O CINE-CLUBISMO EM PETRÓPOLIS
Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira
O cine-clubismo em Petrópolis também teve a sua época. Pelo menos, que conheci, existiram dois: O Cine Clube Chaplin e o CEPEC (Centro Petropolitano de Cinema).
Sobre o Cine Clube Chaplin não obtive muita informação e ficarei devendo aos amigos que estão acompanhando essa rememoração da atividade cinematográfica em Petrópolis. Fica aberto o espaço do DIÁRIO DE PETRÓPOLIS para aquele que se dispuser contar a história do clube.
O CEPEC conheci bem de perto. Era freqüentador assíduo nas noites de sábado do Auditório do Museu Imperial, onde eram realizadas as sessões. Os dirigentes do clube foram Fernando Morgado, que conhecia tudo sobre cinema e escrevia coluna especializada na imprensa petropolitana; Eduardo Ferreira e Geraldo Guimarães, que promoviam as sessões, cuidavam da divulgação, atendiam a todos à entrada do auditório, o hoje poeta José Damião que trabalhava muito pelo clube e o professor Maurício Cardoso de Melo Silva que emprestou o brilho de sua inteligência a uma fase da entidade.
Foi fundado no ano de 1959, nos idos de agosto e perdurou por 5 anos, até 1963. Utilizava dois projetores de 16mm: um do Museu Imperial e o outro alugado ao fotógrafo Pinheiro. Obviamente, como todo bom cine-clube a projeção era deficiente, as cópias que vinham nem sempre estavam em boas condições, as máquinas de projeção eram frágeis, antigas e sempre necessitando reparos e muita vez a sessão correu com apenas um projetor ou foi cancelada por motivos técnicos que eram: máquinas sem condições, cópias de fitas em mau estado, falha da distribuidora dos filmes que não enviava a cópia para exibição, enfim, se os dirigentes e sócios levavam o clube a sério e curtiam o prazer de assistir seus filmes prediletos, os circunstantes nem sempre colaboravam a contento. Mas um cine-clube autêntico tinha que passar por todos esses percalços e todos compreendiam e colaboravam com o esforço dos dirigentes.
Mas chega o dia em que as condições gerais não mais favorecem a continuidade de uma organização como o CEPEC e, por isso, encerrou suas atividades no final do ano de ‘963.
Para relembrar a qualidade da programação, aqui vão alguns títulos exibidos pelo CEPEC, na sua última fase: anos de 1962 e 1963: “Os Gangsters (Le Grand Chef)”, com Fernandel e Gino Cervi; “Momento Sublime (Il momento piu bello)”, de Luciano Emmer, com Marcello Mastroiani e Giovanna Ralli; “Deuses Vencidos(The Young Lions)”, de Edward Dmytryck, com Maximilian Schell e May Britt; “Tortura do Silêncio (I Confess)”, de Alfred Hitchcock, com Montgomery Clift, Anne Baxter e Karl Malden; “Mercado de Ladrões”, de Jules Dassin, com Richard Conte, Valentina Cortese e Lee J. Cobb; “Hiroshima, Meu Amor (Hiroshima mon Amour)”, de Alain Resnais, com Emmanuelle Riva e Eiji Okada; “O Ferroviário (Il Ferroviere)”, de Pietro Germi, com Pietro Germi e Silva Koscyna; “Estígma da Crueldade (Bravados)”, de Henry King, com Gregory Peck, Joan Collins e Stephen Boyd; “A Confissões de Inah Khar”, de G. B. Pabst, com Curt Jurgens e Elizabeth Muller; “O Tigre da Índia (Der Tiger Von Schnapur)”, de Fritz Lang, com Paul Hubschimidt e Debra Paget; “O Caminho da Esperança (Il Camino de la Speranza)”, de Pietro Germi, com Raff Vallone e Elena Varzi; “O Pecado Mora ao Lado (The Year Seven Itch)”, de Billy Wilder, com Marilyn Monroe, Tom Ewell e Evelyn Keyes; “Sem Lei e Sem Alma (Gunfight at “OK Corral)”, de John Sturges, com Kirk Douglas, Burt Lancaster e Ronda Flemming; “Rififi (Du Rififfi Chez les Hommes)”, de Jules Dassin, com Jean Servais e Magali Noel; “Aconteceu Naquela Noite (It Happened one Night)”, de Frank Capra, com Clark Gable e Claudette Colbert; “Por Ternura Também se Mata (Porte de Lilás)”, de René Clair, com Pierre Brasseur, Georges Brassens, Henri Vidal e Danny Carrel; “A Árvore dos Enforcados (The Hanging Tree)”, de Delmer Davies, com Gary Cooper, Jorhn Dierkes, Maria Schell e Karl Malden; “Sangue do Meu Sangue (House of Strangers)”, de Joseph L. Mankiewicz, com Richard Conte, Susan Hayward e Edward G. Robinson; “O Príncipe e a Parisiense (Une Parisiense)”. de Michel Boisrond, com Charles Boyer, Brigitte Bardot e Henry Vidal; “Jornada Tétrica (Wind Across Everglades)”, de Nicholas Ray, com Richard Burton e Burl Ives; “Somente Deus por Testemunha (A Night to Remember)”, de Roy