PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL: CONSERVAÇÃO/ RESTAURO

Eliane Marchesini Zanatta Abrahão, Associada Titular, Cadeira nº 22 – Patrono Henrique José Rabaço

A ausência do entendimento e dimensionamento das abordagens teórico-conceituais relacionadas com a conservação/restauração de bens culturais tem sido uma lacuna frequente no cotidiano da preservação do patrimônio cultural. Ainda hoje, muitos são aqueles que acreditam que tais intervenções se reduzem ao mero restabelecimento estético de um determinado objeto cultural, banalizando completamente que a conversação/restauração desses bens compõe um nicho científico/acadêmico próprio, necessariamente pautado por métodos e teorias que devem ser aplicadas por profissionais detentores de formação específica para tanto.

Convém ponderar que a preservação do patrimônio cultural deve ser entendida de forma ampla, com intuito de proteger primariamente o valor cultural de um determinado objeto enquanto inserido em seu contexto atributivo de relevância, cuja defesa, cuidado e respeito visam resguardar o testemunho vivo da herança das gerações passadas que exercem papel fundamental no momento presente e se projetam para o futuro.

A história da conservação/restauração do patrimônio cultural tem uma peculiaridade em seu modos operandi que a torna complexa, envolve técnica e ciência, requerendo conhecimentos estéticos, filosóficos, históricos, éticos, sociológicos, físicos, químicos, biológicos, de engenharia de materiais, dentre outros. Assim, o objetivo principal está em retardar/prevenir a deterioração/dano a um determinado bem cultural contra fatores de diferentes naturezas – física, química, biológica e humana –, que possam agir sozinhos ou conjuntamente, ameaçando ou destruindo a sua integridade.

Ademais, mantendo coerência com a máxima de que o valor cultural de um bem está diretamente associado ao seu contexto temporal/espacial de inserção, é importante registrar que os procedimentos de conservação devem sempre prevalecer sobre os de restauração, esta que só deve ser realizada quando a sua indicação for estritamente necessária para recuperar, na medida do possível, um objeto cultural deteriorado ou arruinado na sua forma, desenho, cor e/ou função.

Por fim, é imperioso que os agentes direcionados ao campo da conservação/restauração busquem uma formação acadêmica que possibilite assimilar os conteúdos teórico-prático e as condutas éticas necessárias para que se possa respeitar as características dos bens simbólicos em toda a sua amplitude.  Somente assim, poderá fundamentar suas ações enquanto sujeitos culturais que têm o poder de intervir e o mais maléfico, o de alterar completamente os objetos que são símbolos de grupos ou mesmo da nação.