DIÁRIOS DE D. PEDRO II: VIAGENS DE CONHECIMENTO E RECONHECIMENTO
Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, associada titular, cadeira n.º 27, patrono José Thomáz da Porciúncula
Thais Cardoso Martins
1. Introdução
A História, cujo objeto precípuo é observar as mudanças que afetam a sociedade, e que tem por missão propor explicações para elas, não escapa ela à própria mudança. Existe portanto uma história da história que carrega o rastro das transformações da sociedade e reflete as grandes oscilações do movimento das idéias (…). (RÉMOND, 2003, p. 13)
Este trabalho é um desdobramento da pesquisa desenvolvida pela equipe do Arquivo Histórico do Museu Imperial relacionada ao projeto Conjunto documental relativo às viagens do Imperador D. Pedro II pelo Brasil e pelo mundo, nominado pela UNESCO com o Registro Nacional Memória do Mundo do Brasil, em 2010. O grande desafio para a equipe que analisa esta documentação com vistas à elaboração do dossiê a ser apresentado para a candidatura ao Registro Memória do Mundo Internacional da UNESCO, em 2012, é refletir sobre fontes exaustivamente examinadas, a partir dos novos domínios e abordagens historiográficos, das novas perspectivas teóricas e metodológicas e do novo paradigma institucional, pautado no Plano Nacional de Cultura, a fim de romper com a perspectiva da historiografia positivista e factual e com as narrativas hagiográficas, laudatórias dos grandes personagens da história.
Este trabalho tem como objetivo principal analisar os documentos relativos à primeira viagem de D. Pedro II às províncias do sul, entre 1845 e 1846, os diários da sua segunda grande viagem pelo Brasil, de 1859 a 1860, e o diário da viagem à América do Norte, em 1876, como fontes que nos possibilitam perceber o processo de consolidação do Estado Nacional, de construção da identidade nacional e de conhecimento e reconhecimento do chefe da Nação, e também da construção de si do imperador enquanto agente histórico, primando pela interdisciplinaridade entre a História e a Arquivologia e a História e as Ciências Sociais, além de mostrar as possibilidades de utilização de um arquivo privado, a partir de uma abordagem micro-histórica, no que ela pode nos revelar a respeito do objeto de estudo: a trajetória de vida de D. Pedro II.
Esses documentos, enfim, são fontes privilegiadas para refletirmos sobre questões mais amplas inerentes ao período monárquico brasileiro, e para buscarmos nos relatos deixados pelo imperador aspectos reveladores em relação à nossa problemática teórica fundamental: a dialética entre agente social e estrutura social, ou como o agente social reelabora aquilo que lhe é apresentado pela estrutura social, ao mesmo tempo em que se autoconstrói neste processo.
2. A viagem dos papéis
O Arquivo da Casa Imperial do Brasil, fundo constituído por documentos de cunho privado pertencentes à família imperial, e reunidos desde o momento da vinda da corte portuguesa ao Brasil, em 1808, foi enviado ao Castelo d’Eu, residência ocupada pela família imperial no exílio, após a Proclamação da República e a decretação da Lei do Banimento em 1889.
A reunião desses registros documentais e seu envio à França foram confirmados e consolidados a partir da profunda ligação existente entre D. Pedro II e seus papéis.
Passados sessenta anos, em 1949, a documentação foi doada ao Museu Imperial pelo Príncipe D. Pedro Gastão de Orleans e Bragança, bisneto de D. Pedro II. Atualmente o fundo documental Arquivo da Casa Imperial do Brasil é custodiado pelo Arquivo Histórico do Museu Imperial e aberto à consulta.
A diversidade de relatos que abrangem os períodos do Brasil Reino, Primeiro e Segundo Reinados e fase inicial da República qualifica esse fundo como um considerável manancial de fontes históricas, muitas delas jamais exploradas.
Esses documentos já haviam sido organizados pelo historiador Alberto Rangel, contratado pela família imperial para executar um considerável e árduo trabalho arquivístico de estudo da documentação, formada por cerca de 80 mil documentos, para a elaboração de um inventário, publicado em 1939 pela Biblioteca Nacional sob o título de Inventário dos Documentos do Arquivo da Casa Imperial do Brasil existentes no Castelo D’Eu.
Os registros contidos nesse fundo documental revelam os meandros de nossa história e possibilitam as contínuas disseminação e produção de conhecimento, funções primordiais das quais devem ser imbuídas as instituições culturais.
No âmbito da elaboração do dossiê de inscrição encaminhado à UNESCO (1), a equipe do Arquivo Histórico fez num primeiro momento um estudo da documentação do Arquivo da Casa Imperial do Brasil, através de seu Inventário, para destacar dentro desse grande fundo unicamente os documentos relativos às viagens do imperador D. Pedro II, baseando-se no recorte temporal obtido a partir de bibliografia especializada: 1840-1891.
