Petrópolis, a Outra!
Um invisível universo operário

Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, Associado Titular, cadeira nº 13 –

In memoriam de Oazinguito Ferreira da Silveira, meu pai, um “tintureiro” das fábricas, mas um libertário, anarquista na juventude e logo assumidamente comunista, buscava seu próprio caminho.

“¿Dónde vas con paquetes y listas?
Que de prisa te veo correr.
Al Congreso de los anarquistas
para hablar y hacerme entender.

Explicadme un momento siquiera
anarquista, ¿qué quiere decir?
La inmensa falange obrera
que reclama el derecho a vivir.

El obrero que suda y trabaja
¿Dime cómo es que puede estar mal?
Pues el burro que come la paja
lleva el grano para otro animal.

Es extraño, pero no lo entiendo
que pretende tu nueva alusión.
Que lo mismo le va sucediendo
al obrero con su producción.”

(La verbena anarquista, considerada Marsellesa Anarquista. versos cantados utilizando-se a canção de Tomás Bretón (1792), La Verbena de La Paloma) (1)

(1) Guido, Carla Rey e Walter. Cancionero Rioplatense, 1880-1925, Biblioteca Ayacucho.

Introdução

A primeira vez que me encontrei com esta canção era pequeno e ouvia meu pai, tintureiro na Cia. São Pedro de Alcântara de Petrópolis (1960) a assoviar entre as tinas industriais que recebiam tecido cru para serem tingidos à pressão de água e vapor sob sua orientação ou então às escondidas em casa quando analisava em um micro visor a qualidade dos tecidos e dizia que as “chitas sempre foram poderosas, mas nunca lhe deram o valor que merecia”. Chita, um histórico tecido criado em sociedades orientais como a hindu, concorridamente populares, mas de um esplendor pelas imagens e desenhos possíveis de serem impressas.
Mas nunca lhe questionei absolutamente nada, mas a melodia seguiu habitando meu inconsciente, se incrustando em minha memória e me acompanhando a fase final da adolescência. Em Niterói a ouvi novamente de um professor da UFF (1977) e ele me disse que esta musica foi uma famosa canção anarquista. Mais tarde deparei-me novamente com esta referência do cancioneiro anarquista, justamente na obra memorialística de Zélia Gatai, Anarquistas Graças à Deus obrigando-me a resgatar um universo em minha vida para o qual nunca mais havia me detido e nem me obrigado a registrar, tamanho o egoísmo que residira em minha adolescência e que me levou o pai.

“Elas cantavam e o público fazia coro no final, todos repetiam o ‘vivir!’ a plenos pulmões. Nunca consegui encontrar nada tão vibrante capaz de fazer face a essa ardente canção, de derrotar as ‘espanholas’.” (2)

(2) Anarquistas Graças à Deus, Zélia Gatai, p.128, 1979, Editora Record

Deparei-me com ela de forma incidental quando procurava resgatar de forma não intencional no Arquivo Municipal as “greves operárias locais”, fator que me conduziu a tecer por anos este livreto, procurando dar visibilidade a uma Petrópolis que foi oprimida, perseguida, tornou-se invisível por décadas e a fórceps tem sido resgatada já que pouco de sua memória sobreviveu.
Pelos últimos anos algumas publicações surgiram tendo por base estudos realizados sobre o universo operário petropolitano, temática a qual tenho desenvolvido pesquisas e artigos desde o ano de 1981 quando estagiário e posteriormente funcionário que fui incorporado à equipe do Arquivo Histórico Municipal, órgão pertencente à Biblioteca Municipal sob a direção de Yedda Lobo, professora, arquivista e bibliotecária pública. Personagem compartilhara minha vida no IEPK (3) ao lecionar matemática, mas incentivando a todos com sua paixão pela história. Sob sua indicação técnica, realizei a indexação dos jornais operários petropolitanos, depositados na instituição, cujos estratos permaneceram sob minha guarda e agora público.

(3) Instituto de Educação Presidente Kennedy, estabelecido seu ginásio, cientifico e curso Normal, no período matutino do Grupo Escolar Cardoso Fontes e se transferiu para o contínuo do Pedro II nos anos 60.

