O FUNDADOR E O PRESIDENTE DO INSTITUTO HISTÓRICO DE PETRÓPOLIS
Paulo Machado Costa e Silva, associado titular, cadeira nº. 2, patrono Alcindo de Azevedo Sodré
A Instituição que tenho a honra de presidir, está intimamente ligada à vida e às atividades de Alcindo Sodré no período que vai de 1937 a 1952. Ela aparece como prolongamento natural e consequência espontânea de seu pensamento e do seu agir.
Na época, ele era o Secretário da Comissão do Centenário de Petrópolis, criada pelo Ato n.º 704, de 28 de junho de 1937, pelo Prefeito engenheiro Iêdo Fiúza. A origem de tal medida administrativa foi uma Indicação, aprovada pela Câmara Municipal, em 28 de novembro do ano anterior, apresentada e defendida pelo então Vereador Dr. Alcindo de Azevedo Sodré.
Essa Comissão do Centenário de Petrópolis, nos anos de 1938 a 1942, coexistiu com o Instituto Histórico de Petrópolis, a que, logicamente, dera sequência.
Em verdade, o Instituto, fruto dos trabalhos dessa Comissão, era o mesmo tempo, penhor e certeza da continuidade do esforço daqueles poucos que visavam objetivos maiores e a mais longo prazo. Hoje, aí estão esses trinta e dois anos de existência do Instituto Histórico de Petrópolis, muito bem vividos no cumprimento de suas obrigações estatutárias e numa série de realizações positivas que, certamente, não traíram a fé e a esperança de seus fundadores.
Ainda que sucintamente, vejamos como teria surgido a ideia, ou antes, a convicção de que fundar-se um instituto de estudos históricos, em Petrópolis, era uma necessidade inadiável e uma condição sine qua non para não se perder a continuidade das pesquisas e dos trabalhos iniciados a tanto custo.
Para esse estudo, voltemos às fontes, pesquisemos nos documentos.
Da leitura atenta do Livro de Atas da Comissão do Centenário ressalta logo, com toda a clareza, que o Dr. Alcindo não era apenas simples anotador dos trabalhos dessa Comissão, criada por sua iniciativa e empenho. Ele era muito mais. Era o principal interessado em que a Comissão funcionasse de fato e realizasse todos os objetivos para os quais fora criada.
Executando, ao menos, o que determinava o Ato n.º 704, ela devia:
a) – “propôr ao Govêrno Municipal as medidas que julgasse oportunas e necessárias para o brilho das homenagens projetadas” e
b) – “coligir os dados e documentos que facilitassem a elaboração da história da cidade”.
Aqui, neste segundo objetivo se encontra a verdadeira causa eficiente do aparecimento de nosso Instituto Histórico.
Mas, observemos a atuação do Dr. Alcindo. Ele não se limita a comparecer, pontualmente, às reuniões da Comissão do Centenário, aos sábados, das 14:00 às 16:00 horas, na sala da Biblioteca Municipal, nos altos do prédio da Municipalidade. Procura os membros ausentes ou desinteressados e insiste para que compareçam. Ele próprio apresenta sugestões e participa dos debates, preocupando-se para que se revistam sempre do máximo de objetividade.
Na questão controvertida de qual seria a data da fundação de Petrópolis, se o 16 de março de 1843, se o 29 de junho de 1845, defende ardorosamente a primeira data. Entretanto, esforça-se para que todos tenham oportunidade de defender seus pontos de vista. Paralelamente, luta para que unidos, apesar de suas opiniões divergentes, todos trabalhem para o brilho e o êxito das comemorações centenárias da Fundação.
De fato, a Comissão não se restringiu a discussões apenas eruditas ou tão somente a estudos sérios e aprofundados. Preocupou-se também em preparar a população petropolitana para a participação consciente nas comemorações programadas. Para isto, começou logo a agir.
A 16 de janeiro de 1938, inaugurou-se com toda a solenidade a Primeira Exposição Petropolitana de Iconografia, montada no salão nobre da Municipalidade. A 16 de março seguinte, no Palácio de Cristal, realizou-se uma sessão solene em que o Prefeito Dr. Mário Aluísio Cardoso de Miranda “enalteceu a significação do feriado que decretara” e o Sr. Alcindo Sodré “falou durante 40 minutos sobre a fundação de Petrópolis na data de 16 de março de 1843”.
A seguir, em 29 de junho, comemorou-se oficial e solenemente a data da Colonização de Petrópolis na sede teuto-brasileira Sangerbund Eintract, à Rua 13 de Maio, ouvindo-se “duas canções clássicas em alemão, que foram muito apreciadas, sendo felicitado o maestro Somerweil”. Falou, a seguir, o Sr. Nereu Ramos Pestana sobre a efeméride.
Nesta altura já havia ambiência e condições psicológicas apropriadas para fazerem frutificar a ideia de se organizar um Instituto Histórico em Petrópolis.
Assim, na 22.ª reunião, especial, da Comissão do Centenário, realizada em 10 de setembro de 1938, o Sr. Dr. Henrique Leão Teixeira Filho pode sugerir, com êxito, “a criação do Instituto Pedro II, de estudos históricos”. A acolhida foi imediata, espontânea e entusiástica. A tal ponto que o Dr. Américo Jacobina Lacombe “lembra a conveniência de ser nomeada uma Comissão para escrever o projeto de estatutos do Instituto Histórico Pedro II”. Prontamente, são escolhidos Max Fleiuss, Leão Teixeira, Jacobina Lacombe, Rangel Pestana e Alcindo Sodré.
