Hermogênio Pereira da Silva no tempo de sua atuação em Petrópolis é alguém que se pode comparar à importância que teve Koeler nos primórdios da cidade imperial.

Foi líder político destacado, no grupo republicano, mas ganhou sua mais alta projeção como administrador do Município, ao ocupar no colegiado legislativo local, Intendência ou Câmara, a cadeira de Presidente, a quem competiam então as funções executivas, ainda inexistente o cargo de Prefeito.

Desenvolveu e completou projetos já começados, iniciou e concluiu outros, buscou realizar alguns que se frustraram, todos do maior significado para propiciar a Petrópolis correto progresso. Foi na área do atendimento às necessidades básicas da população, pelos meios mais avançados conhecidos na ocasião, que Hermogênio Silva empenhou o seu saber e a sua energia. Abastecimento de água, fornecimento de iluminação e eletricidade, instalação de esgoto e de serviços de transporte, de telefone, construção de moradia para os de pequena renda, higiene e saúde, limpeza pública, abertura e calçamento de ruas, construção de pontes, arborização das vias públicas estiveram sempre entre as preocupações principais dele, assim como as de bem estabelecer minuciosos diplomas legais para tornar melhor o convívio social e de sediar condignamente os órgãos do poder municipal, ponto este que atingiu com a aquisição e a reparação do hoje chamado Palácio Amarelo, prédio belo e grandioso que aqui vai citado como símbolo e síntese material das metas de bela e grandiosa vida para o petropolitano que animaram a atividade pública de Hermogênio Silva.

Considerando-se o difícil momento econômico, social, político e de ordenamento jurídico resultante do término do Império e do nascimento da República e a pobre situação em que se debatia Petrópolis, é que se pode olhar Hermogênio com olhos de quem vê Koeler. Se a cidade a este ficou a dever o planejamento e os primeiros passos, daquele recebeu em dias tão críticos o mais forte e vital impulso no caminho da autonomia e da maturidade.

Assim como foi mencionado um prédio como símbolo de realizações e de projetos, pode-se também invocar o Código de Posturas de lavra de Hermogênio Silva, o primeiro que Petrópolis teve, como imagem dos reais e precisos cuidados, do lúcido exame dos problemas e da escolha das melhores soluções inspiradas nos dados científicos contemporâneos, das utopias que orientaram o espírito daquele que tudo fez para que Petrópolis fosse uma cidade esplêndida.

A comprovação documental do valor de Hermogênio Silva no desenvolvimento de Petrópolis está magistralmente resumida, quanto ao período de 1889-1894, pelo estudioso e arguto historiador Dr. Francisco de Vasconcellos nos dois volumes de sua obra “Petrópolis, Sua Administração na República velha” (Petrópolis, 1978, 1981).

A corroborar o cabimento da evocação de Hermogênio Pereira da Silva ao lado de Júlio Frederico Koeler, vale transcrever do conhecido autor o pensamento de que “Uma Petrópolis construída nos moldes elaborados por Hermogênio Silva seria pois uma urbe que, além do respeito ao seu plano original, desenvolver-se-ia harmônica e equilibradamente, respeitadas as mínimas condições geográficas, ecológicas, culturais e sobretudo humanas” (2º vol. pág. 224).

Hermogênio Silva, de nome completo Hermogênio Pereira da Silva como seu pai, teve por mãe Cândida Tibre Pereira da Silva e nasceu a 7 de janeiro de 1848, na Fazenda do Engenho Novo do Retiro, Freguesia de Cordeiros, Município de São Gonçalo, Província do Rio de Janeiro. Acadêmico de medicina esteve na Guerra do Paraguai. Em 1872, formado e casado com Maria Antônia Abreu e Souza (Maria Antônia Pereira da Silva), foi à Europa e se especializou em oftalmologia, com prática em hospitais da Alemanha, da França e da Inglaterra.

De 1881 a 1884 integrou como vereador a Câmara Municipal do Rio de Janeiro e apresentou projetos de importância para o progresso da cidade, entre os quais aqueles que não tiveram execução mas foram a antevisão do Túnel Velho, do Corte do Cantagalo, do Túnel Santa Bárbara e do Túnel Rebouças.

Em 1884 mudou-se para Petrópolis e, abolicionista, republicano, participou da fundação do Clube Republicano, pioneiro fluminense, do qual foi secretário.

Pai de sete filhos e viúvo, casou-se em 1885 com Carolina de Sá Carvalho (Carolina de Sá Pereira da Silva), com quem teve três filhos.

Em 1889, caída a monarquia, foi nomeado Delegado de Polícia e dias depois aceitou fazer parte e ser Presidente do primeiro Conselho de Intendência de Petrópolis formado pelo governo provisório do republicano Estado do Rio. Em agosto de 1890, fiel aos princípios democráticos, desentendeu-se com o governador e foi exonerado com todos os demais intendentes petropolitanos. Transcorrido pouco mais de um ano, deposto o governador em seguida a revolta popular, o novo chefe estadual nomeou o Conselho de Intendência de Petrópolis, a 17 de dezembro de 1891, entregando a Presidência outra vez a Hermogênio Silva.

