Passagem obrigatória para todos os viajantes e cargas que iam e vinham das ricas terras de Minas Gerais, a atual Petrópolis, constituída por várias fazendas inexploradas, onde residiam apenas seus proprietários e um ou outro serviçal indispensável à casa de moradia, manteve-se no anonimato até boa parte do século passado.
Denominava-se do Córrego Sêco a principal dessas fazendas, cujo limite abrangia todo o centro da cidade e o majestoso alto da serra da Estrela, em que se divisa panorama da baía do Rio de Janeiro. Clima incomparável, temperatura amena, mesmo em pleno verão, possuía extensas matas e belíssimas paisagens que encantaram D. Pedro I, Imperador do Brasil. Já era êle um conhecedor dessas terras, pois sempre por elas passava a caminho da próspera fazenda do Padre Correia, na localidade hoje denominada Corrêas – de que era assíduo frequentador. Motivara essas suas estadas na Serra, a moléstia de uma filha, a Princesa D. Paula, à qual foi recomendada pelos médicos, uma mudança de ares.
Em 1829, já casado com a segunda Imperatriz D. Amélia, pretendeu adquirir a propriedade que o agasalhava tão seguidamente. Mas diante da recusa da irmã e herdeira do Pe. Correia, voltou suas vistas para o Córrego Sêco, velha e abandonada fazenda, assinando a escritura de sua compra a 6 de fevereiro de 1830, por 20 contos de réis.
A fazenda pertencia então ao Sargento-Mor José Vieira Afonso e D. Pedro I pretendia construir aí o seu palácio de verão.
Surgindo depois vários acontecimentos políticos que terminaram com a abdicação de D. Pedro I em 1831, a fazenda voltou ao esquecimento e ao abandono.
Por morte de D. Pedro I tocou a fazenda a seu filho menor D. Pedro II. O Mordomo da Casa Imperial, Conselheiro Paulo Barbosa, pensava em realizar então o projeto anterior: a construção de um palácio de verão para o Imperador. Mas, como fazê-lo numa propriedade abandonada e decadente?
Depois da maioridade de D. Pedro II, o Major de Engenharia Júlio Frederico Koeler, encarregado pelo govêrno provincial da construção e conservação de uma parte da estrada de rodagem para Minas, fez ver ao Mordomo as vantagens de estabelecer nessas terras um Colônia agrícola de alemães. Koeler tornara-se um entusiasta de colonização estrangeira e pretendia provar a superioridade do trabalho livre sôbre o braço escravo. Júlio Frederico Koeler vê então que, se a fazenda ia ter vida própria, tornava-se possível a construção do palácio que êle imaginara.
Esses dois planos – o da colonização e o da construção do Palácio – são expostos pelo Mordomo ao Imperador, que os aprovou pelo Decreto de 16 de março de 1843, que fundou Petrópolis.
Por êsse Decreto D. Pedro II e o major Koeler celebraram um contrato para o estabelecimento de uma povoação no Córrego Sêco, onde deveria ser também edificado o palácio, cuja construção teve início em janeiro de 1845, de acôrdo com o projeto de Koeler, autor também da primeira planta de Petrópolis. Em junho deste mesmo ano, começaram a chegar ao Rio de Janeiro grande número de famílias alemães, em consequência de um ajuste feito com o govêrno da Província do Rio de Janeiro, que pedira 600 trabalhadores para obras de suas estradas. Chegaram mais de 2 mil pessoas, criando situação de dificuldade ao presidente Aureliano Coutinho que procura Paulo Barbosa, indagando se em alguma das propriedades imperiais haveria lugar para estabelecer os colonos. O Mordomo, por ordem do Imperador, encaminha-os para Petrópolis, onde Koeler os localiza nos prazos dos quarteirões, aos quais denominou de acôrdo com as regiões de procedência dos novos moradores. Assim ficaram os bairros de Petrópolis conhecidos pelos nomes de localidades alemães: Mosela, Bingen, Woerstadt, Darmstadt, Ingelhein, Westfália, etc.