Baker; “Aquele Caso Maldito (Un Maledetto Imbroglio)”, de Pietro Germi, com Pietro Germi, Claudia Cardinalle e Eleonora Rossi Drago; “Mercado Proibido (Stakeout on Dopestreap)”, de Irving Kershner; “Jesse James (Jesse James)”, de Henry King, com Tyrone Power, Henry Fonda, Linda Darnell, Randolph Scott, Brian Donlevy, Nancy Kelly e John Carradine; “Minha Luta (Main Kampf), de Erwin Leiser; “As Três Máscaras de Eva (The Three Faces of Eve)”, de Nunnaly Johnson, com Joanne Woodward, David Wayne e Lee J. Cobb; “Rastros de Ódio (The Searchers)”, de John Ford, com John Wayne, Jeffrey Hunter, Vera Mills, Ward Bond, Natalie Wood e Ken Curtis; “Os Amantes (Les Amants)”, de Louis Malle, com Jeanne Moreau, Jean Marc Boury e Alain Cuny; “Um de Nós Morrerá (The Left Handed Gun)”, de Arthur Penn, com Paul Newman e John Dehner; “As Mulheres dos Outros (Pot Bouille)”, de Julien Duvivier, com Gerard Phillipe, Danielle Darrieux, Danny Robin, Anouk Aimée e Jacques Duby; “Exito Fugaz (Young Man with a Horn)”, de Michael Curtiz, com Kirk Douglas, Lauren Bacall e Doris Day; “Europa 51 (Europa 51)”, de Roberto Rosselini, com Ingrid Bergman e Alexander Knox; “Romance na Itália (Viaggio in Italia)”, de Roberto Rosselini, com Ingrid Bergman e George Sanders; “Odeio essa Mulher (Look Back an Anger)”, de Tony Richardson, com Richard Burton; “Audazez e Malditos (Sargeant Rutledge)”, de John Ford, com Jeffrey Hunter, Woody Stroode e Angie Dickinson; “As Virgens de Salem (Les Sorcières de Salen)”, de R. Rouleau, com Yves Montand, Simone Signoret e Mylene Demongeot; “Confidências de um Assassino (Crime and Punishment)”, de Dennis e Terry Sanders, com George Hamilton e Mary Murphy; “O Rei dos Facínoras (The Rise and Fall of Leg’s Diamond)”, com Ray Danton; “A Máscara do Demônio , de Mario Bava, com Barbara Steele; “Romeu e Julieta nas Trevas (Romeu, Juliet A Tma)”, de Jiri Weiss; “Matar ou Morrer (High Noon)”, de Fred Zinemann, com Gary Cooper, Grace Kelly, Katy Jurado, Lon Chaney Jr. e Thomaz Mitchell; “A Grande Noite de Loucuras (La Notte Brava)”, de Mauro Bolognini, com Rossana Schiaffino, Antonella Lualdi, Mylène Demongeot, Elza Martinelli, Laurent Terzief, Jean Claude Brialy, Franco Interlenghi e Thomaz Millian; “Paisá (Paisá)”, de Roberto Rosselini, com Carmela Sazio e Robert Van Loon; “Umberto D (Umberto D)”, de Vittório de Sicca, com Carlo Batisti e M.P. Casilio; “Pacto Sinistro (Stranger on a Train)”, de Alfred Hitchcock, com Robert Walker, Farley Granger e Ruth Roman.
As fitas citadas são apenas uma amostra do que o CEPEC exibia. Na maioria eram filmes europeus que tinham distribuição irregular e dificilmente chegava ao espectador através dos cinemas e invariavelmente exibidos em temporadas curtas. Verdadeiros clássicos daqueles tempos, notadamente toda a safra do neo-realismo italiano e os mais representativos filmes da produção americana.
Em novembro de 1962 o CEPEC trouxe a Petrópolis, para uma palestra sobre a Sétima Arte, o crítico e professor de cinema Sylvio do Valle Amaral. conferência ilustrada com cenas de filmes famosos como “Intolerância” e “O Nascimento de uma Nação”, de Griffith, “O Grande Roubo do Trem”, de Edwin S.Porter, “Henrique V”, de Laurence Olivier e outros.
Na noite de 24 de novembro de 1962 o clube exibiu um documentário sueco de longa metragem, inédito na cidade, “Minha Luta (Mein Kampf)”, de Erwin Leiser, sobre Adolph Hitler, assunto de grande interesse pois foi realizado com cine-jornais e filmes secretos dos arquivos do grande louco. A pequena sala do Museu Imperial ficou lotadíssima.
O clube exibia sempre documentários inéditos assinados por grandes nomes do cinema mundial, como “Gaughin”, de Alain Resnais. Sempre que podia incluía no programa um desenho animado. Era uma sessão completa de cinema para todos os gostos.
O associado pagava uma mensalidade, aplicada no aluguel das fitas, tinha uma carteirinha para acesso e era o melhor divulgador do clube. Vejo, ainda, no programa distribuído semanalmente, a frase: “Faça de seu amigo um novo sócio e prestigie as sessões do CEPEC”.
Os tempos foram mudando, as dificuldades aumentando, o país no início de l964 bastante tumultuado e depois a radical mudança política de 1º de abril, contribuíram para o encerramento das atividades do clube que, nos anos em que funcionou, foi um verdadeiro painel dos melhores filmes produzidos pelo cinema mundial.