Olavo Dantas sob a ótica de Hélio Chaves e Mário Fonseca
José Afonso Barenco de Guedes Vaz, Associado Titular, Cadeira n.º 11 – Patrono Henrique Carneiro Teixeira Leão Filho
Guardo imensa alegria de ter em mãos, é bem verdade com alguma dificuldade, a obra intitulada “Olavo Dantas Poeta Universal”, de autoria do professor, escritor, poeta e jornalista Hélio David Casqueiro Chaves.
Trata-se de uma publicação que aguça a curiosidade do leitor porquanto a descrição do autor, com relação a vida e obra de outro luminar, é extremamente detalhista fazendo-o demonstrar também na condição de lídimo cultor das letras, sem falar na gloriosa vida profissional que desempenhou junto à Marinha do Brasil.
Ambos integrantes da Academia Petropolitana de Letras.
Hélio Chaves, durante sua longa trajetória, participou ainda do Pen Clube do Brasil e da Academia de Letras do estado do Rio de Janeiro.
Na rede estadual de ensino exerceu papel de destaque vez que prestou valiosa colaboração ao Núcleo de Educação e Cultura sediado nesta cidade.
Uma particularidade digna de nota, vez que Hélio Chaves colaborou, ainda, para honra e glória do ensino de nossa terra, com a sempre lembrada professora Regina Maria Souza Adão de Castro, neta do então prefeito de Petrópolis, Eugênio Lopes Barcelos à época da criação da Associação Petropolitana de Ciências e Letras, atual Academia Petropolitana de Letras.
A respeito do mestre Hélio Chaves, segundo dedicados estudiosos a respeito de sua vida e obra, informam que gozou de virtude a ser destacada, ter sido amigo de seus amigos.
Confirmou-me tal assertiva, também, meu pai, que teve a honra de ser seu amigo e confrade.
Os diversos pronunciamentos que levou a cabo sempre puderam traduzir a extrema cultura que possuía e por isso mesmo destacou-se como orador de calibre sabendo colocar suas ideias e pensamentos de forma clara e sensível, na condição de exímio poeta e pensador.
A propósito desta figura exemplar chama-me a atenção a pessoa de seu pai, também notável, Reinaldo Antônio da Silva Chaves, baluarte, como tantos outros de igual valor e méritos, propugnadores pela criação da Associação Petropolitana de Ciências e Letras ocorrida em 03 de agosto de 1922, evento que se deu quando presidia a instituição a brilhante acadêmica Nair de Tefé Hermes da Fonseca, digna dos mais justos encômios e reconhecimento, vez que em 30 de dezembro de 1929, exatamente durante sua gestão nascia a Academia Petropolitana de Letras.
Hélio Chaves, faleceu nesta cidade no dia de 07 de setembro de 2010 deixando enorme vazio entre a numerosa plêiade de amigos, confrades e admiradores, especialmente àqueles voltados para a educação e cultura de nossa cidade.
Da esplêndida obra que nos fez legar faço questão de destacar, com primazia:
Soneto do Impossível
Não te lembras, nem queres recordar/ do que disseste, formulando juras,/ num doce amor, que, para o eternizar,/ bastava recordar nossas venturas! Bastava recordar!…Bastava amar! É fácil esquecer, se tens ternuras,/ que te envolvem sorrindo, a desvendar/ o que eu não soube dar-te de canduras!
Enfim, resta esquecer! Mas não consigo esquecer o que esqueces facilmente./ Hás de ficar no coração comigo! Sei que partiste – nunca me iludi! – Mas nunca partirás da minha mente, desde o primeiro dia em que te vi!
O ilustre médico e acadêmico Mário Fonseca que escreveu as orelhas da obra em causa, conhecedor do elevado nível cultural de Hélio Chaves, ao se pronunciar a respeito do autor define-o enfatizando que “…Só um escritor universal como Hélio Chaves seria capaz de fazer análise sobre a obra de OIavo Dantas. Hélio Chaves é poeta de rara inspiração. Muitas vezes, de lirismo incomparável acolhendo infinita beleza dentro de si mesmo e transmitindo todas as belezas de que é capaz sua alma sensível”.