Operariado, imprensa, indexação

O processo de indexação dos jornais operários petropolitanos e pesquisa sobre imprensa e vida operária em Petrópolis surgiram a partir da leitura dos extratos de ensaio da professora da Universidade Federal Fluminense, Ismênia Martins, que seguiram para publicação em 1981, ainda no arquivo do Museu Imperial, sob a guarda de Áurea de Freitas Carvalho, então diretora do Arquivo de Documentações do Museu Imperial, outra fascinante professora no curso de história da Universidade Católica.
Ismênia junto a grupo de alunos da citada Universidade nesta época desenvolveram pesquisas na cidade com a assistência de Áurea de Freitas Carvalho (MI/UCP) e Maria Amélia Porto Miguéis (UNIRIO), tendo como objeto as fontes industriais petropolitanas. Contavam a época com o auxilio da Universidade Católica de Petrópolis (UCP) e do Instituto Histórico de Petrópolis (IHP) para concretizar os seus “Subsídios para a História da Industrialização em Petrópolis” (1984).
Trabalho oportuno, incorporado às necessidades da época de uma revisão historiográfica fluminense e também petropolitana, onde a professora Áurea, já desenvolvia de forma independente a coleta de documentos de arquivos industriais para anexar ao projeto institucional de levantamentos dos “Arquivos Fluminenses”, que se realizava em algumas cidades.
Com inúmeras considerações históricas bem fundamentadas, o trabalho da professora Ismênia tomou por base os poucos relatórios existentes de indústrias como a São Pedro de Alcântara e a Companhia Petropolitana da Cascatinha, garimpados por Áurea, assim como reforço de dados de um clássico da historiografia, autoria do brasilianista Stanley Stein (4), observado até então como uma das grandes obras de coleta e análise de documentos do período das origens da industrialização no Brasil. Trabalho inigualável para avaliação da produção e dos componentes de industrialização, comportando dados sobre Petrópolis, que mesmo necessitando de novas pesquisas para complementação eram fundamentais.
Mas no que se refere às formas associativas do operariado e da imprensa operária petropolitana, assim como seu cotidiano, a obra de Ismênia deixou alguns hiatos. Um destes permaneceu, pois realizara referências somente ao trabalho sobre imprensa operária no Brasil baseando-se exclusivamente na obra de Maria Nazareth Ferreira (5), onde a autora relacionava a existência de três jornais operários petropolitanos – A Aurora (6) de 1919; O Tecelão de 1921 e O Alvorada de 1921. Referências estas cujas fontes não foram citadas por Maria Nazareth, assim como as descrições presentes nos mesmos, que não foram encontrados pela equipe de Ismênia.

(4) Nacionalidade norte-americana.
(5) FERREIRA, M. N.. Imprensa Operaria No Brasil: 1880-1920. PETROPOLIS, RJ, Editora Vozes, 1978. Seu livro, junto ao de Nelson Werneck Sodré, são fundamentais para estudo da história da imprensa no Brasil.
(6) Considerado por Fróes um “panfleto”, e não um jornal semanal de crítica social, pertencente a Santos Junior.

O procedimento de levantamento da imprensa operária e anarquista ainda engatinhava em São Paulo com um viés de pesquisa carioca, mas todos ainda se valendo das pesquisas de Nelson Werneck Sodré (7) e Edgar Rodrigues. Para a localidade este procedimento se tornaria mais objetivo quando observadas as notas extraídas do trabalho pesquisado por Gabriel Kopke Froés (1957) e publicado quando das comemorações do Centenário da Imprensa Petropolitana pela Tribuna de Petrópolis (8).

(7) A História da Imprensa no Brasil
(8) À época direção de Guilherme Auler.

O problema presente nas décadas de 70/80 é o de que muitos acadêmicos, em sua maioria procuravam acompanhar e desenvolver estudos relacionados à área econômica e a macro-história (9) e quando transitavam em trabalhos de pesquisa regionais, ou de história local, não auferiam maiores resultados, devido à distância dos conjuntos teóricos já elaborados e destinados à análise do comportamento de uma macro-história, o que vez por outra os tornava conflituosos em suas ponderações (10) e avaliações sobre a história local ou mesmo a regional. Muitos chegaram inclusive na década de 80, quando ocorreu a explosão de trabalhos regionais, a não levar em consideração em sua bibliografia quaisquer das orientações presentes na obra de José Honório Rodrigues (11), cujas especificidades teóricas para semelhantes pesquisas foram próprias, conduzindo a uma melhor abordagem, claro não desmerecendo outros postulados e manuais que se seguiram em época posterior.

(9) In, Marcos A Silva, quando realizou comparações biográficas de História do Brasil
(10) Este assunto é abordado por Pierre Goubert.
(11) Teoria da História do Brasil e A Pesquisa Histórica no Brasil, in Brasiliana.

Outro fator comprometedor e especialmente em nosso caso, o petropolitano, foi o do preconceito desenvolvido por parte de um segmento do universo acadêmico e resultante da falsa interpretação que, geralmente, universitários e historiadores produziram como resultado do belo trabalho desenvolvido por Amélia Maria de Souza (12), que analisou a distribuição da produção historiográfica (13) petropolitana em toda sua época, sendo tanto pesquisa e publicação ocorridas em meados dos anos 70 (1970). Quando afirmam, em uma primeira leitura, alguns de seus pesquisadores serem os historiadores petropolitanos “desprovidos de formação” e “marcados pelo positivismo”, além de serem “excessivamente factualistas”, entre outras qualificações (14).

(12) Retratado em Produção e Reprodução de Renato Rocha Pitzer.
(13) Monografia publicada pela Universidade Católica de Petrópolis.
(14) In, Pitzer.