(1) O programa Memória do Mundo da UNESCO foi criado em 1992 com o objetivo de identificar documentos ou conjuntos documentais que apresentem valor de patrimônio da humanidade. Esta nominação, focada na salvaguarda e difusão de registros textuais, iconográficos, cartográficos e audiovisuais, equivale à conferida pela UNESCO aos bens culturais arquitetônicos, paisagísticos e artísticos.
A partir dessa etapa, foram selecionados 870 documentos que formaram o conjunto documental sobre as viagens do imperador. O inventário foi, portanto, o principal instrumento usado pela equipe do Arquivo Histórico para conceber o levantamento dos documentos apontados no dossiê enviado à UNESCO.
Neste levantamento nota-se a presença de diários pessoais, cadernetas e itinerários de viagens, correspondências, registros de visitas e contatos do imperador, relatórios de despesas da mordomia imperial, jornais e outros periódicos, panfletos, programas, saudações e homenagens, convites, desenhos e gravuras; fontes primárias representativas de um tempo, as quais conservam as minúcias sempre presentes nos relatos do imperador e a forma pela qual ele próprio cultivava uma constante preocupação com a preservação de seus testemunhos.
Considerando a diversidade e a quantidade de espécies documentais e de assuntos existentes e a descrição sumária dos registros, a equipe de pesquisa notou que o inventário não seria um instrumento eficientemente capaz de indicar todos os documentos relativos às viagens, devido à ausência da pormenorização de fatos e relatos. Em outras palavras, os 870 documentos localizados através do uso do inventário não representam a totalidade de fontes enquadradas nos recortes temporal e temático trabalhado pela equipe do Arquivo Histórico.
Partindo dessa proposição e pensando na candidatura ao registro internacional do programa Memória do Mundo em 2012, a equipe do Arquivo Histórico do Museu Imperial iniciou um trabalho de leitura da documentação do Arquivo da Casa Imperial do Brasil compreendida entre 1840 e 1932, tendo como objetivo o acréscimo de novos documentos ao dossiê.
Esse minucioso trabalho de leitura e pesquisa tem como propósito não somente a localização de novos documentos, mas uma releitura das fontes que, apesar de já terem sido amplamente trabalhadas, não foram exploradas, de modo sistemático, levando-se em consideração as novas perspectivas historiográficas.
No decorrer desta fase a equipe do Arquivo Histórico encontrou documentos que pertencem ao contexto das viagens e que jamais poderiam ser localizados através do inventário publicado. Este processo permite a elaboração de novos verbetes, cujo cunho descritivo analítico complementará e aperfeiçoará o inventário que conhecemos hoje, contribuindo para a consolidação da produção de conhecimento histórico. “(…) o que justifica ou aquilo em que se baseia o tratamento dos arquivos para fins culturais, patrimoniais ou de investigação é a sua qualidade de testemunhos (COUTURE, 1998, p. 122).
A releitura das fontes permite a identificação de assuntos não semelhantes àqueles do contexto das viagens, ocasionando o aperfeiçoamento dos levantamentos documentais já existentes e a criação de novos instrumentos de pesquisa, a partir de assuntos não abordados ou vistos anteriormente nesse fundo documental.
De acordo com a historiadora e especialista na área de Arquivos Bellotto (2006, p. 151), ao pensarmos em Arquivo Histórico é importante adequar o arranjo, ou seja, a classificação que receberão os documentos, ao indivíduo que faz o uso deles, não deixando de respeitar as especificidades dos documentos e de observar sua ordem original. O indivíduo que faz uso desses registros, em outras palavas, o pesquisador é majoritariamente o historiador, que ao se debruçar nas fontes a ele oferecidas, constrói a História.
O trabalho arquivístico aliado à História é benéfico ao pesquisador eventual e ao historiador essencialmente. “O Arquivista não é o protagonista do Arquivo. Entretanto, ele ali está para que a informação (…) seja a verdadeira protagonista a desempenhar seu papel”. (BELLOTTO, 1996, p. 8). A ausência dos preceitos e metodologias arquivísticas tornaria irrealizável o trabalho do historiador.
Segundo Paes (2005, p. 124), a maneira pela qual os documentos de um fundo são classificados, consiste na análise dos documentos quanto a sua forma, origem e conteúdo e deve ser sempre baseada na organização primitiva, que corresponde à organização da entidade que produziu o fundo. O arranjo original, porém, pode ser modificado para corrigir desvios de estrutura geral do conjunto, como o que vem sendo feito pela equipe do Arquivo Histórico do Museu Imperial, ao produzir verbetes mais elaborados e, por vezes, modificar a notação e a localização de um documento que se encontra fora de seu contexto original.
