REMINISCÊNCIAS DE ALGUMAS FESTAS BENEFICENTES EM FAVOR DAS OBRAS DA CATEDRAL
Jeronymo Ferreira Alves Netto, Associado Titular, Cadeira n.º 15 – Patrono Frei Estanislau Schaette
Em 29 de novembro de l925, com imponente cerimônia religiosa, foi inaugurada a nova Matriz, posteriormente Catedral de Petrópolis, após quase cinqüenta anos de esforços.
A grande inspiradora e principal benfeitora da construção da Catedral foi, sem dúvida, a Princesa Isabel. Foi ela quem insistiu junto ao Imperador, seu pai, na construção do novo templo, no morro do Belvedere, em razão das condições modestas da primeira Matriz, construída em l848, em frente ao Palácio Imperial.
Em l2 de março de l876, foi lançada a pedra fundamental da nova Matriz, com a presença do Imperador Dom Pedro II, da Princesa Isabel e seu esposo o Conde D’Eu e das seguintes autoridades: Barão de Cotegipe, Ministro da Fazenda; José Bento da Cunha Figueiredo, Ministro da Justiça; Diogo Velho Cavalcante de Albuquerque, Ministro do Império; Conselheiro Pinto Lima, Presidente da Província; Paulino Afonso Pereira Nunes, Presidente da Câmara Municipal; todos os vereadores petropolitanos e a Irmandade do Santíssimo Sacramento de São Pedro de Alcântara.
Na ocasião, num pavilhão erguido anteriormente, o internúncio apostólico, Monsenhor Luiz Bruschetti, celebrou uma missa, coadjuvado pelo padre Theodoro Esch. Segundo nos informa Fróes “esta solenidade do lançamento da pedra fundamental foi prematura, pois, o edifício ainda não tinha projeto, nem mesmo fundos para custeio…” (1).
(1) FRÓES, José Kopke. A Catedral de Petrópolis e seu Jubileu de Ouro em 29 de novembro de l975. Tribuna de Petrópolis, lº de janeiro de l975. Segundo Caderno.
Realmente, até l88l, nenhuma providência efetiva foi tomada em favor do início das obras. Neste ano, regressando a Princesa Isabel de uma viagem à Europa, insistiu junto ao Presidente da Província, Bernardo Avelino Gavião Peixoto, na retomada do projeto.
Este encarregou o engenheiro Francisco Caminhoá de elaborar um projeto para a construção do novo templo, projeto este que foi orçado em aproximadamente mil contos de réis. O Presidente da Província solicitou à Assembléia a aprovação da abertura de um crédito de l00 contos de réis, e nomeou uma comissão para se encarregar das obras e angariar inclusive donativos para as mesmas.
Foi então lançada a segunda pedra fundamental, em l8 de maio de l884, no lugar onde hoje fica o altar-mór e comprado o terreno e a casa pertencentes ao Barão do Flamengo, conforme noticiou o Mercantil, em 7 de abril de l883: ” A 2 do corrente o tesoureiro da comissão encarregada das obras da construção da nova igreja matriz da cidade, enviou à diretoria da fazenda da província ofício documentado relativo à entrega da quantia de 30:000 $, importância do terreno e prédio comprado ao barão do Flamengo” (2).
(2) O Mercantil, Petrópolis, 7 de abril de l882, p. l.
Foi ainda da Princesa Isabel a iniciativa de abrir um Livro de Ouro, destinado a angariar fundos para a construção, iniciativa que rendeu uma soma considerável, o que não impediu que as obras se arrastassem lentamente até o ano de l889.
Em 26 de fevereiro de l889, o Barão do Catete, presidente da Comissão encarregada das obras da Igreja Matriz de Petrópolis, encaminhou ofício ao Presidente da Câmara Municipal de Petrópolis, solicitando licença para mandar fazer uma arquibancada na Praça de São Pedro, para a festa, batalha das flores, sendo o produto em benefício das obras da referida Matriz.
Esta Batalha de Flores, da qual participaram inúmeros Tílburis, tendo o sinal de partida sido dado pelo próprio Imperador Dom Pedro II, foi o ponto alto de grandes festividades, realizadas entre os dias 24 de fevereiro e 5 de março daquele ano. A respeito desta Batalha de Flores comenta o Mercantil: “Os tílburis enfeitados partiram da praça Dom Afonso e daí seguiram pela rua Bourbon, lado esquerdo da rua do Imperador, voltando pelo mesmo trajeto, repetindo-o várias vezes” (3).
