A HISTÓRIA E O TURISMO EM PETRÓPOLIS

Paulo Roberto Martins de Oliveira, ex-Associado Titular, Cadeira n.º 10 – Patrono Carlos Grandmasson Rheingantz, falecido

Infelizmente, têm-se visto nos materiais de propaganda e informações turísticas da Imperial Cidade de Petrópolis, erros que se tornaram fatos correntes, devido à desinformação e à falta de pesquisa de quem os produz.

Não se pode chamar estas pessoas de profissionais, porque em Petrópolis, ainda não se compreende que os ofícios são diversos e, portanto, necessitam de capacidades diferenciadas para a sua realização.

No caso específico da “História de Petrópolis”, as coisas tendem a se complicar, em relação a quase tudo que foi publicado até hoje, pois a bibliografia é escassa e a documentação, principalmente do século XVIII até às primeiras décadas do século XIX, é pouquíssima, reunida em arquivos diversos e geralmente fora de Petrópolis.

Além disso, nossos cronistas e historiadores mais antigos, aos quais devemos muito da história de Petrópolis, não tiveram o rigor necessário na obtenção de certas informações e nem citaram suas fontes e bibliografias, perpetuando pelos tempos informações que com o avanço das pesquisas foram retificadas.

Dois bons exemplos são as notícias vinculadas com relação aos seguintes títulos: “A Colonização Italiana em Petrópolis” e “A Fundação de Cascatinha em 1873”, porque os dados neles apresentados não correspondem à realidade. Ao contrário do que foi descrito nestas notícias, os italianos não foram colonos, pois eram imigrantes livres de contratos, que vieram voluntariamente para trabalharem no Brasil.

Quanto a fundação da localidade denominada Cascatinha, que ocorreu em 17/09/1873, refere-se apenas à Carta – Decreto Imperial n.º 5407, autorizando a instalação da Cia. Petropolitana, nos dois últimos prazos de terras do Quarteirão Westfália e ao uso das águas do Rio Piabanha. Para mais esclarecimentos sobre este assunto, ver “Os Primórdios da Cia. Petropolitana no Quarteirão Westfália”, pelo autor deste trabalho em curso, no SITE do IHP.

Quanto ao nome CASCATINHA, este sobreveio da Cascata do Retiro do Bulhões, cuja queda d’água situa-se no Rio Piabanha, entre o Quarteirão Westfália (tendo à sua esquerda a Estrada União & Indústria, sendo este trecho atualmente denominado de Rua Dr. Hermogenio Silva) e as terras da antiga Fazenda da Engenhoca, no setor conhecido, como terras do Retiro de São Thomaz e São Luiz.

Por volta do ano de 1861, após a inauguração da Estrada União & Indústria, popularmente o local em torno da queda d’água e proximidades ficou conhecido como “CASCATINHA”, porém a data oficial desta denominação aconteceu em 03/06/1892, quando da reorganização deste município, que ficou composto de 5 distritos, sendo o 2º o de CASCATINHA, conforme consta na Gazeta de Petrópolis de 09/06/1892.

Dando seqüência sobre as informações dos inúmeros erros cometidos com a nossa história, temos a seguir mais alguns exemplos:

Em 16 de março deste ano, a Tribuna de Petrópolis publicou uma revista (ou caderno especial) pelas comemorações dos 161 anos da fundação de Petrópolis, com o seguinte título: “Documento Histórico”. Porém, simplesmente não fizeram a devida revisão editorial e com isso, destacam-se inúmeros erros na capa, contracapa e em algumas das 78 páginas. Infelizmente, isto deturpa tudo que já foi realizado em prol da nossa verdadeira história.

A capa da revista acima citada, traz aparentemente um mapa (ou planta), que seria de Otto Reimarus, produzido em 1854. Porém mal traçado, com desvio de grafia e denominações estranhas. Conforme a seguir e com os nomes certos entre parênteses temos: Worstadt (Woerstadt), Ingel (Ingelheim), Platinado (Palatinato) Inferior, Platinado (Palatinato) Superior e Princesa Isabel (Imperial).

A página 25 contém o mesmo mapa (ou planta) acima citado, afirmando erroneamente que este é de autoria do Major Júlio Frederico Koeler. Ora, a planta de Koeler é de 1846. Claro que não é a que está na dita capa, ou a que se encontra na página 25, pois Koeler, faleceu em 21/11/1847.