Teria sido oportuno se parte destes acadêmicos, críticos da historiografia petropolitana se orientassem pelas palavras de Amélia Maria, que oriunda da academia, dos grandes centros de estudo e pesquisa, mas desprovida dos preconceitos presentes à época, afirmou ser esta uma característica do registro histórico regional brasileiro, não sendo somente “um atributo da região petropolitana, mas muito comuns aos demais municípios que distavam dos centros soberanos de produção do saber teórico”, essencial a conservação de um fantástico acervo. Portanto podemos observar que estes “bacharéis” em sua maioria realizaram a história regional do país mesmo com seus ideais positivistas, com suas pesquisas descritivas e de fichamento considerados arcaicos por jovens acadêmicos. Estes, sim, tornaram-se reserva e resistência para um mínimo palpável de produção histórica, de registro para a posteridade, em suas épocas, de regiões e municípios completamente esquecidos pelos especialistas de quaisquer áreas das ciências humanas.
Outro fato que não pode ser esquecido é o de que nossa historiografia também sofreu imensa repressão quanto a publicação. Repressão ora ideológica, religiosa, realizada pelos poderes políticos, localistas e econômicos constituídos, que se orientavam pela subserviência a outros poderes, em geral presente ou de ascendência sobre a comunidade. Exercido pela pequena e provinciana burguesia, como pelos estamentos econômicos, religiosos e militares constituídos na em sua historia. As pressões sociais também devem ser mencionadas, pelo ponto de vista da abordagem cultural discriminatórias.
Devemos inclusive considerar as tentativas de reordenação acadêmica executadas em diferentes épocas do regime militar na cidade onde diversos famosos professores foram perseguidos, “exilados” da localidade universitária. Alguns com trajetórias em cursinhos do Rio de Janeiro e outros vinculados ao CASES, herdeiros da História Nova.
Proibidas eram as simples menções às ideias dos “Annales”, observadas como “revolução”. Forma de contestação aos primados dominantes na mesma localidade, ameaça até mesmo aos “positivistas”, detentores da configurada verdade histórica.
Outro ponto a ser considerado é o de que a produção histórica petropolitana, ao contrário dos centros de produção da capital, possuiu como ápice de publicação os jornais locais, instrumentos de produção não somente social como cultural e de resistência, onde podem ser observadas as maiores reservas de produção historiográfica (15), pois o custo de uma publicação era oneroso para quem se aventurasse ao mercado editorial, sem qualquer retorno do investimento, pois como ato comercial inexistiria. Inúmeras destas publicações ocorreram, por contribuição, não sendo até a presente data analisadas ou avaliadas. Carecem inclusive de uma política de condicionamento e organização arquivística próprias, bem mais adequadas, e que vem sendo negligenciadas pelos poderes municipais das últimas décadas.
Acrescentamos que os trabalhos observados como progressistas por acadêmicos, como Amélia Maria de Souza e Ismênia de Lima Martins, foram editados pela Universidade Católica de Petrópolis na gestão de Dom Veloso como reitor e bispo.

(15) In, Amélia Maria de Souza.

Retornando às considerações sobre o trabalho de Maria Nazareth comparado ao de Gabriel Fróes, podemos observar que este não se atém somente aos anteriormente citados por Nazareth, mas também assinala a edição de O Operário, de 01 de maio de 1917, considerado um quinzenário de “propaganda da instrução do meio operário”, também organizado por J. A. Soares; O Pixé, agosto de 1899 (16), Órgão dos Empregados do Comércio, pertencente a Neves e Cia.; Jornal da União dos Empregados do Comércio, 1928 e talvez de forma proposital tenha se esquecido de citar A Ordem (17).

(16) Conforme podemos observar, O PIXÉ que, segundo informações de Fróes, foi editado ainda no século XIX foi a primeira folha representativa de um órgão de classe de empregados em Petrópolis. Menções fazem Werneck Sodré à presença dos primeiros jornais anarquistas em São Paulo dirigidas por Mota Assunção, e quanto a órgãos de classe efetivos só na primeira década do século XX. Já Gisálio Cerqueira Filho menciona (pg.37), a existência no Rio de Janeiro do jornal O PROTESTO, 1900, de tendências anarquistas. Porém os estudos de Edgar Rodrigues sobre História da Imprensa Social no Brasil citam os órgãos dos tipógrafos, o Jornal dos Tipógrafos, mas sem maiores informações. Maiores informações sobre O PIXÉ não são apresentadas por Gabriel Fróes.
(17) Questões políticas de época, pois Fróes foi contemporâneo dos editores.

Outros jornais operários, assim como panfletos talvez às centenas ou milhares, podem ter existido por menção, mas incômodos para preservação não passam somente pela figura da guarda da Biblioteca Municipal, que nunca foi organicamente estruturada, apesar dos esforços técnicos e solicitações de sua diretora, a professora e bibliotecária Yedda Lobo, entusiasta na guarda de material histórico.
Também devemos ressaltar o fato da guarda provisória da hemeroteca por quase uma década no Museu Imperial (construção do novo Centro de Cultura), onde se acusou extravio, acidentais ou incidentais. Assim como, também pela forma repressiva que se desencadeou sobre a produção operária na cidade, principalmente, antes e durante a Segunda Guerra, como durante a Guerra Fria, enfim, consequências da “batalha ideológica” que se movia nos bastidores contra os “vermelhos” e sindicalistas, na cidade por demais evidentes.
Neste período histórico pesquisado, acusamos a existência de sete órgãos operários para uma população operária que entre 1880 à 1920 situava-se entre cinco mil à quinze mil operários (18), dados significativos, que não pode ser desprezado por qualquer pesquisador. Principalmente se levarmos em consideração que estas publicações não partiam do meio operário, mas em parte de pessoas do movimento oriundas de outras regiões do país ou com contatos com o mesmo movimento, como foi o caso de Bertho Conde, que formado em direito em São Paulo e havendo atuado no jornalismo paulista, principalmente, durante a greve geral anarquista de julho de 1917, transfere-se para Petrópolis e toma para si a causa. Mesmo que estas fossem consideradas de “aspirações políticas”, como o acusavam (19), pela proximidade com a Capital e pela importância de Petrópolis no cenário político republicano. Devemos também registrar que alguns entusiastas e simpatizantes dos movimentos, egressos das hostes literárias locais, mesmo da elite comercial da cidade, por pseudônimo atuavam, escrevendo ou patrocinando de forma invisível com contribuições.

