RESGATES PETROPOLITANOS
Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima
João Baptista de Castro faz parte daquele grupo de pessoas que são maiores no atacado do que no varejo.
Era natural de São João del Rei, onde nasceu a 1º de dezembro de 1849. Jovem ainda foi mandado para a Inglaterra e depois para a França onde cursou o Liceu Saint Louis em Paris. Rumou em seguida para Gand, na Bélgica, em cuja universidade diplomou-se em engenharia industrial. Sua graduação deu-se em 1873.
De volta ao Brasil, casou-se no Rio de Janeiro com a filha do comendador João Martins Cornélio dos Santos.
Fixou-se com a família em Juiz de Fora, onde o fizeram vereador, cargo que ocupou por pouco tempo, tendo-o deixado para assumir a direção da Estrada de Ferro de Juiz de Fora ao Piau.
Unindo os seus conhecimentos técnicos que lhe advieram da boa formação universitária ao seu inegável espírito empreendedor, João Baptista de Castro conseguiu pelo decreto geral n.º 9715 de 5 de fevereiro de 1887, privilégio pelo prazo de dois anos para explorar fosfato de cal na fazenda Taipas, Município de Queluz (atual Conselheiro Lafaiete), na então Província de Minas Gerais. Havia no decreto em epígrafe uma certa preocupação com o meio ambiente, dispondo ele, por exemplo, que o concessionário ficava obrigado a “dessecar os terrenos alagados em virtude dos trabalhos da exploração, restituindo-os no seu antigo estado, de modo que não possa ser prejudicada a saúde dos moradores da circunvizinhança.”
Passando a residir no Rio, tornou-se João Baptista de Castro comissário de café. Fez-se membro da Sociedade Nacional de Agricultura, vindo a ser um dos grandes propagandistas do cooperativismo.
Militando entre os republicanos, privou da amizade de Quintino Bocaiuva, no Rio de Janeiro e de João Pinheiro em Minas Gerais. A convite deste prestou relevantes serviços aos cafeicultores mineiros, participando de congressos, simpósios, seminários.
Sua ação em prol da agricultura e da pecuária fez-se sentir também em São Paulo. Foi dos grandes propagandista das qualidades do gado zebuíno; em Aparecida estudou as vantagens de certa leguminosa responsável pela melhora na lactação das vacas; em Piracicaba presenciou a inauguração da Escola Agrícola Luiz de Queiroz, hoje uma referência nacional.
João Baptista de Castro foi grande produtor rural nos estados do Rio de Janeiro, de Minas e de São Paulo. Envolvido no movimento de 15 de novembro de 1889, João Baptista de Castro recebeu a incumbência espinhosa de cuidar do policiamento da Saúde, um dos bairros mais violentos da Capital Federal naquele tempo.
Cedo abandonaria o posto para radicar-se em Petrópolis, onde adquirira vasta área com belo palacete no Alto de Serra.
Foi justamente aí, que o governador Francisco Portela, por indicação de Alcindo Guanabara, foi buscá-lo para presidir o Conselho de Intendência Municipal nesta urbe.
A escolha fora feita a dedo para o momento político em que se vivia no Estado do Rio de Janeiro e especialmente em Petrópolis. Portela precisava de um bom aliado para barrar os arroubos do grupo capitaneado por José Thomaz da Porciúncula em plena campanha para a eleição da constituinte do Estado. O nome de João Baptista de Castro veio mesmo a calhar.
A posse do novo Conselho ocorreu a 12 de novembro de 1890. Compunham-no além do Presidente João Baptista de Castro, os cidadãos Edmundo Busch Varela, Antonio da Rocha Moura, Henrique Raeder e Antonio Moreira da Cunha Leite.
Na sessão em que João Baptista de Castro assumia seu novo desafio, prometeu ele que haveria de dar ao município, definitivamente, o seu Código de Posturas; que a Intendência seria estranha à política pessoal e que respeitaria a liberdade de pensamento em qualquer terreno; que se esforçaria para chamar a si os serviços municipais dependentes do governo do Estado, quais fossem as obras públicas; que discutiria com o governo federal o tema concernente à conservação da estrada União e Indústria. Promessas que não poderiam ser cumpridas no regime de exceção em que se vivia no país e no Estado, não tendo os chamados Conselhos de Intendência municipal a mínima estabilidade.
A gestão de João Baptista de Castro à frente dos interesses públicos petropolitanos não durou mais que cinco meses.
O Código de Posturas, por exemplo, só veio a furo em 1893 sob a presidência de Hermogênio Pereira da Silva e a União e Indústria ainda amargaria um certo abandono, pelo vazio de gestão, o que aliás tem sido uma constante na vida dessa histórica rodovia.
Na verdade o desempenho de João Baptista de Castro à frente da Intendência foi eminentemente político. E os seus objetivos foram atingidos na medida em que elegeram-se à constituinte estadual os aliados do governador Francisco Portela, amargando os partidários de Porciúncula fragorosa derrota.
E João Baptista de Castro não deixou de tirar partido da espinhosa missão que recebera. Afinal ninguém é de ferro e a advocacia em causa própria está entranhada no espírito nacional, assim como a mistura dos negócios públicos e privados.
Fica a critério de cada um fazer o julgamento dos fatos que seguem:
Na sessão do Conselho de Intendência em 1º de janeiro de 1891 João Baptista de Castro encaminhou requerimento ao Governador Portela pedindo permissão para abrir uma avenida e ruas no terreno de sua propriedade na Vila Teresa (Alto da Serra). O governador mandou que Castro ouvisse o seu conselho e este, sem pestanejar abriu vista do caso à Comissão de Obras. Correu célere o processo, tanto que a 8 de janeiro de 1891 o presidente da Intendência via deferido o seu requerimento. As ruas a serem abertas teriam treze metros de largura e a avenida quinze metros.
Ficava assim consagrado o velho princípio de que os fins justificam os meios.
Ao descambar o mês de abril de 1891 findava a intendência João Baptista de Castro.
O chamado palacete Castro serviu algum tempo à representação diplomática da República Oriental do Uruguai nesta cidade. O seu proprietário faleceu aos 95 anos de idade, na cidade paulista de Guaratinguetá. O fato ocorreu a 1º de abril de 1945.
João Baptista de Castro foi maior no cenário nacional que no municipal. Ele foi o pai do cooperativismo rural e anteviu o sucesso do agro-negócio brasileiro.