Prosseguindo, a página 12 traz a ilustração da Casa Museu do Colono com a seguinte legenda: “Casa de um colono transformada em museu, na Rua Cristovão Colombo, no Quarteirão Castelânea”. Esta casa nunca foi de colono, pois o primitivo dono era o germânico Johann Gotlieb Kaiser, um ex-militar que pertenceu ao exército de estrangeiros (conhecidos como Mercenários do Imperador), cuja casa mandou construir para si e sua família, num dos prazos de terras, adquiridos por ele em 1847. Portanto, 2 anos após a vinda dos primeiros colonos germânicos para Petrópolis e que em nada, relaciona-se à Imperial Colônia, exceto por uma de suas netas, que bem mais tarde (em 1879), casou-se com um dos filhos do colono Heinrich Sutter.

Vale ressaltar, que o exemplo acima, sobre a Casa Museu do Colono, consta com o mesmo erro na maioria dos folhetos turísticos.

Atualmente em Petrópolis, algumas pessoas estão publicando nas páginas dos jornais locais e livretes, inúmeros dados que não condizem com a nossa história. Estão produzindo uma série de erros, induzindo os petropolitanos e visitantes a um caminho caótico dos nossos verdadeiros valores históricos. Muitas destas pessoas estão plagiando e ampliando erros de outras publicações, cujos autores, também não tiveram o cuidado de pesquisar em documentos.

Houve uma publicação recente, em livrete de 28 páginas (por época das eleições municipais) sobre a história do Quarteirão Mosela, onde aparecem alguns nomes de colonos e / ou de seus descendentes, completamente diferentes dos originais.

À página 20, consta a relação das primeiras famílias que receberam prazos de terras neste quarteirão, porém, com a maioria dos nomes e sobrenomes errados ou com desvio de grafia. Da lista de 45 nomes, que na realidade são 48, 32 estão nestas condições e um dos nomes (de um determinado colono), nem pertenceu a este quarteirão. O mais absurdo é que um dos colonos, o Nikolaus Gorges, está como Nicholas Gorins.

No Jornal Luso Fluminense, veículo de divulgação da cultura portuguesa, no Estado do Rio de Janeiro, no mês de junho de 2004, consta o seguinte: “O Jornal Luso Fluminense parabeniza a todos da Colônia Portuguesa de Petrópolis, pela passagem do Dia das Comunidades Portuguesas, 10 de junho, em que se comemora também o Dia de Camões”.

Pois bem, gostaria muitíssimo de saber onde era ou é esta dita Colônia Portuguesa em Petrópolis. Realmente esta nunca existiu, pois, pelo que sei, os portugueses (em sua maioria), eram livres de contratos e vinham quando bem entendiam, com exceção de alguns açorianos, que em 1836/37, registraram-se na Sociedade Promotora de Colonização da Província do Rio de Janeiro. Estes poderíamos identificar como colonos, porém em Petrópolis não houve lugar definido como colônia para estes portugueses açorianos, pois os mesmos vinham para várias localidades e eram contratados para atenderem a diversos serviços, de acordo com as suas especialidades. Eram designados principalmente para atuar na abertura ou conservação de estradas, construções de pontes e obras diversas. Portanto, habitavam onde mais lhes convinha e, geralmente, próximos dos seus locais de trabalho.

Vale ressaltar que em 1854, quando da inclusão de mais quarteirões para ampliar a planta de Petrópolis, o Engenheiro da Imperial Fazenda, Otto Reimarus, homenageou os inúmeros imigrantes de várias etnias, que em várias épocas vieram para Petrópolis, denominando os novos quarteirões com os nomes de seus países de origem, como: Português, Francês, Suíço, Inglês e Italiano, porém, isto não quer dizer que nestes quarteirões formaram-se colônias.

Seguem outros exemplos, que depõem contra os princípios normais de inúmeros segmentos, tanto históricos como geográficos do nosso município, tais como:

– Petrópolis não é a única e nem a primeira Cidade Imperial das Américas, como de modo geral dizem, e muito menos do nosso país, pois a primeira cidade brasileira a receber tal título foi Niterói – RJ, pelo Decreto n.º 93 de 22/08/1841. Este decreto foi assinado por Cândido José de Araújo Vianna, que na época, era Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império, sob as ordens de S. M. o Imperador D. Pedro II.

– A Imperial Cidade de Petrópolis foi assim denominada apenas em 28/03/1981, por decreto assinado pelo ex-Presidente da República Gal. João Baptista Figueiredo.