(18) Segundo informações dos próprios jornais operários da época (O Alvorada), o exagero é parte de sua propaganda. A população operária talvez não tenha ultrapassado a casa dos dez mil para uma população de trinta mil habitantes.
(19) Tribuna de Petrópolis e Cidade de Petrópolis, onde o jornalista Álvaro Machado, em artigo intitulado O Defensor da Classe Operária, 25/06/1918, o acusa de insuflador do operariado.

Analisando com atenção fascículos de A Ordem, pertencentes ao acervo, observamos que nos primeiros exemplares, principalmente em seu número três, primeira página, ingenuamente critica a questão do lixo e o compromisso da prefeitura ante o mesmo, fazendo uma apologia ao recebimento dos Estatutos da Liga do Comércio, assunto, para época, por demais comprometedor com as questões da elite e encerra a mesma página com comentários ao futebol local. Somente nas páginas internas, discorre sobre a questão operária de forma crescente e agressiva. A partir do número 18, torna-se mais viril quanto às questões operárias, passando a ser orientado por uma associação, possivelmente de operários. O que nos indica que influências anarcossindicalistas se fizeram mais presenciais e coincidentes com o movimento grevista na cidade (20).

(20) Ensaio sobre o Movimento Grevista em Petrópolis.

Esta característica, presente nos primeiros números, seria uma denúncia da situação repressiva à época na cidade, se considerarmos que comerciantes e industriais possuíam organizações muito mais fortes e influentes, chegando inclusive no caso dos industriais a terem um conselho de segurança (21), já que seus representantes estavam presentes em todos os cargos políticos munícipes do período.
Consideramos até mesmo A Alvorada, (1921), em seu primeiro número, primeira página, vago quanto ao editorial na apresentação à comunidade. E quando realiza seu discurso “Pela Instrução dos Proletários”, mistura orientação, educação com curso de Esperanto (22), divagando sobre o “a matéria e o espírito” nas palavras de Américo Falleiro, um evangélico à época, presente no seio do movimento operário (23) e preso em 1919:

“Nas associações de classe os trabalhadores devem reinvidicar o pão material e, na escola, por intermédio do livro, da penna e da esthetica, o pão para o espírito. A harmonia desses dois órgãos – o espírito e a matéria – coincidirão com a felicidade dos povos…”.

(21) In, Tribuna de Petrópolis, organizado após os saques de 1918.
(22) Num trabalho paralelo ao das Escolas Livres, os libertários adotavam o Esperanto como sua língua universal, agilizavam o livre pensamento, a formação de ateneus, grupos naturalistas e de teatro social. Por este meio faziam propaganda de suas ideias ao vivo para as famílias proletárias e outros, bem como instruíam, treinavam na arte do diálogo social e ainda conseguiam recursos financeiros para prestar solidariedade humana e publicar jornais, revistas e brochuras anarquistas (in, Rodrigues, Edgar)
(23) A Tribuna de Petrópolis publica em sua seção operária uma carta de Américo Falleiro, que se encontra preso na casa de detenção, intitulada “Memórias do Cárcere”. 11/05/1919.

No caso especifico de Bento Aguiar, A Alvorada, de J. Soares observados como únicos a direção pelo mencionado em outros jornais da época.
J. Soares, editor de O Operário, do qual não possuímos qualquer exemplar, já escrevia com grande constância na imprensa da Capital e fazia parte do grupo de cronistas da Revista Vozes de Petrópolis (24). Já Bento Aguiar demonstrava mais compromisso quanto ao ideário anárquico da época, ao analisarmos a editoria de A Alvorada.
Sabemos que pesquisas sobre imprensa petropolitana neste período da República Velha, causaram apreensão a inúmeros pesquisadores, não somente locais como do Rio de Janeiro (25), devido ao grande número de publicações tidas em sua maioria como efêmeras que surgiram (26) no período, observadas como descompromissadas, mas que se destinavam, em sua maioria, a uma elite burguesa, veranista, com tiragens limitadas. Um parque tipográfico modesto, porém representativo para a cidade na época.
Quanto ao quadro ideológico, instituído como objeto de análises do movimento operário no Brasil, observamos que Petrópolis foi, durante a República Velha, um polo de excelência industrial na região sudeste, junto ao Rio e a São Paulo, com indústrias de grande porte e representativas no cenário econômico nacional. Mas devemos também observar que quanto à influência das ideias anarcossindicalistas, ao fim do século XIX, ocorre um relativo deserto na cidade, não somente pelos motivos expostos por Ismênia Martins, como também pela ascendência dos grupos dominantes locais, atuando de forma repressiva, desde a presença da Corte em seus longos veraneios, assim como de legações diplomáticas e outros. O que intimidava qualquer processo político de cunho popular, tamanha proximidade com o poder.

