O PARAHYBA – ANCESTRAL DO INSTITUTO DE ESTUDOS VALEPARAIBANOS

Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima

Foi pela mão de Augusto Emilio Zaluar que começou a circular em Petrópolis, a partir de 2 de dezembro de 1857 o jornal “O Parahyba”, que lamentavelmente encerrou suas atividades em fins de 1859.

Apesar de seu pouco tempo de existência, foi um periódico arredio ao insulamento, rebelde ao localismo ensimesmante, sobranceiro às iniqüidades da politicalha, ao chamamento das questiúnculas paroquiais, ao disse que disse das comadres e compadres pobres de espírito.

“O Parahyba” foi uma folha desfronteirizada, mensageira de intensa comunicação social na província do Rio de Janeiro e no vale do Paraíba, fosse ele fluminense, mineiro ou paulista.

Ela cuidou de aproximar culturas, interesses, provocando uma permanente troca de informações, de experiências, de resultados. E foi o arauto dos reclamos e das inquietações dos povos rurais e urbanos de boa parte do sudeste brasileiro.

Remigio de Sena Pereira, que foi um de seus principais redatores, em matéria publicada na edição de 21 de novembro de 1858, afirmou com muita propriedade a verdadeira vocação d’ “O Parahyba”. Disse ele:

“Já dissemos e repetimos com a sanção de autoridades que nos têm julgado, O Parahyba não é um jornal de localidade, um jornal bairrista, é sim um jornal propriamente da província.
E ainda mais, na conexão natural dos interesses que lhes são comuns entrelaçará no desempenho de sua idéia fundamental as três irmãs limítrofes, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas, sem que todavia decline, como órgão da imprensa brasileira a sua parte nas questões gerais”.

Tal “O Parahyba” de tão curta vida e de tão brilhante trajetória.

Em seu apostolado na defesa das grandes questões nacionais, provinciais, valeparaibanas, quatro aspectos fundamentais serão expostos aqui, deixando-se outros de parte, para que a comunicação não extrapole os limites regimentais do tempo.

1º – colonização;
2º – agricultura;
3º – vias de comunicação e transportes;
4º – acolhimento às reivindicações, reclamos e contribuições das comunidades integrantes do vale do Paraíba.

Na verdade esses quatro pontos se reduziam a três já que na ótica de Augusto Emilio Zaluar e de seu grupo, Colonização e Agricultura estavam irremediavelmente atreladas uma a outra. E a síntese de tudo estava no quarto item.

O próprio Zaluar em artigo publicado na edição de 17 de janeiro de 1858 d’ “O Parahyba”, declarava enfático:

“É impossível, já o dissemos, tratar da colonização sem falar na lavoura. Acham-se uma à outra de tal forma vinculadas que do seu complexo resulta o engrandecimento comum e deste os mais vitais interesses para o país”.

Falando especificamente de certa classe de lavradores, disse, com uma enorme visão de futuro:

“Alguns lavradores desanimados com a falta de braços não acreditando ainda de todo nos resultados da substituição dos braços livres pelos escravos, curvam a cabeça e pensam que a lavoura ferida de uma paralisia geral, está próxima de sua última hora de agonia e que lhe não resta outra salvação além do lento suicídio do desespero.

Já que não temos população agrícola suficiente para acudir em muitos pontos às necessidades palpitantes da nossa lavoura, por que não ensaiamos o modo de executar com as máquinas modernas os trabalhos que por enquanto não podemos levar avante sem lançarmos mão destes recursos?

Responderão:

Não temos pessoas habilitadas para lidar com esses instrumentos, que são muitas vezes complicados e outras de difícil emprego.

Enganai-vos. Lançai os olhos sobre diversos aparelhos aratórios, que a indústria de todas as nações levou à exposição universal de Paris; examinai atentamente essa quantidade imensa de arados, enxadas, semeadores, máquinas para cortar, para debulhar, finalmente para todos os processos empregados na agricultura; estudai com alguma atenção as explicações que correm impressas do meio de os empregar, fazei-lhe a aplicação e conseguireis de certo um resultado mais útil do que o de permanecerdes nesse monótono indiferentismo”.