– Os colonos germânicos não ganharam terras em Petrópolis, eles apenas tiveram isenções de jóias (ou taxas) por um período de 8 anos, contados a partir da chegada de cada um. Depois do tempo concedido para o primeiro pagamento, quem não pagasse os foros devidos, perdia o direito de usufruir de suas terras. Muitos colonos, por causa deste e outros motivos, abandonaram a Imperial Colônia e foram para outros lugares.

– Na folheteria turística e em outros informativos, consta a Igreja Evangélica de Confissão Luterana como o templo religioso mais antigo em Petrópolis, cuja inauguração foi em 1863. Todavia a Igreja (provisória) São Pedro de Alcântara foi inaugurada em 1848, além de outros templos religiosos mais antigos ainda, como a Capela da Fazenda do Padre Correia e outras em várias localidades do nosso município.

– O nome Quarteirão significa o mesmo que bairro. Por que não mantemos a primeira denominação? Seria mais lógico, tratando-se do primeiro plano urbanístico do país, pois daríamos o valor histórico e verdadeiro, diferenciado das demais cidades brasileiras e seríamos a única cidade do país que teríamos a honra de usá-lo. Por exemplo, a divisão territorial de Petrópolis que abrange o primeiro distrito – sede – foi feita em quarteirões, conforme consta da Planta de 1846 do Major Júlio Frederico Koeler. Por que, então referir-se à Av. Barão do Rio Branco como bairro, quando na realidade esta avenida e a casa do barão do mesmo nome, situa-se no Quarteirão Westfália.

– A nova rodoviária à margem da Estrada BR – 040 está sendo construída no Quarteirão Darmstadt e não no Quarteirão Bingen, como erroneamente está se proliferando por aí pelas nossas autoridades municipais, imprensa e outros. Embora esta região, nos primórdios da Imperial Colônia, tenha sido uma extensão do Quarteirão Bingen, tomou forma de quarteirão, oficialmente com o nome de Darmstadt, pela inclusão e nomeação de novos quarteirões, na Planta de Petrópolis em 1854 por Otto Reimarus. Portanto, isto ocorreu há 150 anos. Por que modificá-lo agora?

É uma lástima ver vários setores da Prefeitura Municipal de Petrópolis, como o de Turismo, e a Câmara Municipal omitirem os nomes certos dos nossos logradouros. Por exemplo: muitos não sabem onde localiza-se o “Centro Histórico de Petrópolis” e que a principal parte deste centro, encontra-se no Quarteirão Vila Imperial e, também em partes de outros quarteirões, como: Quarteirão Vila Teresa (Rua Teresa), Quarteirão Westfália (Av. Barão do Rio Branco), Quarteirão Nassau (Av. Piabanha, Montecaseros e Cemitério Municipal), Quarteirão Francês (Rua Treze de Maio e lado ímpar da Av. Ipiranga), Quarteirão Renânia Inferior (Rua Washington Luiz – Fábrica São Pedro de Alcântara) e Quarteirão Palatinato Inferior (Ruas Souza Franco e Benjamim Constant). A atual rodoviária e a UCP também estão neste último quarteirão.

Em resumo: as duas primeiras plantas urbanísticas de Petrópolis, sendo a primeira de Koeler, em 1846, e a Segunda de Reimarus, em 1854, deveriam servir de base para todo e qualquer estudo, para atualização dos mapas vigentes ou produção de folheteria turística para indicação das localidades.

Até a hidrografia petropolitana sofre do mal da desinformação. Um exemplo é a Empresa Águas do Imperador com a sua ETE (Estação de Tratamento de Esgoto), que trocou o nome do Rio Palatino (que é o certo), onde à sua margem esquerda encontra-se instalada, pelo nome de Palatinato. O nome completo é Quarteirão Palatinato Inferior e não o nome do rio que como sempre, estão colocando em seus informativos e folhetos de propaganda.

Outro erro que estão cometendo desde a sua inauguração é com a introdução do espetáculo SOM e LUZ, apresentado pelo Museu Imperial, onde misturam a história dos imigrantes germânicos que vieram em 1838, com os colonos germânicos que chegaram à Petrópolis em 1845. Neste caso, há esperança de acertos, segundo fui informado, pela Ilma. Sra. Dora Maria Pereira Rego Correia, antiga funcionária deste museu e também nossa confrade e secretária do IHP.

