CAUSOS DE POLÍCIA EM PETRÓPOLIS
Mariza da Silva Gomes, associada honorária
INTRODUÇÃO
O presente trabalho “Causos de polícia em Petrópolis” tem como objetivo resgatar artigos variados publicados nos jornais de Petrópolis, especialmente na Tribuna de Petrópolis, que era o órgão de grande importância em nossa cidade. O período consultado compreende entre 1900 até 1930 onde podemos observar através dos artigos a realidade cotidiana do povo petropolitano.
Poderemos observar que no período de 1900 no jornal Gazeta de Petrópolis os fatos agravantes ocorridos em nossa cidade eram escritos em negrito com letras maiúsculas no intuito de chamar a atenção do leitor.
A imprensa local começa a apoiar os mais variados pedidos e reclamações do povo petropolitano com a coluna impressa em negrito intitulada “Pelo Povo” – “O povo petropolitano terá nesta columna o seu paládio. Todas as reclamações e queixas que nos forem apresentadas verbalmente ou por escripto, serão immediatamente publicadas, provada que seja sua exactidão” (jornal Gazeta de Petrópolis 20/12/1902 – pág. -1/coluna 04)
Em 16/01/1904 os destaques em negrito publicados no jornal Tribuna de Petrópolis referentes aos acontecimentos policiais, são chamados de “Com a policia”.
Outro titulo que pode ser destacado como “causos”, são descritos na imprensa em uma coluna criada pela Tribuna de Petrópolis no ano de 1907, chamada “Na policia e Nas ruas”, sendo que a mesma só ganhou força em 20/01/1909 quando o subdelegado de polícia era o Sr. Napoleão Olive, segundo o jornal: “A população percebe que a imprensa é o meio de comunicação que consegue alertar as autoridades para que a cidade esteja mais limpa, menos violenta e com menos desordem” (Tribuna de Petrópolis 19/01/1909).
O lugar ocupado pela coluna no jornal era invariavelmente no verso da capa. No entanto, o tamanho da coluna variava de acordo com a importância da reclamação dos populares ou com a gravidade do crime cometido, que, aliás, era identificado pela nacionalidade, cor de pele, idade, endereço do autor do: homicídio, vadiagens, mendicidade, prostituição, furto, agressão, embriaguez, crimes diversos, suicídios etc. O início da matéria possuía o título sempre em “negrito”, talvez para chamar a atenção dos leitores e, logo após, a identificação do delegado que fez a ocorrência ou a prisão do elemento.
Essas colunas se tornaram com o tempo, bastante populares, tornando-se um canal de comunicação entre a polícia e a população petropolitana, onde destacamos que a partir de 1911 os artigos vinham em negrito com o título de “O Que o Povo diz”, onde a própria população fazia as suas reclamações e denúncias por meio de cartas que eram dirigidas ao redator da Tribuna de Petrópolis.
Podemos observar que neste período a população petropolitana que vivia na cidade era de classes variadas, predominando um grupo social de classe média e até mesmo um grupo onde a pobreza se destaca pelas denúncias impressas nos períódicos das colunas policiais.
Em artigo publicado no jornal Gazeta de Petrópolis de 10/08/1901 intitulado “Guarda Nocturna” é dado destaque a uma “Comissão de negociantes desta cidade, a cuja frente se acham os Senhores Antonio Martins de Oliveira, João Napoleão Olive, Guilherme Eppinghaus, Frederico Francisco Lopes e Manuel Gomes Coelho Loureiro, pretendem levar a effeito a organização de uma Guarda Nocturna”.
Vale ressaltar que a estrutura policial em Petrópolis era constituída pelo Delegado que era o responsável pela ordem e pelo bom andamento da cidade, que acumulava a função de Subdelegado de policia e coordenava as ações da policia no centro e nos outros distritos. Tínhamos também a figura do Inspector que era incumbido de coordenar, manter a ordem e instruir os processos criminais; o 1º Detetive responsável por levantar e apurar os culpados dos crimes, e o Comissário que era nomeado pelo subdelegado que tinha a responsabilidade de patrulhar toda a cidade com autonomia para agir em todos os distritos.
Por fim temos as figuras da policia militar e dos Guardas Noturnos; estes tinham a função de controlar e substituir em alguns casos a ausência do corpo policial, agindo no centro da cidade para controlar alguns desordeiros e gatunos que perambulavam pela noite no centro.