As primeiras famílias alemães chegaram a Petrópolis no dia 29 de junho de 1845, data esta considerada como a da sua colonização. O major Koeler, não só desistiu dos seus direitos de arrendatário da fazenda do Córrego Sêco, como ofereceu as terras que constituiam a sua fazenda da Quitandinha para serem loteadas e entregues aos colonizadores. D. Pedro II, por sua vez, adquiriu as fazendas do Velasco e Itamaratí para serem anexadas e divididas em prazos para os colonos e povoadores, cedidos todos gratuitamente.
Pela Deliberação provincial de 20 de maio de 1846, Petrópolis deixou de pertencer administrativamente a S. José do Rio Prêto, transformada que foi em freguesia, pertencente a Vila da Estrela, comarca de Niterói.
Com a construção do palácio imperial e de muitos prédios residenciais, colégios e hotéis e, sobretudo, com o trabalho fecundo dos colonos, a povoação se desenvolveu rapidamente. Falecendo em 21 de novembro de 1847, o major Koeler, que traçara e executara a planta de Petrópolis, deixou adiantados os serviços da edificação do palácio.
Em 30 de abril de 1854, Petrópolis passou a contar com comunicações rápidas e diretas com a capital do Brasil, pela inauguração da primeira estrada de ferro do país, obra executada pelo Visconde de Mauá, meio de transporte que correspondia a um terço da viagem, sendo os demais feitos por mar e em diligência.
Em 1856 por iniciativa de Mariano Procópio Ferreira Lage, foram iniciados os serviços da construção da Estrada de Rodagem União e Indústria, fazendo a ligação de Petrópolis com Juiz de Fóra, oficialmente inaugurados em 1861.
O progresso vertiginoso de Petrópolis motivou sua elevação à cidade pela Lei Provincial n. 961 de 29 de setembro de 1857, graças à iniciativa e esforços do deputado Coronel Amaro Emílio da Veiga. A 17 de junho de 1859, foi instalada a primeira Câmara Municipal e eleito o seu primeiro presidente, Comendador Albino José de Siqueira.
Já na República, pela Lei n. 50 de 30 de janeiro de 1894, foi tranferida para Petrópolis a Capital do Estado do Rio de Janeiro, provisoriamente até 1º de outubro do mesmo ano, quando a mudança foi tornada efetiva. Oito anos mais tarde, a Lei de 4 de agôsto de 1902 devolveu a Niterói as prerrogativas de Capital do Estado.
Residência de verão dos Chefes do Estado, Ministros, Corpo Diplomático estrangeiro, Petrópolis tornou-se cidade das mais conhecidas do país, não só por êstes fatos, mas também pela importância do seu parque industrial e população considerável.
Limites – Petrópolis tem limites com os seguintes municípios do Estado do Rio de Janeiro: Vassouras, Paraíba do Sul, Três Rios, Sapucaia, Sumidouro, Teresópolis, Magé e Duque de Caxias.
Superfície – 1.065 quilômetros quadrados.
Altitudes – Média da séde do Município 810 metros, acima do nível do mar. Os distritos de Petrópolis têm os seguintes: Cascatinha 720 – Corrêas 687 – Itaipava 680 – Pedro do Rio 645 e São José do Rio Prêto 550 metros.
Clima – O clima de Petrópolis é úmido. Temperatura média 18º,2. Máxima absoluta 33º,4. Mínima absoluta 0º,5. Número médio de dias de chuva no ano 170.
População – Pelo recenseamento de 1960, o Município conta com o seguinte número de habitantes:
Petrópolis 97.238
Cascatinha 23.080
Itaipava 7.421
Pedro do Rio 10.495
São José do Rio Prêto 12.066
Total 150.300
Distâncias – Por estradas de rodagem, em quilômetros, são as seguintes as distâncias de Petrópolis: Rio de Janeiro 68 – Juiz de Fóra 141 – Teresópolis 52 – Belo Horizonte 470 – São Paulo 471 – Três Rios 70.