Zaluar falava da mecanização da agricultura, com os recursos da época, num país de escravos, de doutores empertigados e sobretudo de politiqueiros, mais interessados na derrubada do adversário que no progresso do Império.

Mas apesar dessas mazelas que tanto nos atrasaram ao longo dos séculos, é de se louvar o otimismo de Zaluar e a sua sintonia na modernidade.

Num outro artigo publicado sob o título “A Nossa Lavoura” na edição de 31 de janeiro de 1858, Zaluar falava de duas características brasileiras: a dificuldade de se passar da teoria à prática e a luta entre os conceitos antigos e rotineiros e os avanços do progresso. Uma espécie de compromisso com o atraso de certos segmentos sociais.

Porém, o mais importante dessa matéria são os conceitos emitidos por alguém não revelado por Zaluar, os quais foram caprichosamente transcritos e que apesar de datarem de meados do século XIX são de uma atualidade a toda prova.

Aqui vão consignados os mais significativos:

“Não se pode conceber na imaginação coisa mais grandiosa, mais rica, mais variada do que estas florestas tropicais”.

“No Brasil a obra da natureza é de um luxo, de um esplendor incomparáveis”.

“O cultivador brasileiro aproxima-se desses santuários da natureza com o machado em uma das mãos e na outra o archote; em pouco tempo as árvores se abatem, o verde se desvanece, as grinaldas murchas se despegam em chamuscados retalhos, as harmonias dessas imensas harpas eólicas formadas pela ondulação dos ramos, pelo vôo dos insetos, pelo canto das aves, pelo arrastar dos répteis, pela queda das águas, são substituídas pelos estalidos do fogo que devora o espaço levantando e iluminando espirais de nuvens de fumo e cinza.

Dessa destruição irracional resulta a perda de preciosas madeiras, das resinas, das gomas, das tintas, dos aromas que encerrava o bosque.

… Apenas o machado e o fogo terminaram sua obra de destruição, o agricultor brasileiro abre com a enxada a superfície ainda quente para depositar nela a semente. Não há conhecimento ou lei agronômica que aconselhe esta operação.

A própria plantação do café, de todas a mais importante, se faz ainda, na generalidade dos casos, sem outra consideração mais que a facilidade do trabalho material da plantação de modo que plantam as montanhas em toda a sua direção.

Isto dá-se apesar de ter-se demonstrado que só a plantação em faixas horizontais é proveitosa, pois em lugares fundos o cafeeiro se esteriliza em uma vegetação viçosa porém inútil, visto que no entanto não se tira partido algum das folhas e nas alturas é um arbusto raquítico e de escassa produção”.

Sob a epígrafe “Recapitulação” apareceu em “O Parahyba” de 11 de fevereiro de 1858 matéria ainda de Zaluar na qual ele divulgava a intenção de sua folha de ser o arauto das reivindicações dos lavradores e a tribuna onde deveriam ser discutidos os temas agrícolas e trocadas informações entre ruralistas. E, aceitando o alvitre de Guilherme Benjamim Weinschenck, pensou em patrocinar uma exposição de instrumentos, utensílios e produtos agrícolas brasileiros.

Disse ele:

“Sobre os meios de fazer progredir e engrandecer a nossa lavoura que ainda se acha quase em sua generalidade opressa pela ignorância e rotina, apontaremos com as conscienciosas reflexões dos nossos próprios lavradores os processos mais adequados para a libertar de seu presente cativeiro e dar-lhe um desenvolvimento mais vasto e de acordo com a marcha progressiva do século e as necessidades crescentes do país”.

E mais adiante:

“Temos em nosso poder um projeto de exposição geral de objetos agrícolas com que nos honrou o ilustrado senhor Guilherme Benjamim Weinschenck, que julgamos um grande incentivo para atualizar os lavradores nos progressos da agricultura, que é a maior fonte de riqueza pública e ao qual daremos também a mais breve publicidade”.

A bem da verdade esse projeto de exposição que empolgara o espírito da folha de Zaluar, fora apresentado por G. B. Weinschenck em 1º de janeiro de 1854 à Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional. O parecer dessa entidade publicado em seu jornal do mês de março daquele ano não agradou ao autor da idéia e assim o assunto ficou engavetado a espera de um melhor momento para sair do papel.

