DJANIRA E O LICEU MUNICIPAL PREFEITO CORDOLINO AMBRÓSIO

Jeronymo Ferreira Alves Netto

Encontra-se no Salão Nobre do Liceu Municipal Cordolino Ambrósio, em Petrópolis, uma extraordinária obra de arte, ou seja, um painel com 25 metros de comprimento por 4 metros de largura, executado a pincel pela extraordinária artista Djanira da Mota e Silva, sem dúvida um dos valores mais expressivos da arte primitivista em nosso país.

Selecionando elementos da tradição popular da sociedade petropolitana, a artista conseguiu combiná-los com tal maestria, imprimindo-lhes um magnetismo tão forte, que o painel transmite uma sensação de vida, raramente encontrada em outras obras do gênero.

Assim, a autora conseguiu retratar, num estilo futurista, toda Petrópolis antiga, vendo-se o Museu Imperial, a Estação da Leopoldina e sua primeira locomotiva, operários trabalhando com picaretas e teares, jovens modelando aparelhos na cerâmica, tudo em cores diversas.

Quem foi Djanira? Que fez? Por que teria oferecido o citado painel ao Liceu Municipal? Quererá saber, certamente quem não se dedica ao estudo da história da arte no Brasil. Satisfazer esta justa curiosidade, é um dos objetivos do presente artigo.

Djanira da Mota e Silva nasceu em Avaré (São Paulo), em 1914 e faleceu no Rio de Janeiro, em 1979.

Ao mudar-se para Santa Teresa, matriculou-se num curso de arte no Liceu de Artes e Ofícios, onde conheceu o pintor Emeric Mercier que, segundo nos informa Furke “mais do que um orientador foi seu grande incentivador” (1).

(1) FURKE, Ana Maria. Restrospectiva de Djanira. In: REVISTA CULTURA, Brasília: MEC, Ano 7, Nº 25.

A partir daí, “[…] sua pintura evoluiu, à força de uma poderosa intuição criativa, transformando-se em suporte de sua documentação de costumes, paisagens e festas populares, das mais ricas da História de nossa arte” (2).

(2) DICIONÁRIO DOS PINTORES BRASILEIROS. Vol. 1, Rio de Janeiro: Spala , 1968.

Realizou exposições individuais e coletivas, no Brasil e no Exterior, recebendo inúmeros prêmios. Em Petrópolis deixaram saudades as que realizou no Museu Imperial.

Suas telas mais famosas são: “Ouro Preto”, “Casario”, “Panorama de Parati”, “Procissão – Folia do Divino”, “Menina com Flores”, “Amolador de Facas” e muitas outras. Dividindo seu tempo entre seu apartamento em Santa Teresa e sua residência em Petrópolis, localizada no bairro de Samambaia, à rua que hoje leva seu nome, a artista sempre acompanhou com grande interesse os acontecimentos marcantes ocorridos em nossa cidade.

Aqueles que, em Petrópolis, com ela conviveram e tiveram o privilégio de desfrutar de sua amizade a definem como uma pessoa simples, autêntica, extraordinariamente corajosa diante das adversidades da vida e muito religiosa.

Aliás, esta religiosidade que a acompanhou durante toda a vida a levaria a adotar, em 1971, o hábito de Irmã Leiga da Ordem das Carmelitas.

Quanto ao magnífico painel que pintou para o Liceu Municipal, por ocasião de sua construção em 1953, basta observá-lo com a devida atenção para percebemos a intenção da artista. Assim, logo concluímos que sua presença naquele espaço nobre do citado educandário não objetivava, como muitos podem pensar, preencher tão somente um espaço vazio ou servir apenas como um elemento decorativo.

Os seres humanos, conforme muito bem observa Proença, “não criam objetos artísticos apenas para se servirem utilitariamente deles, mas também para expressarem seus sentimentos diante da vida e, mais ainda, para expressarem sua visão do momento histórico em que vivem” (3).

(3) PROENÇA, Graça. História da Arte. São Paulo: Ática, 1968.

Neste sentido, Djanira logo vislumbrou a expressão histórica e cultural da obra que ali estava sendo construída e pretendeu colocar ao alcance dos futuros alunos daquele educandário uma obra de arte capaz de contribuir para a reflexão e percepção dos mesmos e, ao mesmo tempo, despertar neles um crescente interesse em relação à evolução da história local.