MATANDO A GALINHA DOS OVOS DE OURO!
Aurea Maria de Freitas Carvalho, ex-Associada Titular, Cadeira n.º 4 – Patrono Arthur Alves Barbosa, falecida
Petrópolis não é um ponto turístico do Rio de Janeiro. Petrópolis é uma cidade histórica.
Sua primeira referência pode ser a de um pequeno trecho do caminho que levava às “minas gerais”. Fazenda mal sucedida, teve a sorte de ser adquirida pelo imperador, D. Pedro I, para aqui ser construído o palácio de veraneio da família imperial, intento somente realizado mais de 10 anos depois, por seu filho, Dom Pedro II, sob influência do major Júlio Frederico Koeler, um engenheiro alemão que idealizou desenvolver aqui uma colônia. Esta, apesar dos tropeços e dificuldades teve sucesso, graças à energia e ao trabalho metódico de seu idealizador.
Chegou a ser importante na produção industrial, tendo sido exportador de produtos têxteis para o exterior, da mesma importância de São Paulo, citado em obras de autores estrangeiros sobre industrialização.
Quanto à função de vilegiatura da corte, cumpriu-a perfeitamente. O centro histórico e seus arredores, apesar de já haverem sido bastante sacrificados, nos dão uma boa idéia daquela época que abrange a consolidação da Revolução Industrial, causadora de importantes modificações na sociedade, sobretudo na classe trabalhadora e na produção industrial. Modificações também observadas na arquitetura, não só em Petrópolis e no Brasil como em grande parte do mundo civilizado. O ferro deixa de ser utilizado apenas na construção de pontes e pavilhões e como sustentação e passa a fazer parte dos acessórios aparentes da construção, elementos tais como grades, gradis, portões etc.
Na avenida Koeler, por exemplo, quase todas as vivendas datam do final do século XIX e princípio do século XX, época em que predominava o denominado Neoclassicismo, porém um neoclassicismo bastante modificado nos seus elementos simplificados tanto na forma quanto no número, e o Ecletismo.
Além da arquitetura das grandes vivendas, das ricas moradias do Centro Histórico, Petrópolis apresenta ainda, habitações não tão luxuosas, mais simples, que datam da mesma época e dão idéia de como vivia o petropolitano de então. Uma característica encantadora e que deve ser conservada e respeitada são os lambrequins de madeira dos telhados e das varandas que são verdadeiras obras de arte. Esses testemunhos do passado que nos mostram Petrópolis como uma cidade operosa e calma também merecem ser preservados.
Na indústria e na formação da população de Petrópolis também foi grande a influência da Revolução Industrial. O maquinário de ferro das grandes fábricas do momento, oriundo da Bélgica ou da Inglaterra (do qual só nos restam fotografias) testemunha essa influência. O trabalho nas fábricas, por sua vez, causou a afluência de operários de fora de Petrópolis e até do Brasil como no caso da Companhia Petropolitana, de Cascatinha, que ocasionou a vinda e a formação de um núcleo italiano considerável.
Tais atributos são motivo de interesse e atração para o turista que não somente tem sensibilidade para coisas antigas mas procura passar algum tempo entre as lembranças mais amenas e menos espetaculares do passado. Pela preservação desses atributos talvez possamos ainda motivar um tipo de morador para os tempos de estiagem, feriados e fins de semana que, em outros tempos, era tão bem vindo: o “veranista” que traz não só lucros materiais mas passa a amar e conservar a cidade.
Destruir estas características que conseguimos conservar por tantos anos e que ainda tanto encantam quem nos visita, seja a passeio ou para estudo, seria o mesmo que “matar a galinha dos ovos de ouro”.