Quatro anos depois, eis que “O Parahyba” interessou-se pelo tema e, num artigo intitulado “Exposição de Objetos Agrícolas” firmado por Zaluar na edição de 18 de fevereiro de 1858 do jornal em exame, vinham estas apreciações bastante judiciosas:

“Se a nossa indústria atrasadíssima, se as nossas artes quase decaídas não exigem ainda por falta de concorrência que se ponha em prática em seu auxílio este poderoso meio de seu aperfeiçoamento, não está no mesmo caso a nossa agricultura, que exige imperiosamente que corramos em seu socorro e não poupemos esforços, estudos e recursos para arrancá-la do estacionarismo em que jaz e chamá-la por meio de um forte impulso à vida, atividade e incentivo que lhe falecem.

Não achamos idéia mais conveniente e eficaz para conseguir este fim do que o plano apresentado pelo senhor Guilherme Benjamim Weinschenck e que hoje transcrevemos nesta folha, que não só prova quanto este digno e ilustrado cavalheiro tem a peito os progressos da nossa lavoura, mas ainda de quanta utilidade é para um povo o estrangeiro dedicado, que consagra ao seu país de adoção os frutos de sua inteligência e os resultados de seus infatigáveis trabalhos”.

No seu projeto Weinschenck não só apontou as principais causas que entravavam o desenvolvimento da agricultura brasileira, como também traçou o plano detalhado da pretendida exposição.

Quanto ao primeiro item deu ele ênfase aos seguintes pontos:

1º – enormes preços dos transportes originados pela falta geral de estradas próprias para carros;
2º – rareza de povoação comparada com a extensão do país e a grande falta de braços principalmente para os trabalhos da agricultura;
3º – aplicação de métodos, máquinas e utensílios defeituosos para todos os misteres da lavoura.

Quanto à exposição, ofereceu Weinschenck a proposta que segue:

1º – por circulares enviadas pelos governos provinciais seriam convidados os fazendeiros, os lavradores, os fabricantes e negociantes a mandar amostras de seus produtos, das máquinas e utensílios fabricados ou para vender no país, que tivessem relação com a lavoura. O material seria então encaminhado à exposição;
2º – cada um desses objetos seria acompanhado de uma ficha com os seus dados essenciais;
3º – as máquinas seriam postas em funcionamento para que os interessados se inteirassem de como proceder com elas, aferindo sua capacidade de trabalho;
4º – um edifício apropriado e de baixo custo deveria ser construído para abrigar a exposição;
5º – um júri faria a triagem dos elementos dignos de serem expostos e outro atribuiria prêmios aos produtos que mais se destacassem;
6º – os meses de julho e agosto seriam os mais apropriados para a exposição;
7º – o lugar mais recomendável para o evento seria Petrópolis, pela abundância de água, o que poderia facilitar o uso da força hidráulica, pela proximidade da Corte e pela qualidade do transporte, já que em 1854, ano do projeto, a estrada de ferro Mauá estava prestes a ser inaugurada e em 1858, já se encontrava ela em pleno funcionamento;
8º – finda a exposição o edifício para ela construído seria negociado com todos os seus pertences.

Apesar de todo esse esforço no rumo da dinamização e da modernização da lavoura brasileira, não consta que o evento acima detalhado tenha acontecido.

“O Parahyba” na sua edição de 11 de fevereiro de 1858 abrigou em suas colunas uma representação pública à Sociedade Central de Colonização no Rio de Janeiro.

Estranhavam os manifestantes que num país tão vasto e de população tão rarefeita, alguém pudesse recear a colonização em larga escala.

A vida inativa e o espírito inerte de alguns segmentos nacionais barravam o progresso. Argumentando com a Califórnia e a Austrália, que receberam correntes massivas de imigrantes, ousaram dizer os reclamantes:

“Infelizmente muitos não querem apartar-se da idéia corrupta de julgar ser um sacrifício distribuir terras de cultura aos emigrantes.

A sociedade central teria portanto de solver o problema, de demolir estas idéias de confusão, de espertar o amor da pátria, de fazer ver finalmente que somente pela emigração em grande escala se consegue obter um reforço interno ao país, bem como um futuro independente e feliz.

