QUINZE ANOS DO FESTIVAL TEATRO D´OUTRAS TERRAS

Carlos Alberto da Silva Lopes (Calau Lopes), associado efetivo, titular da cadeira n.º 7, patrono Bartholomeo Pereira Sudré

Era uma vez um grupo, o Teatro OIKOVEVA – formado por Flávio Kactus, Karla Kristina, Vilma Melo e Roberto Jerônimo – que resolve atracar sua barca, com armas e bagagem, no porto do mar da montanha. Na Petrópolis de 1992, esses artistas encontram Calau Lopes – ator e empreendedor cultural – instalam-se no Museu Imperial, desenvolvem oficinas de arte e apresentam espetáculos, enquanto trabalham a idéia de realizarem, no ano seguinte, 1993, um festival que trouxesse para a Cidade Imperial as melhores expressões do chamado “movimento de teatro de grupo”.

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Teatro OIKOVEVA

O teatro de grupo caracteriza-se por uma forma de organização que se propõe a um trabalho coletivo e permanente, de pesquisa e desenvolvimento estético, inserido na vida da comunidade, bem diferente das produções isoladas, que reúnem uma equipe para uma peça específica, para uma série de apresentações e por um prazo determinado. Uma bela mostra, por exemplo, sobre esse tipo de fazer teatral, tinha sido o I Encontro Brasileiro de Ribeirão Preto-SP, no ano de 1991. E cidades como Petrópolis, de porte médio, ofereciam – como ainda oferecem – a possibilidade de fazer teatro de uma maneira mais artesanal, cuja sofisticação vai por conta de muita criatividade, não raras vezes, da criação coletiva; um teatro mais próximo da realidade de seu povo, provocando reflexões sobre a sua história, os seus costumes.

Pois bem, nesse embalo é que nasceu o FESTIVAL TEATRO D`OUTRAS TERRAS, realizado entre maio e novembro de 1993, em comemoração ao sesquicentenário de Petrópolis. Nasceu e se transformou em forte realidade sob a coordenação geral de Flávio Kactus, de Calau Lopes e da produtora teatral Andréa Pachá, que ao longo de “um ano inteiro de ralação” aglutinaram partícipes dos outros grupos teatrais do município, formaram uma equipe de trabalho, sensibilizaram empresários e comerciantes locais como importantes colaboradores e conseguiram o patrocínio estratégico de entidades como o SESC e o SENAI, além do apoio logístico da Prefeitura, da Câmara Municipal e do próprio Museu Imperial, tudo para tocarem o arrojado projeto e arcarem com seus elevados custos.

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Grupo Galpão (MG)

Na abertura do festival, em 27 de maio de 1993, evento que se desdobrou em 7 módulos ao longo de 7 meses, afirmavam com orgulho os coordenadores: “Dizem que ousar é a melhor maneira de vencer. Foi necessário muita ousadia e mais: muito delírio, sonhos e vontade de realizar para que pudéssemos presentear a cidade, quando comemora 150 anos, com o FEST D`OUT. Estaremos apresentando o que há de mais significativo em Teatro de Rua no Brasil e na Itália, através de 24 espetáculos, 10 oficinas, 11 demonstrações técnicas, 13 debates e inúmeras atividades de intercâmbio. Nós merecemos o acesso a este elenco de significativos acontecimentos. Acreditamos que, com este projeto, estamos interferindo diretamente no cenário político-cultural de Petrópolis. Temos certeza de que com o envolvimento de todos – população, empresariado, profissionais artistas e poder público – alcançaremos o êxito esperado e poderemos fazer de Petrópolis um centro irradiador, um pólo de referência de Teatro de Rua do país.” E foi o que de fato aconteceu.

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Teatro Tascábile – Bérgamo – Itália

Aqui se apresentaram grupos como: Ói Nóis Aqui Traveiz (RS), Grupo Tá na Rua, Centro de Demolição e Construção do Espetáculo e Teatro do Anônimo (RJ), Teatro VentoForte (SP), Grupo Galpão (MG), Bando de Teatro Olodum (BA), Grupo Imbuaça (SE), Teatro do Livro Aberto e Teatro Oikoveva (locais), além do Teatro Tascábile de Bérgamo e do Teatro Due Mondi de Faenza (Itália). Foram cerca de 180 artistas representando para um público estimado em mais de 14 mil espectadores, com espetáculos em espaços abertos no Museu Imperial, no Centro de Cultura, no Palácio de Cristal, no Shopping Vilarejo, no Sesc Nogueira; nas praças da Liberdade, da Inconfidência, do Expedicionário, D. Pedro II, Princesa Isabel e Visconde de Mauá, superando em muito as melhores previsões.

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Teatro Due Mondi – Faenza – Itália

Desde o princípio e a cada módulo que acontecia, era crescente o número de interessados na programação, inclusive de pessoas que chegavam de outras cidades e estados para acompanharem o festival.

Aqui estiveram também artistas, ensaístas, críticos, debatedores do porte de Aderbal Freire Filho, Alberto Grilli, Amir Haddad, Beti Rabetti, Fernando Peixoto, João das Neves, Ilo Krugli, Luiz Carlos Vasconcelos, Márcio Libar, Márcio Meireles, Maria Thaís, Renzo Vesconi, Rosyane Trotta, Sílvia Orthof, entre tantos outros, pensando e discutindo em público sobre o teatro e o que pintasse.

Enfim, o FEST D`OUT, naquele 1993, em Petrópolis, foi repleto de momentos mágicos, ímpares, não à toa, considerado o maior evento de artes cênicas do país daquele ano, deixando reflexos, reflexões e saudades…