(24) Crônicas publicadas na Revista de Cultura Vozes de Petrópolis em 1918, onde ressaltamos o trabalho sobre a Gripe Espanhola no Rio de Janeiro.
(25) Trabalho publicado semanalmente na Tribuna de Petrópolis em 1983.
(26) Mais de duas centenas.

Mas também devemos levar em consideração, como um dos exemplos, que a bem organizada vila operária da Cascatinha, com escola, unidade de saúde e creche estruturadas, unidades beneficentes, tenham contribuído para acomodação social dos descendentes itálicos que para região do vale se deslocaram, possuindo basicamente o que para os demais era fonte de contestação e briga nas demais regiões do país, principalmente em São Paulo; afinal, para os anarquistas, estar incorporado à política institucional já era de certo modo aderir à lógica burguesa, e caso houvesse um grande número de defensores da causa em Petrópolis, não haveria ocorrido a acomodação, portanto faltaram lideranças, fato que só se processou muito mais tarde com as migrações de trabalhadores anarcossindicalistas para as proximidades de industrias como a Cometa e a São Pedro de Alcântara.
Observamos que de 1917 à 1921 muitos representantes das organizações operárias do Rio de Janeiro se fizeram presentes em movimentos e palestras de Petrópolis, além de reuniões formativas, festivais, mas não ocorreu a disseminação de uma virulenta influência anarquista como deveria ser esperado como resultante de tal ação, mesmo se avaliado os movimentos locais de 1918.
Comportavam-s os movimentos locais com muita espontaneidade em suas ações, principalmente quanto as declarações de greves. Tanto que depois é que as soluções passam a ser capitalizadas para as associações de operários.
Quanto a uma imprensa operária petropolitana, base de nossas análises, podemos classificá-la pelo que se apresenta nos exemplares em tela, como “tipicamente importada” e moldada às necessidades locais. Muito mais uma interiorização das ações do movimento, e até em certos casos como o A Alvorada, como uma resposta à repressão efetivada no Brasil durante o governo Epitácio Pessoa, que se tornou brutal, com um sem número de deportações de militantes anarquistas, prisões, torturas e assassinatos, fechamentos de sindicatos e empastelamentos de jornais operários tanto no Rio como em São Paulo. Tanto que, em outubro de 1920, a polícia dissolveu à bala uma passeata de trabalhadores na Av. Rio Branco no Rio de Janeiro, com trinta feridos, o que conduziu de certo modo ao início de um recrudescimento do movimento operário na maioria dos centros urbanos, não ocorrendo repercussão do mesmo em Petrópolis.
O movimento operário brasileiro, em sua essência anarcossindicalista, sentiu os golpes desta repressão e declinou a partir de 1921. Os sindicatos chamados de “amarelos” (27) se fortaleceram rapidamente e passaram a disputar a hegemonia de diversas categorias com os sindicatos revolucionários. Entre os anarquistas, desmoronaram as esperanças na Revolução Russa, com a chegada das notícias sobre a repressão bolchevique.

(27) Sindicatos atrelados à política dos patrões e do Estado, tidos pelos revolucionários anarquistas como subservientes.

Quanto a uma imprensa operária na Cascatinha, fato que também nos causa estranheza, pois a editoração ocorreu somente em 1915 de um jornal “oficialesco” na região (1927), Jornal de Cascatinha, e demais dados são completamente obscuros, podemos sim ainda creditar a não ocorrência à possível “acomodação” de fontes informativas da região. A ausência de uma folha-operária na área da Cascatinha poderia ser observada na atualidade como fenômeno desestabilizador para a época de qualquer forma de expressão operária mais violenta, apesar de que qualquer movimentação nas proximidades da Cia. provocava receio nas autoridades da cidade e principalmente para a elite econômica pelo grande contingente de operários em uma só região.
Outro fato importante a ser registrado é que os primeiros italianos chegados a Petrópolis, principalmente para a Cascatinha, comportaram-se de forma idêntica aos alemães (28), quanto ao processo associativo, com suas unidades sociorrecreativas completamente “despolitizadas” a princípio (29) , isto ao final do século XIX. Muitos contradizem esta teoria da despolitização buscando afirmar que os operários alemães eram “mais cautelosos” (30) quanto a posicionamentos políticos, sendo os ítalo-austríacos da mesma coloração.

(28) Talvez um caso singular no país, o que contraria Francisco Foot Hardman, em Nem Pátria nem Patrão, onde a configuração político-ideológico estava presente até mesmo nas organizações sócio-recreativas.
(29) Este processo talvez fosse mais característico do grupo italiano petropolitano por serem, segundo Paulo Roberto Martins de Oliveira, os operários italianos contratados entre os imigrantes, os primeiros foram, em sua maioria operária ítalo-austríacos que vieram para o nosso país e que se dirigiram para Petrópolis, eram oriundos do Tirol do Sul, sendo esta uma região formada pela província de Bozen/Bolzano, e houve também outros austríacos que vieram da região de Trentino. In, Primórdios Da Companhia Petropolitana No Quarteirão Westfália, Paulo Roberto Martins de Oliveira, IHP, 2002.
(30) In documentos operários, artigos, in Edgar Carone.