O elemento germânico, a torrente de milhares de alemães de todos os sexos, idades e condições para a América do Norte deu, digo: somente ele o elemento germânico deu à esta confederação de estados um reforço gigantesco, portanto necessita-se somente de muito pouco trabalho para obter-se aqui uma imitação”.

O que se pretendia com esse discurso era mais do que a substituição do braço escravo pela mão de obra livre, responsável, qualificada, mas o preenchimento dos grandes vazios humanos brasileiros por gente de outras terras que viesse inclusive disposta a investir e desenvolver o Império.

Mas para isso seriam necessárias além da guerra à xenofobia, uma política fundiária séria e a naturalização menos burocrática, mais abrangente e mais rápida do colono.

Mas lamentavelmente não foi isso que aconteceu e, quando já no raiar da república veio a lei de nacionalização, o Brasil tinha perdido o bonde da história e os males causados ao desenvolvimento nacional já se haviam tornado irreversíveis.

De resto, para não alongar mais este tópico de colonização mais agricultura, “O Parahyba”, tratou em suas múltiplas edições no seu curto tempo de vida, de matérias alusivas ao crédito territorial e agrícola, aos bancos agrícolas, ao guia e manual do agricultor, ao ensino profissional de agricultura, ao ensino agrícola em Petrópolis, além de abrir espaço para a correspondência vinda notadamente do vale do Paraíba e para as publicações oficiais da Sociedade Central de Colonização no Rio de Janeiro.

Quanto ao tema das vias de comunicação e dos transportes, a folha de Zaluar trabalhou mais diretamente no que tocava ao vale do Paraíba e, como seria natural vinculando esses quesitos ao desenvolvimento das atividades rurais, já que não se poderia dissociar a produção das suas vias de escoamento.

Em primeiro lugar é de se ressaltar que “O Parahyba” foi contemporâneo da construção da estrada União e Indústria, a rodovia padrão e paradigma que estaria ligando Petrópolis a Juiz de Fora, com extensão para Ouro Preto, então capital da província de Minas Gerais.

A rodovia começou a ser construída em 1856 e ficou pronta até Juiz de Fora em 1861.

“O Parahyba” acompanhou o ritmo das obras e, na edição de 21 de março de 1858 abria espaço na primeira página para falar da inauguração do trecho inicial da estrada, que ia de Petrópolis a Pedro do Rio, atual quarto distrito petropolitano.

Avultava nesse contexto a conjectura feita pelo corpo redacional d’ “O Parahyba” e dos correspondentes da folha ao longo do vale sulparaibano fluminense, sobre a capilarização viária que redundaria da própria existência da estrada União e Indústria.

Um dos exemplos mais eloqüentes está na seção “Notícias do Interior” publicada em 30 de outubro de 1859, 2º página. As notas vinham de Porto Velho do Cunha ( fronteiro ao Porto Novo ), este pertencente ao município mineiro de São José de Além Paraíba. Vejamo-las:

“Alguns dos nossos bons fazendeiros daqui nutrem o desejo de fazerem as remessas de seu café pela estrada União e Indústria, retirando assim suas tropas de São Fidélis, por onde têm até hoje remetido as colheitas anteriores, muitas vezes prejudicadas ali com o retardamento do café, um, dois e já houve exemplo de três meses.

… Pedem-nos, pois, para obter da redação d’ O Parahyba a publicação da tabela que regula os fretes de Pedro do Rio à Corte, para poderem os nossos fazendeiros ajuizar do quanto devem pagar por cada arroba, e dos dias que hão de gastar daqui até lá, afim de decidirem então definitivamente a derrota de suas tropas até a Posse e enquanto não temos ali a estação, até Pedro do Rio”.

Na edição de 15 de novembro daquele mesmo ano, desde Porto Velho do Cunha, vinham estas observações:

“Já se vai sentindo a falta da conclusão da estrada União e Indústria que nos fica daqui a 15 léguas (100Kms.) e que nos convém mais do que qualquer outra para a exportação dos nossos gêneros agrícolas…”.