Esse tipo de intervenção ocorreu em determinados momentos da pesquisa. Na fase inicial do processo de leitura da documentação, foi encontrado um relato inédito acerca da viagem às províncias do Sul em 1945 e 1946, escrito a lápis por D. Pedro II no verso de notas de bordo feitas por John Pascoe Grenfell, um militar inglês a serviço do império brasileiro, comandante em chefe da esquadra que conduziu os imperadores a essa viagem. Apesar de não estar assinado, o teor do relato e a caligrafia nos permitiram identificar essa fonte de informações referente a um período caracterizado pela escassez de registros sobre esta viagem no que tange o acervo do Museu Imperial.
Outra modificação importante nos instrumentos de pesquisa foi a localização do início do relato de D. Pedro II sobre a viagem aos Estados Unidos, em 1876, até então descrito no inventário como uma correspondência. A leitura crítica dos documentos permitiu reintegrar ao diário de 1876 este relato fundamental para que a narrativa sobre a viagem aos EUA ganhasse sentido pleno.
Assim, o papel desempenhado pela equipe vem ao encontro do papel do arquivista responsável por Arquivos Históricos, que consiste em “(…) assegurar aos historiadores os testemunhos de cada geração, o modo de pensar e atuar de seus elementos quando em sua contemporaneidade”. (BELLOTTO, 2006, p. 263) Essa realidade permite que concomitantemente à releitura das fontes primárias pautada nos novos preceitos historiográficos, seja identificado no campo arquivístico não mais o paradigma de uma Arquivologia voltada a práticas positivistas, sendo marcante a presença de visões mais amplas e de perspectivas subjetivas.
“Na problemática da constituição do corpus documental e da seleção de fontes, o arquivista pode e deve trabalhar para o historiador, ou melhor, em prol do historiador” (BELLOTTO, 2006, p. 265). Os dois campos do conhecimento, História e Arquivologia, quando observados sob a ótica de Arquivos, constroem inter-relações de constante reciprocidade no que diz respeito à pesquisa histórica em fontes documentais primárias e à produção acadêmica e científica. Enquanto o trabalho do arquivista proporciona as bases instrumentais para a construção da História a partir do estudo e da organização da documentação historiográfica, a análise crítica e a contínua participação do pesquisador dentro do Arquivo permitem a abordagem dos documentos sob diferentes pontos de vista, suscitando novas interpretações e hipóteses de pesquisa, que beneficiarão pesquisadores futuros quando da abordagem de determinados assuntos sob prismas diversificados.
Essa relação de reciprocidade e interdisciplinaridade satisfaz tanto a Arquivologia quanto a História. O projeto desenvolvido pelo Arquivo Histórico do Museu Imperial vem alcançando resultados prósperos a partir do trabalho realizado por parte da equipe e por parte da constante e preciosa contribuição de consulentes.
3. Viagens de conhecimento: reflexões teórico-metodológicas
O conceito norteador do nosso trabalho é o habitus, na acepção que lhe confere o sociólogo Pierre Bourdieu: como um sistema de disposição individual, mas socialmente constituído; como disposições estruturadas, ou seja, socialmente inculcadas; como exterioridade interiorizada, que se exterioriza nas práticas. A partir do senso prático, do sentido que cada cultura fornece ao agente e que pode ser experimentado nas vivências cotidianas, é que Bourdieu aponta uma relativa autonomia para os indivíduos, que não são simples marionetes de estruturas predeterminadas, mas que podem ter margem de autonomia de suas ações. Sem prescindir da objetividade da estrutura social, ou do espaço social, porque há sempre uma “intenção objetiva” que ultrapassa as “intenções conscientes”, Bourdieu reapresenta os agentes às análises sociológica e histórica, os quais passam a ser também responsáveis pelas possibilidades de transformação da estrutura social, o que é o motor do processo histórico.
Segundo Edward Palmer Thompson, em A economia moral da multidão inglesa no século XVIII, o trabalho do historiador deve se aprofundar justamente quando “adquire interesse cultural ou sociológico sério” (THOMPSON, 2005:151), ou seja, quando se apresenta a questão sociológica fundamental: qual o sentido da ação social para o agente social? Compreender a complexidade das ações e das motivações que interferem nas trajetórias individuais ou de grupos torna-se, portanto, fundamental à pesquisa histórica, e requer uma análise qualitativa das fontes.
A abordagem micro-histórica, que visa a aproximar o foco da análise para perceber minúcias e complexidades que de outra forma não seriam notadas, nos parece adequada, principalmente porque elegemos os diários do imperador como meios e fontes privilegiadas.
Em outras palavras, nos utilizamos dos diários para refletirmos sobre questões mais amplas inerentes ao período monárquico brasileiro, e buscarmos nos textos escritos por D. Pedro II aspectos relevantes e reveladores em relação à nossa problemática teórica fundamental: a relação entre indivíduo e sociedade, a dialética sujeito, ou agente social, e estrutura social.