Claro fica que, a partir do final da década de 70 e meados da de 80 do século XIX, chegaram à região, italianos oriundos das fazendas de São Paulo, contratados para compor o operariado da Cia., ou já tornados, emigrantes, fugitivos dos “castigos” operados por alguns “Barões de Café”. Chegam alguns pesquisadores (31), inclusive a citar uma greve, cujo registro seria de primeira na América Latina, e cujo motivo seria a redução de salários, culminando com a expulsão de seis famílias. Além da menção de algumas greves na “saboaria” da fábrica (32), (33).

(31) In, Borsato, Wilma, Cascatinha e os Italianos, Centenário da Tribuna de Petrópolis, 2003. Nota: não são citadas suas fontes de informação.
(32) Ibdt.
(33) as datas não são especificadas

Na mesma pesquisa, é citado o número de 1.300 funcionários em 1885, o que dificilmente pode ser considerado a esta época, se confrontarmos o trabalho de Wilma Borsato com o de Paulo Roberto Martins de Oliveira, que resultou de muitas horas de pesquisas realizadas em vários documentos de diversos arquivos, sendo o primeiro e principal destes as atas de criação da Cia. Petropolitana. Paulo Roberto contradiz tal fato, também apoiado que pode ser pelo quadro estatístico exposto pelas pesquisas de Ismênia de Lima Martins, que citam um total de 445 para 1886 e nenhum para 1885 (34).

(34) in, Subsídios para a história da industrialização em Petrópolis, pg. IV dos anexos.

A mesma autora do estudo sobre os italianos na Cascatinha cita ainda discussões e movimentos acerca da construção de uma capela. Ao que podemos observar que prevalece, porém bem mais ao final do século XIX, a questão religiosa local, e a repressiva por parte da gerência da fábrica para coibir movimentos. Mas ainda permanece completamente intrigante o fato de não haver ocorrido uma folha operária na região, já que mais tarde são os italianos da Cascatinha, da Cia. Petropolitana, os primeiros em Petrópolis a criarem associações beneficentes e de socorro mútuo, como era comum ao meio operário brasileiro nos primórdios do século XX, principalmente os anarquistas em São Paulo.

Assim sendo, o grande questionamento das campanhas e questões operárias em Petrópolis era mote de defesa dos operários das indústrias mais próximas ao centro da “cidade”, como a Cometa e a São Pedro de Alcântara (35). Melhor organizados em associações, o que indica um trabalho de orientação já intenso, principalmente na Cometa, observada em nossa análise como uma das mais reprimidas pela ação dos patrões em conjunto com as autoridades locais (36).

(35) como ficam comprovados nos referidos jornais operários em analise.
(36) Comparando as notas dos jornais operários e posteriormente das noticias de greves no trabalho executado para o Centenário da Tribuna de Petrópolis.

Quanto aos movimentos de 1917 na cidade, ou até mesmo no Rio, eles refletem a luta gerada a partir de São Paulo, confirmando o que Boris Fausto tão bem delineia, onde toda a organização anarquista que é patente na greve geral de 1917, a mais importante da Primeira República, não possui objetivos claros se devendo seu sucesso a “espontaneidade” dos trabalhadores (37) frente às condições adversas da própria sociedade que se encontra num estágio primário do capitalismo (38), muito mais uma reação à carestia dos gêneros e outros fatores associados que formaram uma “bomba de efeito”, sobre a sociedade e, principalmente, sobre os operários que eram os mais sacrificados.

(37) Não a espontaneidade puro “como o de um conto de fadas” in, Boris Fausto, Conflito social na república oligárquica: a greve de 1917, 1974.
(38) Ibdt.

Comprovaremos o citado fato ao nos determos em Petrópolis sobre o “Célebre 31 de agosto de 1918” (39), onde o comércio petropolitano e as autoridades quiseram creditar a revolta, os saques ocorridos às lojas e armazéns, além do assassinato do delegado, aos movimentos operários, esquecendo-se, ou procurando fazerem-se de “esquecidos”, do plano real de armazenagem de gêneros alimentícios, principalmente de açúcar, que seriam embarcados pela Leopoldina e exportados para obtenção de divisas, o que causava desabastecimento e diretamente maior carestia dos gêneros de primeira necessidade no país, e principalmente na região. Acontecimento que resulta na rebelião e protesto, portanto a tese da “espontaneidade” do movimento operário, tese abordada por Boris Fausto, assenta-se mais ao contexto local (40). Mas, por outro lado, não podemos considerar que tal movimento ocorrido na região trouxe a atenção dos movimentos anarquistas definitivamente do Rio para Petrópolis e, até 1921, ou de novas organizações.

