Assim era conhecida e citada por diversos viajantes e cronistas do séc. XIX, a Estação Posse que “se compunha de dos vastos armazéns para depósito de café do interior e cargas de retorno, outro para depósito de sal, duas casas para os empregados, uma estrebaria e cocheira para 24 animais do serviço especial das diligências, além das acomodações do pessoal do mesmo serviço, grandes estrebarias para 300 animais das carroças, com todas as suas dependências, como tanques de água corrente”.

As Estações foram construídas pela Companhia União e Indústria para exploração industrial de transporte de passageiros e carros. Em 19/03/1856 esta empresa celebrou com a província do Rio de Janeiro um contrato para construção do trecho Petrópolis e Juiz de Fora, cujos trabalhos foram inaugurados pelo imperador D. Pedro II em 12/04/1856. A 1a seção da estrada, de Vila Teresa a Pedro do Rio, foi aberta ao público em 18/03/1858 e a 2a seção da estrada, de Pedro do Rio a Posse, foi inaugurada e aberta ao trânsito em 28/04/1860, ambas as solenidades contaram com a presença do imperador D. Pedro II.

Os registros de viajantes que passaram por essa região, são tão profundos de conteúdo e tão ricos de beleza que se transformam num verdadeiro convite de viagem pelo tempo, por seus rios, serras e vales. Percorreremos esse caminho de chegada do Vale da Posse através das seguintes impressões do cronista I. de Vilhena Barbosa: “Prosseguindo a estrada pelo Vale do Piabanha, a primeira obra de arte desta seção é a linda ponte de Jacuba sobre o ribeiro deste nome. É de ferro a ponte, com 12 metros de vão. A paisagem que a certa é de muita beleza e amenidade, por quanto o Jacuba, precipitando-se do alto de elevadas rochas, forma uma cascata, não de grande volume de águas, mas bonita e pitoresca, dando realce e frescura às fragas cobertas de musgos, e às árvores que vestem as encostas”. Continuando essa excursão, Revert Henry Klumb, fotógrafo da família imperial, descreve em sua obra 12 horas em diligência – Guia do viajante de Petrópolis a Juiz de Fora, sua passagem pela 3a muda. “O Piabanha corre à nossa esquerda, ora límpido e calmo, ora quebrando-se em cascatas no seu leito de rochedos; já vão surgindo à nossa frente os declives rochosos da garganta do Taquaril que o rio atravessa, precipitando-se por uma estreita fenda de granito; chegamos a um dos pontos mais pitorescos desta serra; à direita vede aquela cascata chamada Jacuba, parece uma grande toalha d’água de quase 8 metros de largura; ela é tão regular que antes parece uma obra de arte do que da natureza.

O vale estreita-se cada vez mais, imensas paredes de granito elevam-se verticalmente de cada lado da estrada, seus flancos quase perpendiculares conservam nas suas anfractuosidades alguma terra, onde cresce uma multidão de Bromélis. Esta parte da estrada é quase toda lavrada na rocha, pendora o precipício, no fundo do qual correm roncando as ondas iradas do Piabanha.

Neste lugar do Taquaril selvagem e majestoso existe o único abaixamento desta serra que tínhamos à nossa esquerda deste Petrópolis e, portanto o único desfiladeiro possível para passar do vale superior do Piabanha ao da Posse.

Os trabalhos consideráveis feitos nesta estreita passagem, testemunham o poder, a vontade e a perseverança humana; com efeito, representam-se os primeiros mineiros suspensos a umas cordas sobre paredes verticais, batendo o duro granito; por baixo dos pés as detonações das minas repercutidas pelos ecos confundiam-se com o estrondo das massas de pedras arrancadas pela pólvora, e que de queda em queda precipitavam-se no fundo do abismo.

Na época da construção desta parta da estrada S. M. o Sr. D. Pedro II, que mostra sempre o mais vivo interesse por todos os melhoramentos do país, quis verificar esses trabalhos audaciosos; construiu-se para esse fim sobre umas barras de ferro fincadas no rochedo, um caminho, suspenso, vacilante e frágil, sobre o qual o imperador passou duas vezes a cavalo, com toda a calma, como se estivesse passeando na Quinta de São Cristóvão.

Mudamos a direção; o sombrio desfiladeiro transposto, e após alguns ziguezagues vemos abrir-se um gracioso vale, no meio do qual se avista um grupo de casas brancas, é a terceira muda – POSSE.

Esta estação é, e será por muito tempo, de grande importância para a Companhia; ao redor dela convergem todos os produtos da zona cafezeira do Rio Preto. O seu vale é pitoresco, os rochedos à nossa esquerda e as verdejantes plantações de capim, fazem um contraste agradável à vista.

O Piabanha, que corre límpido e tranqüilo no meio dessas campinas, parece descansar de sua corrida furiosa, depois do desfiladeiro do Taquaril; os altos montes que nos cercam, cortados de vales que se desenvolvem em várias direções, contribuem para dar à paisagem um aspecto dos mais pitorescos”.

Depois desta viagem agradável e sensível na companhia dos viajantes, convidamos você a refazer este passeio, olhando e desfrutando a defesa natural que ainda se faz perceber nas quedas do rio Piabanha, nas grandes rochas do Taquaril e na vegetação e no relevo do Vale da Posse.