Como afirma Revel (2001, p. 212) “(…) no nível micro, não se vê modelos reduzidos de realidades gerais, mas pode-se, antes de mais nada, perceber agenciamentos particulares da realidade social (…)”, a partir de uma exploração intensiva da documentação.
Ao nos dedicarmos, ao longo de um ano de pesquisa, à leitura de todos os documentos do Arquivo da Casa Imperial do Brasil entre os anos de 1840 e 1932, obtivemos, a partir deste esforço hercúleo, a possibilidade de nos aproximarmos do objeto de estudo – a trajetória de D. Pedro II – e percebermos minúcias e complexidades que de outra forma não seriam notadas.
Os diários do Imperador D. Pedro II e os demais documentos nos permitem perceber a tensão entre os projetos coletivos e os projetos individuais e o enquadramento do agente social – um indivíduo incomum – sobre si mesmo, revelando conflitos desprezados pelos relatos coerentes e unívocos das biografias laudatórias.
Assim, nos deparamos com correspondências, por exemplo, onde as tensões entre o agente social, D. Pedro de Alcântara, e a estrutura social, agrário-aristocrática, são expostas e o conflito do agente, em sua passagem do ethos aristocrático ao ethos burguês pode ser percebido a partir da valorização de novos capitais (o cultural sobre o social, por exemplo), das lutas que perpassam os campos e, particularmente, da tensão entre a ortodoxia – a dominação tradicional, baseada na pessoalidade e nas distinções sociais – e a heterodoxia – a dominação burocrática, fundamentada na racionalidade, na laicização do pensamento, no cientificismo, na burocratização racional do Estado e na separação entre as esferas pública e privada.
O arquivo pessoal de D. Pedro II nos possibilita observar as opções e escolhas do agente social, a rede de relações sociais e as articulações políticas, que revelam, em última instância, os espaços de manobra e de atuação do indivíduo na história (enquanto campo dos acontecimentos).
Analisar esta contradição, por um lado, e repensar ambos os ethos – tanto o aristocrático como o burguês – como paradoxais ao espaço social e absolutamente distanciados da estrutura social brasileira, por outro lado, eis alguns dos desafios a que nos propomos.
4. Viagens de conhecimento: a consolidação do Estado Nacional
Eu disse, Senhor! Que o nosso primeiro trabalho hé o de socegar-mos todos das agitações em que nos precipitarão os Escriptores do décimo outavo Seculo: há dous raros cazos excepcionarios; que formão na Política do Seculo presente, um contraste curioso: A Russia e os Estados Unidos! E como há de correr, entre estas duas Paralellas, a terceira Paralella, que hé a Monarchia Constitucional que se acha na America?! (Luiz Augusto May a D. Pedro II)
Nas décadas de 1840 e 1850 a grande questão com a qual se deparava D. Pedro II era a consolidação do Estado Nacional, como evidenciam as 92 mensagens de Luiz Augusto May (2) escritas ao imperador, entre 1847 e 1848, tratando das questões políticas internas e externas, especialmente acusando a necessidade de uma revisão do Tratado de Independência do Brasil, e da formação e da integridade do Império, quando a defesa da monarquia constitucional e da Constituição de 1824 entra em contradição com a ênfase em prol do uso do poder moderador, e o discurso da legalidade torna-se argumento para a defesa de um Leviatã.
(2) Documentos do Arquivo da Casa Imperial do Brasil. II-POB-Maço 110 – Doc 5430 e II-POB-Maço 111 – Doc 5498. Acervo Arquivo Histórico/Museu Imperial/Ibram/MinC
A primeira grande viagem do imperador pelo Brasil, às províncias do Sul, entre 1845 e 1846, quando vai até o Rio Grande do Sul, ao término da Farroupilha, é uma viagem claramente ligada ao que Ilmar Rohloff de Mattos denomina de expansão para o interior, já que o império brasileiro tinha a necessidade e urgência de construir uma identidade nacional, o que já vinha sendo enfatizado, no plano ideológico, desde a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 1838.
(…) as políticas e práticas reveladoras que o Estado imperial empreendia expansão diferente, como resultado de singular combinação entre a impossibilidade de expansão territorial e a opção pela coexistência da nação brasileira com outras “nações” no interior de um mesmo território. Expansão diferente, mas permanente e constante, do Rio de Janeiro em direção às províncias, atravessando a “roça” e os “sertões”; expansão que ia ao encontro dos brasileiros que pretendia forjar não mais como meros adeptos de uma causa política (…), e, sim, para os inscrever na nação brasileira e imperial, como súditos e cidadãos a um só tempo (…) (MATTOS, 2009, p. 40)
A presença do imperador nas províncias do sul (São Paulo, Santa Catarina e, especialmente, São Pedro do Rio Grande do Sul), neste sentido, é arquitetada de modo a atrelar a presença do Estado brasileiro, representado pelo chefe da Nação, à integridade territorial e à unidade política do Império.