Podemos destacar no artigo do dia 25/06/1903 – pág. 01/coluna 05 – intitulado Guarda Nocturna que “Tendo o sr. chefe de policia resolvido alterar a organização desta Guarda, que tem funccionado desde 01/09/1901 com o Regulamento approvado pelo seu antecessor o sr. dr. Leonel Loreti, enviou para o presidente da Commissão Central o novo regulamento a qual em reunião ocorrida na noite do dia 19, ás 8 horas resolveram por unanimidade, não acceitar o novo regulamento que lhe era imposto por conter disposições contrarias ao fim para o qual foi organizada a Guarda Nocturna, suspendendo nesta mesma noite o serviço de vigilância por tempo indeterminado”. Assinado João Napoleão Olive, secretario. Petrópolis 19/06/1903
Em outro artigo descrito pelo jornal Gazeta de Petrópolis de 03/09/1903 – pág. 01/coluna 05 – é relatada a inauguração do Corpo dos Vigilantes Nocturnos de Petrópolis – “Ás 10 horas da noite reunidos no edifício da Associação dos Empregados no Commercio, á avenida 15 de Novembro, grande numero de cidadãos, foi o Sr. Dr. Martins Junior, secretario do interior, convidado á assumir a presidência da sessão, sendo suas palavras cobertas de salvas de palmas, onde ao final da solenidade saíram os vigilantes nocturnos sendo distribuídos pelas diversas ruas da cidade”.
O uniforme dos guardas nocturnos consta de blusa preta com canhões verdes e botões amarellos, calça preta, capote e bonet de oleado com tuma chapa de metal amarelo contendo as letras G. N. P. constando o armamento de sabre.
Cabe ser ressaltado que houve uma mudança comportamental entre a imprensa e a policia a partir de 1908, quando a delegacia passou a se comprometer a enviar os boletins de ocorrências para a redação do jornal Tribuna de Petrópolis.
A seguir destacamos o artigo do dia 25/06/1909 – pág.02/coluna 03 – intitulado “Gabinete de identificação” – O sr. Capitão Ladisláo Cossich, delegado de policia informa que de janeiro do corrento anno até data de antehontem foram identificados na delegacia de policia desta cidade 62 individuos, sendo 55 homens e 7 mulheres. As causas das prisões foram as seguintes:
Desordem – 20
Vagabundagem – 19
Embriaguez – 06
Gatunagem – 04
Defloramento – 03
Ferimentos Leves – 02
Attentado ao Pudor – 02
Homicidios – 01
Uso de Armas – 01
Em artigo descrito no jornal Tribuna de Petrópolis do dia 06/02/1912 – pág. 01/coluna 04 – o commandante da guarda nocturna em Petrópolis major João Napoleão Olive, apresenta relatório dessa corporação, informando que o numero de vigilantes que no principio do anno era de 4 subiu para 14, sendo que o pessoal da guarda acha-se todo correctamente uniformizado e armado. Á noite, ainda em commemoração, reuniram-se no quartel da guarda, que se achava bellamente ornamentada com bandeiras e balões venezianos.
Podemos observar a grande importância que a guarda nocturna representava em nossa sociedade em outro artigo descrito no jornal Tribuna de Petrópolis em 10/04/1912 – pág. 01/coluna 02 – “Pelo relatório que temos em mão, pode-se ver quanto fecunda tem sido a direcção dessa útil corporação comandada pelo major Napoleão Olive. Não recebendo auxilio algum do município nem do Estado, a Guarda Nocturna mantem-se exclusivamente do producto das contribuições dos assignantes, dos moradores que contribuíam para os mesmos vigiarem suas casas conforme o artigo descrito na Tribuna de Petrópolis de 21/08/1916 – pág. 01/coluna 04 e dos comerciantes locaes.
É tal a prova de confiança que o commercio deposita nos vigilantes dessa corporação, as chaves das portas das suas residências, para em casos extraordinários prestarem serviços urgentes. A isto deve juntar-se o grande numero de objectos de valor que tem sido encontrados e depositados no quartel, onde têm sido entregues aos respectivos donos. Dos factos ocorridos durante o anno, o relatório menciona o seguinte:
Vadiagem – 40
Desordem – 16
Actos indecorosos – 08
Roubos – 10
Raptos – 01
Accidentes – 06
Outro grande fator ocorrido em nossa cidade é sobre a “mendicância” exploradora como podemos destacar em artigo publicado na Tribuna de Petrópolis no dia 29/10/1916 – pág. 01/coluna 05 – sob o título de “Os mendicantes perigosos”
– Nunca será de mais tudo quanto se disserem contra a vexatória e perigosa imunidade que gozam, em Petrópolis, os falsos mendigos, que exploram a caridade publica. É o que se observa em nossa cidade do grande mal social que percorrem as nossas avenidas, aos sabbados, de ambos os sexos e todas as edades. Ainda hontem, esta folha referiu um caso curioso ocorrido entre um mendigo e um garoto moleque que por alli perambulava, e que entendeu de se divertir com o “pobre” falando gracejos delle, quando o mendigo atirou para o lado a suposta muleta que o sustentava, sacando do bolso contra o moleque um revólver, onde tentou descarregá-lo sobre o menor. A polícia deve encontrar esse mendicante audaz e perigoso.