E aduz: “É o que todos sentem ao lerem a maioria dos sonetos de “Mosaicos”, “Sinfonia Imaginada”, “Encanto Figurado” e “O Eterno Labirinto”.
E faz assinalar ainda que “…Hélio Chaves pertence ao número daqueles que se empolgaram com a obra de Olavo Dantas. Estudou-a com carinho e entusiasmo”.
Mas passemos a retratar a figura impecável do homenageado, Olavo Dantas.
Nascido em Crisópolis (Bahia) estudou no Colégio Pedro, tendo se formado em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Cursou a Escola de Guerra Naval (Estado-Maior), sendo aprovado com o grau 86 e “conceito acima do normal”. Primeiro aluno da Turma de Medicina e Prêmio de Viagem ao Velho Continente, por escolha da Congregação da Faculdade. Herói de Guerra, esteve durante um ano e quatro meses em operações no Atlântico, a bordo do contratorpedeiro “Mariz e Barros”, além do desempenho de outras atividades descritas pelo autor. (Obra citada – pág 46).
Olavo Dantas foi também membro da Academia de Letras da Bahia, da Academia Luso – Brasileira de Letras, da Casa dos Quixotes; da Federação das Academias de Letras; das Academias Teresopolitana e Valenciana de Letras; do Centro de Letras e da Academia de Letras José de Alencar (Paraná); dos Institutos Histórico e Geográfico de São Paulo e da Bahia; do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco e do Instituto Brasileiro de Geopolítica.
Editou várias obras dentre as quais: “Folhas de Acanto” (poesias); “Sob o Céu dos Trópicos” (lendas, aspectos e curiosidades do Brasil); “Rosa do Mar Salgado” e “Damas do Naipe do Amor” (romances).
Esclarece Hélio Chaves, (fls.57 obra citada), que em “Folhas de Acanto”, o primeiro livro do Poeta, “a trova já está presente, com a primavera do sonho, abrindo-se para a longa e fértil seara do dia”.
Para aqueles que como eu apreciam a trova como uma das mais profundas manifestações literárias, aproveito para transcrevê-las com o coração a bater forte ante a beleza de cada quadrinha, dentre muitíssimas outras de autoria do renomado poeta, deixando enfatizado que há que se reconhecer quanto o mesmo colaborou e fez com que se tornasse vigorosa a Academia Petropolitana de Letras.
Nunca se pode esconder
o amor que a nós inquieta,
porque ele em versos rebenta,
do coração do poeta.
Dizem que o amor é mentira,
dizem que o amor é ilusão,
mas ai daquele que vive
sem amor no coração”.
Nossa Senhora é tão linda
que a tenho sempre em lembrança:
quem chora em seu rosto vê
olhos verdes de esperança.
Não posso deixar de consignar e fazer transcrever Olavo Dantas na condição de sonetista em:
Petrópolis
Sem esquecer o meu torrão natal,
adoro esta cidade, ninho alpreste.
Na serra existe a melhor paz terrestre,
a paz que achamos num florido val.
Pedro Segundo, o nosso guia e mestre,
deu a alma a este recanto sem igual:
duma paragem do sem-fim campestre,
Surgiu esta cidade imperial.
Cidade heráldica de um rei amado,
toda gente por ti só tem ternura
e até mesmo teu ruço é poetisado.
Petrópolis, perpétua primavera,
é-me êxtase a tua formosura
e aqui morar até morrer quisera.
Olavo Dantas, espelho que devamos nos mirar, aquele que bem soube descrever o amor e tantos outros sentimentos na condição de poeta, trovador dos melhores e autor de sonetos ímpares. A ele a nossa gratidão pela efetiva participação, em especial, na Academia Petropolitana de Letras.
O poeta faleceu no Rio de Janeiro em 28 de agosto de 1997.
Neste Ano Jubilar da APL sua figura, como a de Hélio Chaves e Mário Fonseca, havemos de rememorá-los na condição de literatos que certamente serviram de referência para àqueles que, como eu, escrevo estas modestas linhas na busca da boa leitura que muito apreciei.