(39) Movimento petropolitano estudado e publicado em ensaio em outubro de 1983 pela Tribuna de Petrópolis.
(40) Tal discussão se realizou como efeito da publicação sobre o movimento dos Saques em Petrópolis.

No caso de Petrópolis, quando muito operários, italiano ou não, sem relacionamento familiar, ou associativo, que se sobressaia em greves ou movimentos, eram encontrados mortos nas estradas (41). Inúmeros são os casos de pessoas sem identificação que são encontradas mortas pelos caminhos ou trilhas, e que não despertavam interesse investigativo por parte da polícia local, são consideradas como vagabundas ou desocupadas que “caíram e bateram com a cabeça em alguma pedra”, conforme registros da imprensa (42). Bem sabemos que um grande número de italianos, sem origem, austríacos oriundos de São Paulo ou do Rio de Janeiro, aportaram em Petrópolis, procurando ser introduzidos como operários em fábricas do centro da cidade e caso não o conseguissem, trabalhariam como ambulantes (43). Sendo estes mais influenciados pelas ideias anarquistas.

(41) Não podemos, definitivamente, fazer tais associações pelo simples fato de a documentação da Delegacia não estar aberta a pesquisas. Mas podemos relacionar com as descrições das colunas policiais de jornais como a Tribuna.
(42) Recente trabalho para o Centenário da Tribuna de Petrópolis, 2002.
(43) Muitos vendedores de peixes e outros produtos, in Tribuna de Petrópolis.

Casos de abusos cometidos contra operárias e crianças (44) nos estabelecimentos talvez não fossem registrados no estabelecimento policial local (45), a não ser como notas na Tribuna de Petrópolis por um jornalista soberbo e de destaque na imprensa petropolitana como Arthur Barbosa (46), para o qual todo e qualquer acontecimento merecia registro, mesmo que o fosse contrário ao que seu grupo político defendia (47).

(44) Ibdt.
(45) Ainda não o sabemos, permanecendo na dependência da abertura dos arquivos da Delegacia de Polícia sob a guarda do Museu Imperial.
(46) como registro da imprensa e não na coluna de ocorrências policiais.
(47) Ensaio anexo sobre os movimentos grevistas na República Velha em Petrópolis.

Outro fato era esta inserção política da qual Petrópolis era acometida no seio tanto da Corte como posteriormente da Capital da República, como “sede de veraneio”, o que de certo modo limitava o espaço social da própria cidade dentro da defesa dos seus direitos, apesar de que muitos movimentos foram constatados (48) mesmo na “contramão” desta tendência.

(48) como o já citado 31 de agosto de 1918

O coeficiente educacional munícipe para filhos de operários e mesmo para descendentes de colonos era insignificante, quase nulo. Escolas públicas destinavam suas vagas a filhos de funcionários públicos ou de comerciantes. Portanto quem se dedicaria à leitura de jornais no seio da população operária, ou quantos, já que a sobrevivência andava sempre em condições críticas.

Quanto às “formas associativas de classe”, a professora Ismênia acerta quanto a frisar que desenvolveram-se em Petrópolis, mas comete um erro quando afirma que não se tem notícias sobre seus limites. Pela leitura da indexação presente neste trabalho, ou mesmo de jornais diários, como o caso da Tribuna de Petrópolis, onde a pesquisa sobre greves em Petrópolis se processou, podemos observar que muitas foram as associações. Desde a dos Operários das Fábricas de Tecidos, a dos Operários das Pedreiras, a de Condutores, etc. Chegando a aproximadamente quinze associações, fato este que conduziu à época, tanto jornalistas e bacharéis do meio, como J. Soares e Condé, a defenderem, com “unhas e dentes”, a figura da União Operária na cidade, ou mesmo de uma associação político-partidária (49), como forma aglutinadora desta luta dispersa pela cidade (50), e que assim se tornava “alvo fácil” das unidades repressoras (51). Não sabemos ao certo os limites sobre as discussões entre comunismo, socialismo ou anarquismo (52) já que não existem maiores informações a respeito.

(49) o Partido Operário.
(50) Porém um fenômeno foi constatado pelos cientistas sociais posteriormente o do declínio dos movimentos operários autônomos, ou revolucionários, a partir de 1919, o que talvez já fosse sintoma ao final de 1918, presente em Christina Lopreato
(51) O temor por parte do governo, principalmente, na década de 10, pela organização anarco-sindical, e a política desencadeada de ceder o mínimo aos trabalhadores em troca da sustentação do poder a partir do governo de Epitácio Pessoa , ibdt.
(52) Para tal estudo deveria se realizar avaliando todos os artigos e publicações da época.

Já citadas em outros trabalhos sobre imigração italiana, temos as associações beneficentes italianas, mas, se tomarmos como exemplo o ano de 1921 em Petrópolis, teremos organizações não italianas como: Sociedade Beneficente Operária 14 de Julho, com sede na Rua 14 de Julho; Liga Operária do Alto da Serra, Sede na Avenida Central, no Alto da Serra; Sindicato dos Operários de Cascatinha, com sede na Rua da Saudade; Centro dos Operários das Pedreiras (criado em 31/03/1920), com sede na Avenida XV de Novembro, 1037; União dos Operários das Fabricas de Tecidos de Petrópolis, com sede na Rua Marechal Deodoro, 26; União Beneficente do Morin, com sede na Rua Morin; União Beneficente de Cascatinha, sede Rua Bernardo de Vasconcellos; Aliança dos Operários em Madeira, sede na Avenida XV de Novembro, 1037; Sociedade Beneficente dos Cocheiros, Rua Marechal Deodoro, 22; entre outras (53).