De acordo com o artigo da Tribuna de Petrópolis de 26/02/1920 os números oficiaes fornecidos pela Diretoria Geral de estatística, do Ministério da Agricultura a população de Petrópolis era constituída de:
– 1º Distrito (Cidade)………………………………………38.180
– 2º Distrito (Cascatinha)…………………………. ………6.844
– 3º Distrito (Itaipava)……………………………………….2.509
– 4º Distrito (Pedro do Rio)……………………….. ……..6.716
– 5º Distrito (S. José do Rio Preto)………………. …….9.336
TOTAL……………………………..63.045 (população)
Em artigo publicado na Tribuna de Petrópolis de 09/07/1921 – pág. 01/coluna 04 – intitulado “Guarda Nocturna”, verificamos o contentamento pela nova reorganização da mesma pelos dizeres: “Está reorganizada e sob melhores auspícios, a Guarda Nocturna, instituição que já tivemos e que foi desaparecendo lentamente, até acabar.
A frente dessa bella iniciativa collocaram-se os srs. Coronel Rubens de Andrade e Arnaldo Teixeira de Azevedo, que afirmam que a nova guarda virá prestar os melhores serviços a nossa sociedade e não será um calvário para os seus servidores, como era a antiga, em que cada guarda se dava o salário de 2$500 por noite de trabalho, assim mesmo pago com atraso, e ás vezes em vales para casas comerciaes.
“A nova Guarda Nocturna vae ser inaugurada hoje, usando os guardas fardamento novo e bom. A sua sede está installada em uma sala, nos fundos do quartel da policia, na Avenida 15 de Novembro”.
Em outro artigo na Tribuna de Petrópolis de 08/10/1921 – pág. 01/coluna 04 – podemos destacar elogios feitos pela imprensa ressaltando “os esforços destes illustres cavalleiros da Guarda Nocturna á sociedade petropolitana que acabaram, de vez, com as queixas constantes de furtos de gallinhas, tão communs, e isso já representa alguma coisa digna de registro em beneficio desta corporação”.
Porém verifica-se que no levantamento realizado referente á quantos inquéritos ocorreram no 1º trimestre na delegacia de polícia e imprenso no jornal O Commércio de 26/04/1924 – pág. 01/coluna 06 – podemos afirmar que os dados não correspondem com os fatos narrados nos artigos pesquisados, visto que as ocorrências eram constantes na nossa cidade de todos os tipos. Vamos aos dados que foram apresentados:
Offensas physicas – 05
Atropelamentos por automóveis – 07
Defloramentos – 03
Roubos – 05
Homicídios – 01
Em vários artigos publicados na Tribuna de Petrópolis intitulados “Acabemos com as espeluncas” é destacado que “Petrópolis está se transformando numa cidade de vícios e de perdições, onde a vida não é dos forasteiros, mas a dos habitantes. Por todos os cantos se jogam em espeluncas e botequins – é o grande mal, o supremo mal de Petrópolis”. Podemos observar alguns desses artigos a seguir:
– 17/04/1919 (pág. 01/coluna 01) – “A Malandragem que se vão desenrolando de um tempo em nossa cidade, estão exigindo enérgicas medidas policiaes para a repressão dos inúmeros delictos commetidos por elementos estranhos, onde em sua maioria passam o dia e a noite em botequins bebendo onde o palavreado e atitudes ferem a moral publica. Outros permanecem durante o dia nos infectos casebres, que tomam por aluguel em quarteirões afastados da cidade, sahindo apenas á noite para praticar roubos nos quintaes e casas, ou depredando e quebrando lâmpadas da iluminação publica pelas ruas da cidade”
– 12/01/1924 (pág. 01/coluna 03) – outro artigo é destaque “Abaixo as espeluncas” – Recebemos hontem a seguinte carta: “Como leitores assíduos desse respeitável orgão de publicidade, vimos pelo presente prestar nossa solidariedade pela campanha contra as espeluncas e casas de jogos que infestam a nossa formosa cidade. Pedimos a fineza de denunciar pelo seu jornal ás autoridades competentes a Villa Ipyranga, á rua José Bonifácio, transformada em pensão chic, onde se reunem moços bonitos e mulheres de vida fácil, promovendo escandalos diarios, principalmente á noite, e pertubando o socego e o decôro das familias e moradoras na referida rua”.
– 02/09/1924 (pág. 01/coluna 03) – consta o artigo “Ainda a jogatina” – “Apesar das providencias tomadas pelo actual delegado dr. Mario Dias prohibindo a jogatina que se vinha ramificando por toda a cidade, continua ella a ser explorada por alguns aventureiros, que, sem o menor escrúpulo, vão burlando a acção policial. Sob o titulo de cluns chic, algumas vão reapparecendo, como a do sobrado da Confeitaria Falconi, na avenida 15 de Novembro, onde são bancados todos os jogos de azar”.
– 08/04/1925 (pág. 01/coluna 01) – é descrito uma entrevista com o delegado de polícia dr. Mario Dias, referente aos roubos e furtos em Petrópolis – “Como sabe, diz dr. Mario Dias, Petrópolis é uma cidade que se encontra, desde muito annos, em franco progresso, no mais acelerado progresso, onde as casas vão se acelerando pelos quarteirões afastados, entretanto o número de praças do destacamento local, ao invés de crescer, diminui. Só disponho, agora de 21 praças para o policia.