E mais adiante:

“Era o interesse da Companhia União e Indústria mandar melhorar a estrada que da Aparecida (município de Sapucaia) pela Serra Morena vai ter às Águas Claras (município de São José do Vale do Rio Preto), pois só essa medida faria determinar muitos donos de tropas a mandar para aí suas viagens. Nós conhecemos estas localidades e o amigo redator sabe que só falo levado pelo zelo do interesse público”.

Sobre esse mesmo tema há um artigo de Zaluar na edição de sua folha de 10 de fevereiro de 1859 sob o título “O Ramal da Aparecida”.

Outra ligação que se cogitava na altura era a da estrada União e Indústria com o porto mineiro do Chiador, fronteiro à Anta, município de Sapucaia.

“O Parahyba” foi também contemporâneo dos primeiros louros colhidos pela Estrada de Ferro Mauá, inaugurada em 30 de abril de 1854; da construção da ferrovia D. Pedro II, depois Central do Brasil e de uma via importantíssima que ligava Magé à Sapucaia com prolongamento até Mar de Espanha, verdadeira capital da província cafeeira da zona da mata de Minas Gerais.

No trajeto destacava-se a formidável ponte pênsil sobre o Paraíba, um luxo para a época.

Da Encruzilhada, município de Paraíba do Sul, partiu correspondência para a redação d’ “O Parahyba” com data de 28 de janeiro de 1858, publicada na edição de 11 de fevereiro. Dizia o missivista in verbis:

“Rogo-lhe o favor de por meio de seu acreditado jornal fazer chegar ao conhecimento do exmo. snr. Presidente da província e lhe peça com instância para que lance as suas vistas a estrada que segue da Paraíba do Sul em diretura a Iguaçu e Corte, sobretudo na distância de quatro léguas que vem a ser da Encruzilhada de Santo Antonio (atual Santo Antonio da Encruzilhada) perto de Paraíba do Sul até a fazenda do snr. Barão de Capivari.

A estrada que vai da Paraíba do Sul ao Patí do Alferes, onde se encontra com a do Comércio, está também péssima. Estou morando por estes lugares há quinze anos e nunca ouvi dizer que o governo provincial mandasse algum engenheiro examinar o estado da referida estrada ou fazer-lhe qualquer gênero de reparo. Se ainda podem transitar por ela passageiros e tropas é isso devido à benevolência dos fazendeiros que todos os anos a mandam consertar”.

Duas observações:

1º – o missivista estava falando simplesmente de uma parte do Caminho Novo ou estrada de terra, um marco histórico no desenvolvimento fluminense e mineiro, entregue ao abandono pela incúria do poder público;
2º – como sempre e até hoje é assim, eram os particulares que estavam consertando a estrada, embora o governo provincial arrecadasse impostos, taxas e outros tributos oriundos da voracidade fiscal que sempre nos atormentou.

A propósito vale aqui uma alusão ao artigo de Remigio de Sena Pereira publicado na edição de 5 de agosto de 1858, da folha em estudo, sob o título “A Ponte do Córrego Bonito”. Dizia o articulista:

“Neste caso se acham os fazendeiros das freguesias de Cebolas, São José do Rio Preto e Bemposta, os quais abriram entre si uma subscrição para a construção de uma nova ponte sobre o rio Piabanha, defronte da barra do Córrego Bonito, no lugar denominado Santana, sobre cuja obra acabamos de receber informações mais positivas.

Organizaram para esse fim uma sociedade da Ponte do Córrego Bonito, com um capital dividido em ações, das quais já se acham passadas quase todas entre os mesmos fazendeiros.

A ponte será de madeira de dois lances de cem palmos cada um e assente sobre quatro pegões de alvenaria aparelhada.

A direção e administração da obra foi cometida desde já ao snr. José Dias Alves, que foi também nomeado presidente efetivo da sociedade”.

Eram os particulares tomando a si o encargo do poder público, quase sempre ausente, onde mais se fazia necessária a sua atuação.