Interessante, no entanto, é notar a dialética de construção e autoconstrução da trajetória de D. Pedro II, a partir deste momento, cuja primeira grande viagem para fora da Corte pode ser considerada um marco.
5. Viagens de reconhecimento: a construção da identidade nacional
É no Rio de Janeiro que se desenrola o paradoxo fundador da história nacional brasileira. (…) A corte do Rio de Janeiro apresentava-se como o pólo civilizador da nação. Tal era o motor do centralismo imperial em face das municipalidades e das oligarquias regionais. Tal era o suporte da legitimidade monárquica (…) emblemático o desajuste entre o chão social do país e o enxerto de práticas e comportamentos europeus. (ALENCASTRO, 2008, p. 10)
A partir da década de 1850, várias correspondências entre D. Pedro II e Francisco Adolfo de Varnhagen e Guilherme Capanema, por exemplo, apontam para a necessidade de o imperador conhecer outras províncias e até mesmo para viagens ao exterior. As correspondências do imperador com Antonio Gonçalves Dias, incumbido de copiar nos arquivos europeus, especialmente na Torre do Tombo, em Lisboa, documentos relacionados à História do Brasil, permitem ao pesquisador mapear o processo de escrita da identidade nacional: do mito fundador indigenista à visão etnocêntrica civilizadora.
Uma carta de Alexandre Herculano (3) a D. Pedro II, de 1856, deixa transparecer detalhes das discussões que tomariam conta das preocupações intelectuais do imperador nas décadas posteriores. Ao comentar, a pedido do imperador, a obra de Gonçalves de Magalhães, A Confederação dos Tamoios, o escritor português propõe o rompimento com as construções míticas e com as epopéias, bases do Romantismo, e defende uma análise cientificista do processo de formação dos povos, em cujo texto fica evidente o caráter evolucionista e etnocêntrico dos argumentos.
(3) Documento do Arquivo da Casa Imperial do Brasil. I-POB-Maço 123 – Doc 6130. Acervo Arquivo Histórico/Museu Imperial/Ibram/MinC.
O fim da década de 1850 é marcado pelas discussões em torno da Comissão Científica que deveria fazer o reconhecimento das províncias do Norte e, ao mesmo tempo em que o imperador se prepara para partir em sua segunda grande viagem pelo Brasil, não só o paradigma de ciência, mas também as relações sociais e políticas baseadas na pessoalidade e as dicotomias político-ideológicas entre liberais e conservadores (se é que realmente existiam), além da posição do governo imperial frente aos poderes locais, entram na pauta dos debates, evidentes na documentação privada do imperador.
Na viagem de 1859, pontuamos em seus relatos sobre a passagem pela Província da Bahia anotações de caráter etnográfico entrelaçadas com observações político-administrativas, destacando-se as muitas referências à adesão e ao reconhecimento da independência do Brasil nesta província, em julho de 1823.
Percebemos como, passados 36 anos do fim das lutas pela independência na Bahia, o assunto ainda é recorrente nas reflexões do imperador, como demonstram os trechos a seguir:
O caminho até Pirajá, na distância de quando muito duas léguas, não é bonito, e está muito pouco cultivado, aparecendo, contudo, de vez em quando, belas mangueiras, e craveiros da Índia e o Cajaíba disse-me que a terra é boa para café. Este barão, que é um perfeito militar, montando muito bem a cavalo, referiu-me que no ataque de 3 de outubro de 1822, junto à Capela da Conceição, o Muniz Tavares, hoje brigadeiro graduado, e mais 2 soldados, se entrincheiraram fazendo fogo a mil lusitanos, enquanto que o corpo comandado pelo Matos de Lucena (que também me acompanhava, como todos os outros oficiais hoje de patente superior no exército e armada, que tivessem tomado parte na luta da Independência nesta província, e puderam ser por mim convidados) se retirou por cobardia do comandante, se não inclui na informação do Cajaíba o haverem lhe tirado o comando do batalhão que ele organizara em S. Francisco para dá-lo ao Lucena que tinha maior patente. (…)
O ataque dos lusitanos, que aí teve lugar no dia 8 de novembro de 1822, foi revestido de circunstâncias singulares, que me contou o Cajaíba. A vitória dos brasileiros deve-se a um corneta trânsfuga português que descompunha, por meio dos toques, o exército lusitano, e neste dia, tocando a retirar, fez com que avançassem os lusitanos para debandarem para o lado do Campo do Cabrito e da Cidade, logo que ouviram os vivas dados a meu pai, pelo major de Pernambuco Santiago; os tiros de uma pequena peça assestada ao lado direito da igreja, para quem segue para o Cabrito, e o toque de degola da cavalaria que deu o tal corneta, quando apenas havia 300 brasileiros sobre que se dirigiam quatro colunas lusitanas, tendo por todos 4 mil homens, uma da parte da cidade, outra do lado do Cabrito, outra de Itapoã e outra em direção à praia próxima, que chegou ao desembarque, quando as outras já se debandavam. (PEDRO II, D., 1859)
Já nos escritos sobre a passagem pela Província do Espírito Santo, sublinhamos as descrições de caráter etnográfico que D. Pedro II faz do seu encontro com os índios puris. O imperador elabora um vocabulário na língua tupi, traduzindo palavras desta para o português. Além disto, registra com alguns desenhos de sua autoria imagens dos índios com os quais esteve. Em outras palavras, os índios puris são objeto de descrições etnográficas, que se coadunam perfeitamente com outros relatos elaborados por viajantes estrangeiros, que percorreram o Brasil no Século XIX.
