COLONOS DA VALÔNIA PRUSSIANA (OS)

Ricardo Pereira Amorim, Associado Titular, Cadeira n.º 39 – Patrono Walter João Bretz

Muitas famílias de colonos, vindos para Petrópolis em 1845, são pertencentes à etnia valã, oriundos daValônia (atualmente Bélgica), região conhecida desde a Idade Média, como confirmam Jean de Haynin, (Mémoires, 1465-1477), Jean Lemaire de Belges (Illustrations de Gaule, 1510), os mapas dos monges Capuchinhos de 1610 e de 1654. A Valônia compreendia parte do antigo Ducado de Luxemburgo, o Principado do Liége e área fronteiriça com a França. Departamento francês na Revolução Francesa e, em 1815, com a queda de Napoleão Bonaparte, tem regiões anexadas ao Reino da Prússia.  Perde-se a cidadania francesa e a região passa a ser designada Valônia Prussiana (texto de Robert Cristophe, História de Malmedy). O colono Johann Noel pai e esposa Elisabeth Mathieu, nascidos antes de 1806, em Neuhütten, nacionalidade francesa e cidadania prussiana após a anexação. Os Noel e outras famílias eram originárias da Valônia (atualmente parte do território da Bélgica), migrando para trabalhar em Züsch, Mariahütte, Neunhütten, etc, como lenhadores-carvoeiros, renovando a indústria metalúrgica e repovoando as regiões dizimadas pelas pestes e Guerra dos Trinta Anos. Remacle Joseph Hauzeur, oriundo de uma família com tradição em metalurgia, do Principado de Liége, aproveita que vários estados germânicos estão sob proteção da França e traz a maioria das famílias valãs para a região de Hunrück, que o ajudam na Construção do famoso Martelo de Züsch e outras forjas. Foram várias migrações: Züsch (1658 Jean Mariotte,1694 Hauzeur); Abentheuer (1672 Jean Hujet, 1699 Hauzeur); Otzenhausen (1668); Neunkirchen (1686 Hauzeur), entres outras regiões. A historiadora Liane Sebastian relata mais migrações (1703-1743), pela necessidade de mais mão de obra especializada.

O historiador Walter Petto, descendente dos Bideau, escreveu como viviam: construção da capela de Züsch: manter o padre que vinha da Valônia, acordar 4 horas da manhã, missa às 5 horas, trabalho árduo (cortar arvores, lenha para carvão, trabalhar nos fornos); às 17 horas ajudam nas hortas familiares. Muitos habitavam em cabanas de madeira (hütte); porém seus assentamentos eram bem organizados, com “prefeitos”, como Johan Collin, de Mellier (Arlon).

Falavam francês, a língua valã (existem vários patois valões até hoje), além dos franciques luxemburguês e renano. O ensino de francês, patois e latim era na Paróquia (os nobres tinham seus tutores). O contrato de Hauzeur com o von Hunolstein está escrito em francês e este último se assina como Ernest Louis. Mesmo com a anexação pela Prússia; era permitido aos valões utilizarem o francês e o patois de Liége; Malmedy (hoje na Bélgica) foi o centro de difusão do patois de Liége e do francês na Prússia, muito falado em Züsch e arredores (ler obras de Nanny Lambrecht).

Após 1866, proibição do ensino de francês e obrigação dos funcionários públicos utilizarem apenas o alemão, muitos registros de nomes mudaram (alguns anteriormente). As modificações mais frequentes: Laurent(Lorang), Bideau (Petto), Delvaux (Dellwo, Delvo), Collin (Kolling), De Temple (Detemple) Mauber (Momber) entres outros. Jehan e Johan eram prenomes típicos, parecido com Johann germânico. Em 1871, proíbe-se o ensino do patois e reprime-se a cultura valã (Revue Wallonia número 18, de 1910). Estes colonos, quando vieram para Petrópolis, trouxeram todas as suas tradições: católicos, excelentes madeireiros-lenhadores (como os Noel), Tradição da Festa de São João (comum em Ethe e no Gaume, ver Revue Le Pays Gaumais, 1957), tradição cervejeira (com cervejas seculares como Orval), entre outras tradições. Muito desta pesquisa devo ao estimado historiador, pesquisador e genealogista Paulo Roberto Martins de Oliveira, recentemente falecido, descendente dos Noel, que sempre me auxiliou com seus conselhos. Gostaria de agradecer ao Museu da Vida Valã, Liége, pelo auxílio nas pesquisas; local que deve ser visitado pelos descendentes.