Montanhas – Excessivamente montanhoso, principalmente em sua zona urbana, o município de Petrópolis assenta-se em ramificações da Serra do Mar, denominada serra dos Órgãos e da Estrela. Órgãos em virtude das pontas agudas que, vistas de longe, se assemelham a tubos de um órgão. Estrela, pela razão de avistarem os viajantes do interior a estrela Vesper, bem por cima da serra.
Encontram-se no município as seguintes pequenas serras: Caxambu, Malta, Taquaril, Marcos da Costa, Maria Comprida, onde se vê interessante ponta granítica, Gerla, Mundo Novo, Tubatão, Jacuba.
Os montes mais conhecidos são: Cambota, Cedro, Cantagalo, Tapéra, Bandeira, Bela Vista, Glória, Pereira, Sertão, Rosa, Santa Rita, Galeão, Viúva, Preguiça, Sapucaia e Alcobaça, com lindo pico granítico, Pedra do Retiro, Seio de Vênus, Cortiço.
Na divisa do Município de Teresópolis está uma seção da serra dos Órgãos, conhecida por serra Assú, onde se encontra a Pedra Assú, que é o pico culminante da serra do Mar, o qual tem, 2.232 metros, segundo uns e 2.400 na opinião de outros geógrafos.
O pico mais elevado do município de Petrópolis é o da Isabeloca, cuja altura é de 2.200 metros, situado nas proximidades da Pedra Assú.
Rios – Também muito numerosos são os pequenos rios que banham o município de Petrópolis, quase todos afluentes do Piabanha.
O Piabanha, palavra tupí que significa “o que é manchado”, é o principal rio de Petrópolis. Nasce por traz da pedra do Retiro, percorre o Woerstadt e o Bingen, margeia as avenidas Piabanha e Barão do Rio Branco, acompanhando a estrada União e Indústria, até próximo de Três Rios, onde deságua no Paraíba. Sua fôrça hidráulica é aproveitada pela usina elétrica de Alberto Torres, que fornece luz e fôrça para as cidades de Niterói, Petrópolis, Magé e São Gonçalo.
Depois do Piabanha, os principais rios de Petrópolis, por banharem seu centro, são: o Quitandinha, que nasce na antiga fazenda do mesmo nome, desce a Rua Coronel Veiga, Avenidas Washington Luís e Quinze de Novembro, ao meio da qual recebe o Palatino, segue pelas avenidas 7 de Setembro, Tiradentes, Koeler, 1º de Março, até desaguar no Piabanha, por traz do antigo Palácio de Cristal. O Palatino, antigamente chamado Córrego Sêco, nasce próximo ao morro do Cobiçado, no Morin, cujo bairro atravessa, seguindo pelas Ruas Souza Franco, Caldas Viana e Quinze de Novembro, onde se junta ao Quitandinha na praça D. Pedro, sob o Obelisco.
Devem ser mencionados mais os seguintes rios: o Paulo Barbosa ou Mosela, que atravessa o bairro deste nome. O São Rafael que nasce no Quarteirão Brasileiro. O Cascata, proveniente da pedra do Retiro, vertente oposta a do Piabanha. O Córrego da Paciência, que nasce e percorre o bairro do Carangola.
O Itamarati forma-se com as águas da cascata Paulo e Virgínia, também conhecida pelo nome de cascata do Itamarati, teve sua força hidráulica aproveitada pelas usinas do Banco Construtor do Brasil, encontra-se com o Piabanha na parte baixa de Cascatinha, próximo à fábrica.
O Morto banha Correias, forma o Poço do Imperador, e tem por afluente o Mata Porcos, também em Correias.
O Araras, que deságua no Piabanha, próximo a Bonsucesso.
O Santo Antônio ou Jacob, nasce em Mãe D’Água, forma a cachoeira dos Pilões, entre os quilômetros 5 e 6 da estrada para Teresópolis.
O Prêto banha todo o distrito de São José do Rio Prêto, com suas águas aproveitadas pela nova usina elétrica da Companhia Brasileira.