O que nos chama atenção neste ponto é o fato de que o olhar do viajante sobre a população e a paisagem brasileiras não é mais o do viajante estrangeiro, mas a percepção de um brasileiro: o olhar do próprio imperador. No entanto, cabe a nós indagarmos o quanto este olhar também é europeizado e etnocêntrico.
Salientamos que, se de um lado há muito forte um imaginário construído pela corrente indianista do Romantismo, que foi utilizado em larga escala pelo Estado na primeira década do Segundo Reinado – a época da consolidação – como mito fundador, a fim de afirmar as origens da nação, já em 1859-1860, a noção de processo civilizatório ganha destaque, quando o que sobreviveu da cultura indígena não remete mais às origens edênicas, mas representa a selvageria que precisa ser superada pela civilização.
O chefe dos índios chamava-se Kenknám de 30 anos talvez; não quer dizer nada esse nome, como muitos dos deles. Tem ar muito sério. Os índios que se apresentaram são mutuns menos 2 do Sul, um deles rapazinho excelente atirador. Falam muito, riem e querem sempre comer. Os do Sul são em geral mais bonitos, havendo 2 índias de olhos azuis muito belas e claras e de cabelo ruivo; uma delas mulher do capitão Francisco.
Não quiseram vir com medo por causa do tiro dado num em Cueté. Os índios mostraram sentir muito o calor, mesmo dentro de casa, se não, era preguiça porque está muito suportável. Um velho deitou-se debaixo do canapé onde eu estava assentado.
Dançam em círculo passando os braços por cima dos pescoços dos vizinhos com diversas cantigas em toadas mais ou menos monótonas que um começa; não têm instrumento de música. Festejam assim diversos sucessos, sobretudo caçada, cujas peripécias referem nas cantigas; os Purus também dançam em círculo. Os meninos dançam à parte. Os índios assobiam muito.
Uma mulher dançava com o filho nas costas o qual suspendem pelas nádegas por uma embira que prende na cabeça. Algumas das toadas não me desagradaram e soltam às vezes seu grito ou assobio. As mulheres quando nuas dão um jeito às coxas que cobrem inteiramente as partes genitais, segundo disse o Rl. Pa de Carvalho.
A rapariga tinha os mamilos demasiadamente grossos. Havia um velho chamado Nahén muito rabugento.
Hén é o bicho de caramujo.
Os homens têm apenas buço mais ou menos longo. Ficaram muito contentes com os chapéus, e fumo, sobretudo, com o qual, bebendo água passam 3 dias sem comer, que se lhes distribuíram de minha parte e em minha presença.
Juparanã não sabem o que quer dizer, e Jum é pular na água. Segundo St. Hilaire na língua geral Ju – espinho. (PEDRO II, D., 1860)
6. Viagens de conhecimento e reconhecimento: a construção de si
Há uma passagem, já bastante conhecida, do diário de 1862, que nos dá pistas sobre a reelaboração do ethos, enquanto valores, crenças, modos de pensar, sentir e agir, evidente na trajetória de D. Pedro II:
Nasci para consagrar-me às letras e às ciências, e, a ocupar posição política, preferiria a de presidente da República ou ministro à de imperador. Se ao menos meu Pai imperasse ainda estaria eu há 11 anos com assento no Senado e teria viajado pelo mundo. (PEDRO II, D., 1862)
A década de 1870, marcada pelo fim da Guerra do Paraguai e pela primeira viagem ao exterior, pode ser considerada como a época da transição, quando o ethos burguês começa a se sobressair ao ethos aristocrático e a ruptura com a sociedade de corte é intensificada.
Notamos que as viagens do imperador, que marcam sua trajetória de vida, são viagens de conhecimento e reconhecimento do território e da identidade nacional, mas também claramente ligadas à construção de si mesmo, enquanto sujeito histórico que, em meio às tensões e aos conflitos que perpassam a estrutura social, entre projetos coletivos e projetos individuais, acaba por se redefinir, enquanto sujeito múltiplo, ao mesmo tempo em que a estrutura social em sua passagem à modernidade também é redefinida.