(3) O Mercantil, Petrópolis, 2 de março de l889, p.1.
A comissão encarregada de promover tais festejos era composta por senhoras pertencentes à alta nobreza do país entre as quais as senhoras baronesa de Ipanema, baronesa de São Joaquim, D. Maria Guilhermina Bernardes Raythe, condessa da Mota Maia, viscondessa da Cruz Alta, baronesa de Muritiba, baronesa de Loreto, baronesa Ramiz Galvão, baronesa de Corumbá, baronesa de Inohan, D. Rosana Frias, D. Maria Francisca Marinho, D. Alice Yeats, D. Vera de Lima e Silva e D. Adelaide Sanvile.
O programa das festividades, segundo nos informa o Mercantil, prestigioso órgão de imprensa da época “era rico e variado, compreendendo: exposição e venda de objetos de elevado valor, assalto de armas, do qual participaram os senhores A. Fabrício, Marcos Carius, David de Sanson e outros, sendo as armas —- sabre, florete e espada, concerto dirigido pelo maestro Joseph White, tômbola, quadros vivos, monólogos e cançonetas, encenados pelo artista Bernadelli, grande baile com “Cotillon” e o baile das crianças, encerrando as festividades” (4).
(4) O Mercantil, Petrópolis, 9 de março de l889, p. 1.
O artista Bernardelli acima mencionado era provavelmente o pai do notável pintor Henrique Bernardelli e do talentoso escultor Rodolfo Bernardelli, pois no Rio Grande do Sul vivia de um pequeno teatro de variedades, quando foi convidado pelo Imperador a vir para o Rio de Janeiro, onde desempenhou as funções de preceptor das princesas imperiais.
Os festejos foram realizados no famoso Hotel Bragança, situado à rua do Imperador e inaugurado em 25 de novembro de l848, pelo Doutor Tomás Charbonnier, médico francês, aqui falecido em 20 de dezembro de l850. Toda a vida social petropolitana girou em torno do referido hotel. Seu segundo proprietário, o português Antônio Pereira Campos, foi quem graciosamente o cedeu para as festividades em benefício das obras da nova Matriz, rendendo só a Quermesse, a considerável quantia de 25:242$O85.
Fato sem dúvida digno de nota é que alguns operários petropolitanos, desejando também contribuir para a meritória campanha, arrecadaram entre si a quantia de 300$000, enviando-a à Comissão como donativo. Sem dúvida uma demonstração de nobreza de alma e fé religiosa.
Outro fato que merece ser ressaltado é que mesmo no exílio, a Princesa Isabel nunca deixou de se preocupar com o prosseguimento das obras da Catedral. Comprovam-no a doação de 400 apólices, no valor de oitocentos mil reais cada uma, e vários terrenos que foram avaliados em aproximadamente 400:000$000.
Da comissão dos festejos realizados entre 24 de fevereiro e 5 de março de l889, merecem destaque como grandes benfeitoras das obras da Catedral a Baronesa de São Joaquim, D. Joaquina de Araújo Gomes, filha do Barão de Alegrete, José Maria de Araujo Gomes, que residiu em Petrópolis, à atual Avenida Tiradentes, aqui falecendo a 16 de setembro de l929. Visando ao encorajamento das obras, paralisadas devido à elevação dos preços dos materiais de construção, durante a lª Grande Guerra, doou a vultosa quantia de l00:000$000 e realizou um leilão de porcelanas antigas e objetos raros, de sua propriedade, arrecadando mais 40 contos de réis, para o mesmo fim.
Do mesmo modo, a Baronesa de Muritiba, Dona Maria José Velho de Avelar Vieira Tosta, esposa do Barão de Muritiba e filha do Visconde de Ubá, também falecida em nossa cidade, em l3 de julho de l932, chegou a desfazer-se de suas jóias para auxiliar a conclusão do Mausoléu de Dom Pedro II e Dona Teresa Cristina na Catedral. Promoveu ainda com o Conde Afonso Celso e o Dr. Paulo Figueira de Melo, uma subscrição que permitiu a aquisição do altar da Capela Imperial.
As baronesas de São Joaquim e de Muritiba eram senhoras de altas virtudes, cuja lealdade à família imperial e devotamento às obras da Catedral, as tornaram extraordinariamente estimadas na sociedade petropolitana.