Alguns articulistas afirmam que o “Obelisco”, situado na confluência dos Rios Palatino e Quitandinha, no centro do Quarteirão Vila Imperial, é uma homenagem de Petrópolis a seus colonos alemães e dizem ser o marco central da nossa colonização. Isto não é bem assim, pois este, inaugurado em 29/09/1957, foi principalmente para homenagear o centenário da elevação de Petrópolis à categoria de cidade, e aproveitaram o mesmo para perpetuarem os nomes dos que ajudaram a construir esta cidade com a listagem completa dos apelidos dos colonos.

Antes de finalizar, aproveito a oportunidade para falar sobre as praças de Petrópolis, cujos terrenos Koeler demarcou na sua Planta de 1846, nos principais pontos dos quarteirões, sendo que a maioria delas ficou apenas na dita Planta.

Gostaria muitíssimo de descrever sobre todas as praças, porém, tomei apenas uma como exemplo: a Praça Ingelheim, situada no quarteirão do mesmo nome. O local definido para esta praça existiu até por volta do final do século XIX, porém nesta época, a Câmara Municipal de Petrópolis resolveu, indevidamente, destiná-lo para servir de cocheira e guarda dos veículos muares, que eram utilizados pelo Departamento de Limpeza Pública. Para reconhecimento do local, esta encontra-se na confluência das Ruas Duque de Caxias e Bingen, tendo nas proximidades o Hospital Santa Teresa, Senai , Universidade Estácio de Sá e outros estabelecimentos. Vejam quantas incoerências cercam a nossa história. Bem que o atual governo municipal poderia reparar este grande erro do passado e devolver para os petropolitanos esta merecida área de lazer.

Petrópolis é uma cidade contemplada pela beleza natural, pois poderia ser bem mais aproveitada do que realmente é. Poderiam reativar os antigos encantos turísticos, que muitos não conhecem, mas que no século XIX, até meados do século passado, encantavam a tantos que a visitavam.

É só consultar os antigos catálogos turísticos, para comprovarmos o que desapareceu, principalmente devido a um progresso desordenado, que não se manteve, como o transporte ferroviário, que cortou as nossas matas e destruiu inúmeros pontos turísticos, como a Cascata do Itamarati, que no passado, foi a maior atração turística de Petrópolis e mereceu telas de renomados artistas. Embora com o seu rio poluído e o seu entorno desfigurado, poderia com alguns melhoramentos, voltar a embelezar Petrópolis.

Tantos outros pontos turísticos ou lugares ainda existem para serem visitados e não encontram-se nos atuais folhetos turísticos. Por que? Como exemplos temos:

– O Museu da Igreja Evangélica Luterana, cuja visita pode ser agendada ou então pode ser visitada aos domingos de manhã, após os cultos.

– O Museu de Armas Ferreira da Cunha, situado à margem da Estrada Washington Luiz – BR – 040, com visitas agendadas.

– A Estrada Normal da Estrela que, embora abandonada pelo poder público, ainda guarda boas lembranças do passado, pois foi a primeira estrada carroçavel para Petrópolis.

– Visita aos esquecidos quarteirões, como aos Quarteirões Palatinato Superior e Inferior, Mosela, Nassau e outros, que do passado, ainda mantêm algumas obras coloniais e antigos chalés.

Chegando ao final deste trabalho, vale ressaltar que o material de divulgação da Imperial Cidade de Petrópolis, não pode continuar a ser feito à revelia dos historiadores e pesquisadores do Instituto Histórico de Petrópolis. Espero que os profissionais da área de turismo nos dêem as mãos em prol de um trabalho produtivo para benefício da comunidade e da auto-estima do petropolitano e que tudo isto, não seja apenas um sonho de quem verdadeiramente ama Petrópolis.

Vale ressaltar que este trabalho não visou acusar quem quer que seja que produziu com erros absurdos os materiais que mal divulgam a nossa história, mas sim, em condição de alerta, para que não sejam mantidos outros materiais com erros tão grosseiros e para que não copiem e assinem o que já foi escrito e publicado, pois isto chama-se plagiar.

Pesquisem o que pretendem escrever, pois os nossos arquivos públicos e particulares, estão abarrotados de documentos, os quais, bem utilizados e interpretados, poderão fornecer subsídios preciosos para novos trabalhos.

Quando copiarem alguma coisa de qualquer autor, tenham a decência de dar a merecida referência, dentro da própria matéria ou no final da mesma em notas bibliográficas, pois alguns íntegros praticam este ato.

Muitos outros erros e informações poderiam ser apontados no decorrer deste trabalho, porém, o que foi dito, é o alerta inicial, para que antes de produzirem alguma coisa, efetivem primeiro a pesquisa sobre o assunto tratado.