O hábito de D. Pedro II de registrar todas as suas impressões onde quer que fosse, haja vista a profusão de anotações em papéis avulsos, além das 43 cadernetas, de modo extremamente detalhista, nos possibilitou o acesso a fontes privilegiadas pelo que podem nos revelar a respeito do segundo imperador do Brasil e, fundamentalmente, sobre o período monárquico brasileiro.
É emblemática a tese de Lilia Schwartz sobre a construção simbólica da imagem do Imperador D. Pedro II, de órfão da Nação a cidadão cosmopolita e intelectual.
Somando-se a esta tese, é consenso entre os pesquisadores que havia por parte de D. Pedro II uma intenção racionalmente arquitetada para que seus relatos fossem deixados para a história (enquanto campo de conhecimento e como campo de acontecimentos).
Há documentos onde esta vontade é claramente explicitada, como na carta enviada do exílio, em junho de 1891, ao seu procurador Silva Costa (4). Em muitos documentos, correspondências, por exemplo, fica clara a preocupação do imperador com a sistematização e a organização de seus relatos, mesmo que a posteriori.
(4) I-DAS-08/06/1891-PII.B.c. Acervo Arquivo Histórico/Museu Imperial/Ibram/MinC.
No entanto, sem desmerecermos a relevância das estruturas simbólicas para a compreensão da construção do poder político, esta tese peca por sublinhar uma trajetória linear, quando na verdade percebemos movimentos espirais, e também porque há muitos momentos nos diários e na documentação privada do imperador onde, para parafrasearmos a metáfora empregada em As Barbas do Imperador (SCHWARCZ, 2010:25-33), o rei se deixa ver nu. Ou seja, há narrativas que deixam muito evidente que o projeto intencionado pelas elites nacionais para a construção da imagem do imperador e, por conseguinte, do próprio Estado Nacional, começou a destoar do ethos reelaborado por D. Pedro II, gerando uma contradição que, ao fim e ao cabo, levaria ao esgotamento da forma de governo.
Elegemos para efeito de comparação o diário de 1876, a partir do qual é possível observar indícios, a partir das falas, que demonstram o paradoxo e o distanciamento que se criou entre o imperador, enquanto indivíduo, e o seu governo, enquanto chefe de Estado, gerando, nas palavras de Lilia Schwarcz, a “desconfiança para com um imperador que começava a deixar de dialogar com o seu próprio contexto, e se impunha às elites que então controlavam, em boa parte, suas atividades e aparições públicas.” (SCHWARCZ, 2010:371)
O diário da viagem à América do Norte, aos Estados Unidos e Canadá, em 1876, é emblemático neste sentido, porque nos apresenta as impressões do imperador, que percorreu trinta dos cinquenta estados norte-americanos, frente às novas tecnologias, ao processo de industrialização, à instrução, inclusive pública, às relações de gênero, enfim, diante da modernidade. Em muitas passagens o entusiasmo de D. Pedro II, que declara preferir ser recebido como cidadão comum, é totalmente paradoxal para o governante de um país, cuja economia é fundamentalmente agrária e escravocrata e onde 85% da população são analfabetos. Em Washington D.C. observa: Depois de jantar fui à imprensa nacional. 1200 trabalhadores. Salões de 300 pés de comprimento e 76 de largura, para composição, prensas das melhores — uma imprime 7.000 folhas de ambos os lados numa hora. Disseram-me que a máquina não dobra perfeitamente; porém depois o diretor confessou que o governo não adota essa máquina nem a de coser para empregar mais braços. Bela oficina de encadernação — encadernam muito solidamente e com gosto. Há 500 mulheres empregadas. A oficina da eletrotipia é mesquinha. Imprime só para o governo na razão de 700.000 impressos por ano e encadernam na mesma razão. É um estabelecimento digno de ver-se. Montou-se em 1861. (PEDRO II, D., 1876)
Mas nada mais enfático para exemplificar nossa hipótese do que a opinião de D. Pedro II sobre a escravidão nos Estados Unidos, como exemplificam as passagens a seguir:
20 de maio de 1876 – (…) Conversei com uma senhora idosa que perdeu marido e filho combatendo pela causa do Sul. Disse-me que não tinha mais pátria e admirou-se de que visitasse Grant prevaricador. Respondi-lhe convenientemente e ela concordou comigo que o princípio da escravidão tinha tornado antipática a causa do Sul e que, apesar de nada dizer a tal respeito a constituição, não podia estar na mente de Washington, Franklin, Jefferson e tantos outros grandes homens da Independência manter tal princípio. Enfim que neste mundo o resultado valeu muitíssimo, e que era preciso sujeitar-se a ele tendo o consolo de ver a pátria outra vez reunida, formando uma grande nação. A isto acudira ela logo com dois never bem acentuados. (PEDRO II, D., 1876)
24 de maio de 1876 – 6h – Acordei estando nós em Baton-Rouge. Invasão de bárbaros. Já me deram um ramalhete de flores monstruoso, porém muito bonito. Um judeu polaco A. Kowalki dirigiu-me uma saudação em hebraico por escrito, que eu li a ele, o que o encantou.