O Fagundes nasce na serra da Maria Comprida, percorre Secretário e Fagundes, lançando-se no Piabanha em Alberto Torres, tem também sua águas aproveitadas pela usina referida.
Dos rios que não deságuam no Piabanha merece ser citado apenas o São Paulo, que percorre o bairro Independência, de onde se atira serra abaixo, formando algumas cachoeiras, como a do Prata.
Produção – A maioria da população de Petrópolis dedica-se ao trabalho em indústrias, existindo mais de trezentos estabelecimentos, entre grandes e pequenos, das mais variadas espécies, predominando entretanto a dos tecidos, de algodão, lã, seda artificial e natural.
A produção agrícola provém quase exclusivamente dos distritos, figurando em primeiro lugar o café, seguido de legumes em geral para abastecimento da cidade e do Rio de Janeiro. Petrópolis continua a ser o município maior produtor de flôres no Estado, com suas chácaras localizadas no primeiro distrito.
Instrução Pública – Os resultados do Recenseamento de 1950 revelam a situação de Petrópolis quanto ao nível de instrução geral (pessoas presentes de 10 anos de idade e mais):
Sabem ler e escrever 54.811 percen. 68,32
Não sabem ler e escrever 25.243 percen. 31,46
Sem declaração 184 percen. 0,22
Total 80.238 percen. 100,00
A Prefeitura Municipal de Petrópolis mantém em funcionamento 105 escolas públicas primárias, 5 cursos noturnos, 4 escolas particulares subvencionadas, 1 Liceu Municipal com curso ginasial, Comércio Básico e Técnico de Contabilidade inclusive admissão e o govêrno do Estado várias outras espalhadas por todo o município.
Para ensino secundário, funcionam o Liceu Municipal e o Colégio Estadual, gratuitos, com boa frequência de alunos.
Numerosos estabelecimentos de ensino particular, para ambos os sexos funcionam no Município.
Administração – Como todos os demais municípios fluminenses, Petrópolis é administrada por um Prefeito e pela Câmara de Vereadores, eleitos pelo povo, para um período de quatro anos. Ao Prefeito cabe a função do poder executivo, na forma constitucional, dirigente máximo da Prefeitura, sendo eventualmente substituído por um vice-Prefeito, também eleito por quatro anos.
A Câmara Municipal ou dos Vereadores compõe-se de 19 membros cabendo-lhe a legislação e a fiscalização da execução financeira. A Mesa ou direção da Câmara, com presidente e secretários, é eleita anualmente dentre os seus membros.
Judiciariamente, Petrópolis é séde de Comarca, com três Juizes de Direito próprios.
Petropolitanos Ilustres
Grande número de petropolitanos natos tem se destacado nas várias atividades do país, dentre êles é justo mencionar:
Dr. José Tomás da Porciúncula, médico e politico, baluarte da causa republicana, primeiro presidente eleito do Estado do Rio de Janeiro, Senador e diplomata, com grande prestígio nos primeiros anos da República.
Dr. João Kopke, filho do dr. Henrique Kopke introdutor do ensino particular em Petrópolis, tem seu nome ligado à História do ensino nacional através importantes obras e metade próprio.
Dr. Antonio Cardozo Fontes, médico e cientista, companheiro e substituto de Oswaldo Cruz, com importantes descobertas no campo científico.
Professor Said-Ali Ida, poliglota, com numerosos livros didáticos ainda hoje adotados no ensino pátrio.
D. Pedro de Orleans e Bragança, primogênito dos Conde D’Eu, herdeiro presuntivo da corôa do Brasil, posto a que renunciou mais tarde.
General Marciano Augusto Botelho de Magalhães, herói da Guerra do Paraguai, irmão de Benjamin Constant.
Raul de Leoni, festejado poeta, e Guttmann Bicho, pintor consagrado, todos falecidos.
(1) Brigadeiro Eduardo Gomes.
Edgard Magalhães Gomes.
Madalena Tagliaferro.
Almirante Pedro Fernando Max de Frontin.
(1) acréscimo manuscrito, não datado.