Os testemunhos orais de diversos ex-operários (54) que nos chegaram, por intermédio dos mesmos ou de seus filhos, nos dão conta de invasões às inúmeras associações por parte de “paus mandados” de gerentes, mestres e proprietários, assim como também da própria polícia completamente fiel aos gerentes e industriais, responsáveis pelo “comportamento moral dos trabalhadores”. E nestas invasões, muitos dos documentos, fotos, e da história do movimento operário local se perdeu em incêndios “fabricados” pelas forças opressoras em suas visitas aos sindicatos e associações. Ou simplesmente jogados ao lixo, por funcionários ignorantes ou acovardados. Como exemplo, deve-se observar o realizado não somente na década de 60 na associação dos funcionários da Leopoldina, como na dos Têxteis (55), onde muita documentação foi apreendida e até hoje continua com destino ignorado, segundo seus ex-funcionários. Arquivos das fábricas também cujo destino encontra-se desconhecido. Quem sabe com a abertura para pesquisa do material da delegacia de polícia de Petrópolis, incorporado ao Museu Imperial, dúvidas possam ser solucionadas.

(53) Pesquisa realizada nos jornais e livros de registro de entidades da época.
(54) José Hansel, ex-operário da Fábrica Cometa, já falecido.
(55) Extinto prédio próprio na Rua Mal. Deodoro, entroncamento de General Osório com Aureliano Coutinho.

Só nos resta procurar traçar perfis, buscar outros arquivos como os de Juiz de Fora (56), cujas associações operárias e industriais foram bem próximas às petropolitanas, ou pesquisar com mais profundidade os anúncios e informações dos jornais do período, tanto em Petrópolis, como no Rio de Janeiro. Ou, se ainda o conseguirmos, realizar um Banco de História Oral com os “sobreviventes” do período, como há décadas foi formulado pelo professor Jerônimo Ferreira Alves, mestre e docente do extinto Curso de História na Universidade Católica de Petrópolis, em um laboratório de História no Centro de Estudos lá existente (57), como extensão do Curso de Graduação e que formou sua última turma em 1983.

(56) em maio 1906 apareceu em Juiz de Fora, a folha O PROGRESSO OPERÀRIO, dando inÍcio a uma verdadeira escalada de publicações operárias, in Werneck Sodré.
(57) 1982.

Outro fato por demais interessante foi o que ocorreu quando da análise da coleção da Tribuna de Petrópolis para composição da Retrospectiva Informativa do Século XX destinada à publicação da coleção comemorativa de seu centenário no ano de 2002, constatamos inúmeros registros de greves e procedimentos operários ocorridos na cidade, fato que, de certa forma, demonstra certa incompatibilidade para um jornal que foi praticamente o órgão da elite política e econômica do município durante a República Velha. Mas que, por outro lado, aponta para um objeto dos mais fidedignos o do registro informativo dos acontecimentos no município e a consequente valorização, como já afirmado anteriormente, de um grande grupo de bacharéis que se dedicaram com afinco ao jornalismo e que vislumbraram na identificação dos fatos e acontecimentos no município, a verdade máxima de sua profissão, independente de seus objetivos políticos.

O grupo de Arthur Barbosa merece um estudo à parte pela presença profissional que fizeram da Tribuna, um órgão informativo da sociedade petropolitana e de seus acontecimentos, claro que processadas as análises históricas e confrontadas com a veracidade das informações seguindo os mais rigorosos padrões de avaliações teóricas e procedimentos.

Os registros das greves e do movimento operário petropolitano ganham muito mais pela leitura das páginas da Tribuna, do que pela leitura dos citados jornais operários de época, numa demonstração inconteste de que a leitura dos jornais antigos para composição da história das regiões, apesar de conterem parcialidades, devem ser considerados como uma das fontes fundamentais de composição do micro universo histórico citadino, e que auxiliados pelos depoimentos e documentos de demais arquivos municipais, como o da Delegacia de Polícia (58), poderão conduzir a que se desenvolvam algumas das inúmeras teorias que hoje se produzem e tornam-se guias de diversos estudiosos e pesquisadores para uma melhor argumentação da histórica local.

(58) Propriedade do acervo do Museu Imperial, ainda não liberado para pesquisas.

FONTES PRIMÁRIAS

Jornais e revistas pertencentes à Hemeroteca Municipal, in Arquivo Histórico, Departamento da Biblioteca Municipal de Petrópolis.

Internet:http://www.guggenheimvenice.it/italiano/06_artisti/depero.htm; http://www.casatosoldi.hpg.ig.com.br/paginas/bibliografia_fiorino.htm.

FONTES ORAIS

Depoimentos:
José Hansel, ex-operário da Fábrica Cometa;
Leopoldo Paladino, ex-integralista e operário da Cia. Petropolitana.

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