Sempre atento aos problemas viários e aos avanços dos meios de transporte, “O Parahyba” chamou a atenção do governo provincial para a precariedade da estrada que ligava São Fidelis a Cantagalo, por onde circulavam cerca de 350.000 arrobas de café por ano; noticiou a licitação para que se construísse a estrada do Passa Vinte, que haveria de ligar as bacias do Paraíba e do rio Grande; cantou alviçaras à ligação ferroviária entre Cantagalo, Minas e São Fidelis, à Companhia Macaé e Campos, encarregada da ligação fluvial e marítima entre o baixo Paraíba no norte fluminense e a capital do Império e à Companhia União Campista e Fidelista, organizada na cidade de Campos em 12 de agosto de 1855 com um capital de 350 contos de réis, para transportar principalmente café pelo Paraíba com extensão até o Rio de Janeiro.

Resta agora abordar, ainda que rapidamente, o tópico concernente ao acolhimento às reivindicações e contribuições das comunidades integrantes do vale do Paraíba. Elas vinham nos noticiários da folha e principalmente numa seção intitulada “Correspondência particular d’O Parahyba”.

Trata-se de um tópico síntese, pois ele pode englobar todos os anteriores e mais alguns que não puderam ser arrolados aqui, para que se não encompridasse demais esta comunicação.

Na edição de 15 de setembro de 1859, apareceu, vinda de Cantagalo, a grita a respeito dos abusos no enterramento dos mortos. Dizia o missivista:

“Aqui é indiferente que escravo ou empregado, pois que são pobres, sejam enterrados no sagrado ou no profano (tal é a idéia que se forma do sagrado!). Morre um escravo não se procura atestado de médico (isso nem ainda que o senhor seja dos mais ricos). Todos se julgam desobrigados dessa tão importante e policial medida, somente em prática na Corte; verificado por alguém que o infeliz tem os olhos fechados e a boca aberta, e porque o albardão do enfermeiro não achou mais pulso, está morto!

Dada desde logo ordem para o enterrar, lá se vai na mesma hora envolver em sua manta aquele volume e, cortado o competente taquaruçú, ata-se pelos pés e mãos ao pau aquele capado e daí o conduzem na mesma hora ao lugar onde se enterram os escravos da fazenda”.

Não é de hoje que há um Brasil vitrine, o da Corte e um outro real na rudeza de seus costumes.

Os clamores de alguns arraiais da zona da mata mineira, tributários da ribeira da Paraíba, sempre tiveram guarida nas páginas d’ “O Parahyba”. De diversos lugares vinham cartas com reivindicações e propostas, logo divulgadas pela folha em estudo.

Na edição de 17 de fevereiro de 1859 o então arraial do Espírito Santo, hoje cidade de Guarará, reclamava da Assembléia pelo menos a sua elevação à freguesia; a mesma reivindicação partia dos arraiais de Santo Antonio do Aventureiro e de Madre de Deus do Angu (hoje Angostura), distrito onde não havia pobres, onde todos eram remediados ou ricos.

Do Porto Velho do Cunha vinha na edição d’ “O Parahyba” de 15 de novembro de 1859 a notícia de que a barca lançada ao Paraíba pelo governo de Minas para dar passagem às bestas carregadas, às boiadas, carneiradas, porcadas, em demanda de São Fidelis, havia sido recuperada, depois de três anos em que estivera enterrada no rio, com enorme volume de areia a bloqueá-la.

Numa síntese disse certo correspondente na seção “Cartas do Interior”, publicada em 18 de novembro de 1858, a propósito desse estupendo trabalho de comunicação social levado a efeito pela folha de Zaluar no vale do Paraíba:

“O Parahyba despertando a atenção dos poderes do estado para o melhoramento das vias de comunicação e da instrução pública, como meio de destruir os óbices que dificultam a marcha do progresso provincial, e como o remédio salutar que deve trazer à agricultura e à indústria, numa época pouco remota os gozos e vantagens de que há muito se acham esbulhadas estas fontes primitivas de riqueza pública, presta à nossa bela província o mais relevante serviço, digno da gratidão de seus habitantes, que por sem dúvida concorrerão com o seu auxílio e esforços a tornar realizáveis as idéias de tão valente lidador”.

Era o reconhecimento dos contemporâneos ao enorme esforço desenvolvido pelo jornal de Augusto Emilio Zaluar na aproximação dos povos sulparaibanos.