Estamos a 130 m. de N. Orleáns. Creio que os sulistas hão de incomodar-me com suas obsequiosidades, pois que o bispo já me disse que se fosse possível eles me quereriam para monarca do Sul, como durante a guerra da secessão tiveram intenção de se constituírem monarquia e chamar um soberano de fora. O tom da linguagem deles é de quem ainda não se resignou do resultado de sua imprevidência e, sobretudo, de sua má causa interesseira.
Por ora nada posso dizer, porém o Norte me tem agradado muito mais que o Sul. (PEDRO II, D., 1876)
D. Pedro II foi convidado de honra do Presidente norte-americano, Ulysses Grant, para a abertura da Exposição Universal da Filadélfia, comemorativa ao Centenário da Independência dos EUA. Se nos lembrarmos de que as exposições universais eram vitrines da modernidade, das novas tecnologias e da industrialização, e de que o mesmo General Ulysses Grant – que havia sido comandante em chefe das tropas federais nortistas, que combateram o sul, durante a Guerra da Secessão (1861-1865) -, aparece ao lado do imperador na abertura da Exposição de 1876, quando, naquele momento, o Brasil se assemelhava muito mais ao sul dos EUA à época da guerra – agrário e escravista -, torna-se ainda mais evidente o desajuste entre o ethos do imperador e a realidade brasileira.
7. Conclusão
Enquanto projeto vinculado ao Museu Imperial e, portanto, ao Instituto Brasileiro de Museus, cabe à equipe do Arquivo Histórico pautar suas ações, e por que não dizer suas reflexões, no novo paradigma institucional, baseado numa política cultural que leve em conta a multiplicidade de vozes, a diversidade e complexidade da cultura brasileira, buscando a redefinição da identidade nacional em bases amplas e democráticas.
Neste sentido, nossa pesquisa tem permitido a reflexão crítica, interdisciplinar, sobre o processo de construção de identidade nacional: do mito fundador indigenista ao processo civilizatório, nos moldes europeus, que ultrapassou o período imperial, estendendo-se à belle époque republicana, o que, em ambos os casos, configura-se como identidades distorcidas, descoladas da formação econômica, social, cultural e política do Brasil.
A trajetória do Imperador D. Pedro II, narrada em parte em seus diários, nos possibilita perceber a contradição entre ambos os modelos de identidade criados e a estrutura social brasileira, pelo menos até a década de 1930, quando sobressai a originalidade da perspectiva de análise cultural adotada por Gilberto Freyre, e a identidade nacional é, então, repensada a partir de um novo paradigma.
Apesar disto, propomos repensar a assertiva do mesmo Gilberto Freyre, segundo o qual, o aspecto clássico, europeu e não brasileiro de D. Pedro II não furtou ao Imperador do Brasil uma singularidade, não só em relação aos monarcas europeus, mas também em relação aos presidentes das repúblicas americanas, tendentes à pompa e à suntuosidade:
Felizmente, porém, para o Brasil, este aspecto não foi o único que caracterizou a personalidade de um Monarca que, de origem européia, de instrução ou formação clássica também européia, de origem em parte germânica, não se fechou de todo a um Brasil, já naqueles dias, a desenvolver-se numa sociedade e numa cultura com características extraeuropéias, inclusive africanas, a se juntarem às européias. (Gilberto Freyre, 1960-1970, p. 18)
Entendemos que a autonomia do agente social é relativa, já que há sempre uma intenção objetiva que ultrapassa as intenções conscientes, e que a trajetória individual, apesar das estratégias que permitem na prática reelaborar as regras, contém em si a objetividade dada pelo social. No caso de D. Pedro II, o distanciamento da sociedade de corte, que vai se configurando ao longo das primeiras décadas de seu reinado, e acentua-se definitivamente a partir da década de 1870, está relacionado ao advento de um novo ethos, o burguês, no qual a separação entre as esferas pública e privada pode ser considerada o traço fundamental.
Finalmente, abraçamos o desafio de refletir sobre os diários de D. Pedro II sob novos olhares: alguns problemas abordados neste texto, sem dúvida, já foram examinados por outros pesquisadores, historiadores e cientistas sociais, mas o que talvez o nosso trabalho possa trazer de novidade é justamente o repensar tais problematizações a partir de fontes inéditas para estes questionamentos. Por outro lado, a apresentação de novas perguntas a fontes exaustivamente pesquisadas, como os diários do imperador, a partir das novas abordagens teórico-metodológicas, revelam muitas possibilidades para a historiografia atual, para a qual esperamos contribuir.
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