Eleito deputado estadual constituinte a 31 de janeiro de 1892, participou da elaboração da Constituição de 9 de abril do mesmo ano.

Batalhou sem cessar pela autonomia municipal. Por algum tempo a ele esteve vinculada a Gazeta de Petrópolis, jornal de máximo relevo na história da imprensa desta cidade.

A 16/06/1892 foi eleito vereador à primeira Câmara Municipal republicana de Petrópolis, sendo o mais votado. No dia 30 seguinte, tomou posse e foi eleito Presidente da casa, cargo ao qual continuavam confiadas as atribuições executivas. A tal posto foi reconduzido (1893, 1894, 1895 mas pediu para não exercer, 1896, 1897, 1901, 1902, 1903, 1904, 1908, 1909, 1910), obtendo em todas as oportuniades de eleição para a Câmara Municipal a maior votação até a derradeira a que concorreu, em 1909.

Nas eleições estaduais de 15/07/1894, alcançou a 3ª Vice-Presidência do Estado, para o triênio 1895-1897, sendo permitida a acumulação com o cargo municipal que possuia.

Em 1898 e 1899 foi Secretário de Obras Públicas e Indústrias do Estado e, ao mesmo tempo, por breve período, Secretário do Interior e Justiça (4/7-17/9-1899).

De novo deputado estadual, foi Presidente da Assembléia Legislativa no triênio 1901-1903, renunciando à investidura em protesto pelo retorno da Capital do Estado para Niterói. Continuou, entretanto, na Presidência da Câmara Municipal de Petrópolis.

Em 1909, enquanto se elegia ainda como o mais votado vereador de Petrópolis, foi também eleito Senador da República, com excelente votação. Diplomado, não chegou a ocupar a cadeira, impedido por decisão da Comissão de Reconhecimento de Poderes oriunda de manobra política adversária.

Após licenças repetidas depois de iniciado o triênio sob sua presidência, abandonou a vida pública a 14 de abril de 1910.

Com 67 anos de idade faleceu em Petrópolis, a 5 de maio de 1915, e o sepultamento se deu no cemitério local (quadra 4).

Sem dúvida o Município teve nele, por sua integridade, por sua cultura e por sua capacidade administrativa, o grande governante e líder político ao curso das duas primeiras décadas da República.

Em sua homenagem o salão nobre da Câmara recebeu o nome de Hermogênio Silva e aí, por sobre a cadeira da presidência se lhe instalou o retrato. Na escadaria interna mestra do prédio se colocou placa com o seu nome e datas de administração. O próprio edifício, sede da edilidade petropolitana, vulgarmente conhecido como Palácio Amarelo, recebeu a designação oficial de Paço Hermogênio Silva. A partir da ponte do Retiro o logradouro público principal, e que passa pelo lugar conhecido como Pic-Nic para prosseguir pela Estrada União e Industria, ganhou a denominação de Rua Dr. Hermogênio Silva até dito local. O distrito existente entre Alberto Torres e Moura Brasil no Município de Três Rios chama-se Hermogênio Silva. O Centro Cívico da Escola Municipal São Cristóvão, que funciona na Praça Pasteur, em Petrópolis, elegeu-o patrono, lição para os novos que queiram fazer da cidade um lugar ideal para a vida do ser humano!

BIBLIOGRAFIA:

Comissão do Centenário de Petrópolis
vol. I, p. 247, 256, 283, 307; vol. II, p. 235-237; vol. III, p. 24.

Ferraz, Carlos
Hermogênio Silva, Tribuna de Petrópolis, 17-5-1947.

Froés, Gabriel Kopke
Arquivo.
O Paço Municipal, Jornal de Petrópolis, 17-03-1963.

Froés, José Kopke
Petrópolis Capital do Estado. Crônicas publicadas na Tribuna de Petrópolis, 1944.
Dr. Hermogênio Pereira da Silva, 55º Aniversário do Falecimento do Notável Administrador de Petrópolis, Jornal de Petrópolis, 9-5-1970.

Legislação municipal de Petrópolis
Resolução de 07/01/1905
Deliberação n.º 209 de 08/01/1916
Ato n.º 13 de 17/04/1921
Resolução n.º 826 de 02/12/1992

Museu Imperial
Centenário da Câmara Municipal de Petrópolis, Catálogo da Exposição, Junho-Julho, Petrópolis, 1959 (informes e retrato).

Silva, Eduíno Pereira da
Hermogênio Pereira da Silva, Médico, Eminente Homem Público, Petrópolis, Editora Vozes Ltda., 1973.

Vasconcellos, Francisco de
Petrópolis, Sua Administração na República velha, Petrópolis, 1º volume, 1978, 2º volume, 1981.