem o mesmo rico cenário que Koeler viu e que, por obra dele e dos que desenvolveram o seu plano, foram protegidas para o bem da população.

O deslumbramento frente a tanta natureza viva e esplendorosa nos comova.

Alguns dos princípios da boa qualidade de vida humana, preocupação já de Koeler e tema atualíssimo, aí estão na existência destas árvores que viram Koeler vivo e hoje testemunham a nossa presença na Praça Princesa Isabel.

Consideremos também que perto de nós, em galeria subterrânea, passa o Rio de Almeida Torres.

As águas deste riacho, originário das encostas que dão para trechos das Ruas Fonseca Ramos e Alberto Torres e para a Avenida Ipiranga, correm por toda a extensão do centro da grande avenida, cruzam esta praça, escondidas, quase debaixo de nossos pés, e se lançam no Rio Quitandinha ali, em sua margem direita, pouco depois da ponte, como pode ser verificado por observador que se coloque na margem oposta.

Descobrir isto, pela contemplação dos bem talhados e bem assentados blocos de pedra que formam a barra do pequeno Almeida Torres, nos conduz a admirar os pormenores da concepção e da execução do plano urbanístico de Petrópolis.

Os minuciosos cuidados, assim revelados, para a perfeita produção da imaginada cidade, nos devem igualmente emocionar. São as quase imperceptíveis e mágicas pinceladas de retoque com que o pintor sopra vida em suas telas.

Já com as vistas voltadas para o Rio Quitandinha, sejamos arrebatados pelo encanto de suas margens, formadas por base de pedra e parte superior de vegetação, completadas por arborização escolhida. Estão entre as maravilhas do mundo as cidades que podem apresentar quadro semelhante ao que está diante de nós.

Rios e árvores arrumados junto aos caminhos dos homens. Em cada rua, um tipo de vegetação, provocando pela diferença e pela harmonia das formas e das cores resultado salutar para a população.

Casas com amplitude suficiente e solo bastante para sustento e flores. Quem não se engrandece ao viver em lugar bom, bem organizado e belo?!

Que o nosso coração bata forte diante do panorama, criado pelo engenho do homem, somado aos recursos da natureza.

E aqui a Catedral, que Koeler não conheceu, mas para a qual reservou espaço, base concreta da visão grandiosa do futuro, lição que profundamente nos anime aos sonhos mais altos com os pés no chão.

Nosso olhar extasiado em direção às belezas que vemos seja a homenagem melhor que prestamos a Koeler.

Este não é o centro geográfico da cidade de Petrópolis, mas certamente é o seu coração. Nele depositemos o nosso.

E aperfeiçoemos com tudo isso o nosso compromisso de construir o futuro, atentos aos ensinamentos do passado que se dirigiram essencialmente ao bem-estar da pessoa humana, a fim de que façamos de todos os cantos do Município inteiro de Petrópolis um lugar de realização e de felicidade para todos.

Temos o exemplo. Com a correção das deturpações e com as adaptações do progresso, cabe-nos estendê-lo em benefício de cada habitante de Petrópolis.

Muitos dentre os Senhores estão vindo de ato religioso em favor de Koeler. Unidos como filhos diante do Pai Supremo, de novo peçamos a Ele que, por seus insondáveis caminhos, dê a Koeler a paz eterna.

Perante este túmulo, olhemos as obras da ordenação fundamental da cidade, olhemos as árvores, olhemos o rio, olhemos as montanhas, olhemos as cores que aqui há e, emocionados pelo bem e pela beleza, digamos: Obrigado, Koeler!