Em verdade, tudo parecia correr fácil e naturalmente.
Já na reunião seguinte, a 24 de setembro de 1938, foi “lido o projeto de Estatutos do Instituto Histórico de Petrópolis, artigo por artigo, debatido, emendado, reduzido e acrescido o mesmo projeto por todos os presentes”. Aprovado, constitui-se uma Comissão para, em caráter provisório, dirigir o Instituto até sua instalação solene em 2 de dezembro de 1938. Obviamente, foi integrada por Leão Teixeira, Walter Bretz e Paulo Rudge, servindo de Secretário Alcindo Sodré.
“Ficou deliberado que, em livro especial, fosse lavrada a Ata de Fundação do Instituto que, conjuntamente com esta, será também assinada pelos presentes, devendo na mesma figurar não só os Estatutos aprovados como a eleição dos novos membros fundadores e a lista dos patronos aprovada pela Comissão.”
Sim, senhores. Ouviram bem. É exatamente isto que está escrito nesse trecho da Ata. De início, o nosso Instituto tinha uma relação de patronos, aprovados pela Comissão.
Mas, prossigamos.
“Ficou resolvido também que o Secretário Geral dirigisse ofício a todos os membros da Comissão, com cópia dos Estatutos, consultando-os até 15 de outubro próximo, sobre se aceitavam fazer parte do Instituto”.
A 2 de dezembro de 1938, aniversário natalício do Imperador D. Pedro II, era solenemente instalado o Instituto Histórico de Petrópolis no salão nobre da Municipalidade e empossada a sua primeira Diretoria, eleita na mesma ocasião: Presidente, Henrique Carneiro Leão Teixeira Filho, 1.º e 2.º Secretários, Alcindo Sodré e Antônio Machado.
“Falaram na ocasião o Presidente acerca da chegada dos restos mortais dos Imperadores à Cidade de Petrópolis e o orador oficial, Dr. Pedro Calmon, sôbre a personalidade do Imperador Dom Pedro II”.
A partir de então, as reuniões da Comissão do Centenário foram sendo realizadas a espaços de tempo maiores. O Instituto Histórico, aos poucos, foi assumindo a responsabilidade pela parte essencialmente histórica das atividades da Comissão, visto que os membros responsáveis pelo funcionamento de ambos eram, praticamente, as mesmas pessoas.
Começam a aparecer nesse meio tempo os preciosos volumes dos Trabalhos da Comissão do Centenário de Petrópolis, carinhosamente editados por Armando Martins nas oficinas da sua Tipografia Ipiranga, entre os anos de 1938 e 1943.
Todos podemos imaginar que soma de novas preocupações e trabalhos tudo isto significava para aquele que, na verdade, e segundo o testemunho dos que estavam ligados a esses problemas, sentia e sofria a responsabilidade de fazer funcionar tudo na forma e no tempo devidos.
Porém, havia mais.
Havia o Museu Histórico de Petrópolis. E os sonhos de um Museu, que fosse a Casa do Segundo Reinado ou mesmo de todo o Período Imperial. E o sonho se tornou realidade. Com o inegável interesse do Presidente Getúlio Vargas, o nosso gaúcho-petropolitano Alcindo Sodré conseguiu inaugurar o verdadeiramente seu Museu Imperial em 16 de março de 1943
Em consequência, suas ocupações e preocupações se multiplicavam. Mesmo assim, apesar dessas atividades onímodas, jamais perdia a elegância, o cavalheirismo e o bom humor, que conviviam nele. Não obstante, os anos se escoavam céleres.
A 2 de dezembro de 1950, Alcindo de Azevedo Sodré era eleito Presidente deste também seu Instituto Histórico de Petrópolis, que ele servira diligentemente como 1.º Secretário durante 12 anos.
E, a 15 de março de 1952, presidia pela última vez a sessão solene comemorativa do aniversário de fundação de Petrópolis, pois, na madrugada do dia 16, descansava de toda fadiga, entregando sua alma ao Criador.
Permitam-me que, antes de concluir, recorde com certa melancolia… Era a primeira reunião do Instituto a que eu comparecia, depois que fora admitido na Instituição a 29 de janeiro de 1952 por iniciativa de Alcindo Sodré, que desejava com este gesto de amizade gratuita incentivar mais um dos enamorados cultores da pesquisa histórica, relacionada com Petrópolis e com a velha Província Fluminense.
Por isso, por não haver correspondido ao esperado, eu me sinto constrangidamente pesaroso. Não importa que a continuada, envolvente, opressiva e atordoante luta pela vida seja a grande responsável por aniquilar nossas energias e, sobretudo, quase que eliminar o lazer necessário e a dedicação despreocupada para os trabalhos do espírito…
Entretanto, minhas Senhoras e meus Senhores, concluamos esse quadro, ou melhor, esta série de instantâneos, que procuraram revelar alguns aspectos importantes da vida e da personalidade de Alcindo Sodré, o gaúcho-petropolitano, que ele, de fato, era.
Sua glória são a sua vida e as suas obras.
Aí estão seus trabalhos publicados, o Instituto Histórico de Petrópolis, o Museu Imperial e, sobretudo, os últimos decênios de sua vida, inteiramente dedicados a Petrópolis. Eles são o seu testemunho. Eles afirmam que a vida e os trabalhos de Alcindo Sodré não foram em vão. Na verdade, esse enamorado da Cidade Imperial construiu para a eternidade um monumento perene, mais duradouro que o bronze.
A quem tanto deve a historiografia petropolitana, a homenagem mais profunda e permanente deste Instituto Histórico de Petrópolis.