O SESQUICENTENÁRIO DO TELÉGRAFO BRASILEIRO

Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima

Que o Império tinha um projeto para o Brasil, isto é incontestável. O lema era avançar, progredir bem estruturado, refletida e paulatinamente. Pisar em chão firme, condição essencial, para que se evitassem os retrocessos de conseqüências às vezes catastróficas.

O povo, na sua sabedoria adaptada ao trópico, sabe de longa data, que devagar também é pressa, que ninguém faz nada certo em hora errada e que a pressa é inimiga da perfeição.

A história da implantação do telégrafo elétrico no Brasil é uma prova desse comportamento do regime monárquico, haurido na própria experiência brasileira.

No mesmo ano em que, no Rio de Janeiro, nascia o segundo Imperador do Brasil, na freguesia de Antonio Pereira, município de Mariana, então província de Minas Gerais, vinha ao mundo, aos 17 de janeiro de 1825, Guilherme Schuch, futuro Barão de Capanema.

O menino era filho dos austríacos, Roque Schuch, professor do Museu Nacional de Viena e integrante da comitiva da Princesa Leopoldina, e, de Josephina Roth.

Roque havia sido nomeado em 1839, professor de italiano e alemão do futuro Imperador e das princesas.

Um ano antes, o jovem Guilherme partira para a Europa, aos cuidados do Visconde de Barbacena, para estudar engenharia. Em Munich, teve intenso contato com Spix e Martius, naturalistas empenhados naquela célebre peregrinação científica pelo Brasil, nos anos dez dos oitocentos.

Guilherme concluiu o curso de engenharia na Escola Politécnica de Viena.

De volta ao Brasil, com todas as credenciais que a moderna formação científica lhe permitia, não teve dificuldade em se realizar profissionalmente.

E é assim que, auspiciado pelo Imperador, de quem fora sempre devotado amigo, funda na Côrte, aos 11 de maio de 1852, o Telégrafo Nacional, do qual foi o primeiro e eterno diretor.

A repartição funcionou, no Campo de Santana, atual praça da República, no local que abriga hoje o quartel do Corpo de Bombeiros.

A escalada da implantação dos fios telegráficos no Brasil deu-se, conforme a índole monárquica, de maneira lenta, gradual, e segura.

Em 1855 teve início a construção de uma linha do Rio para Petrópolis, a qual começou a ser operada, sem alardes e estrépitos palanqueiros, em agosto de 1858.

O jornal “O Parahyba” que então se editava nestas serras, na seção de anúncios, localizada na 3ª página da edição de 12 de agosto de 1858, estampava:

“O Dr. Guilherme Schuch de Capanema, diretor dos telégrafos elétricos, manda fazer público que se acha aberta todos os dias a comunicação telegráfica de Petrópolis para a cidade; por isso, todas as pessoas que quiserem transmitir suas notícias, poderão dirigir-se à mesma estação. Petrópolis, 7 de agosto de 1858 – Estacionário José Francisco de Mattos”.

Em 1870, São João da Barra já havia sido atingida pelo fio telegráfico. No rumo do sul do Império, já estavam construídos, ao término da Guerra contra o Paraguai, o prolongamento de Pelotas a São João de Camaquan e o ramal de Paranaguá a Morretes.

Em 1874, a linha terrestre chegou a Vitória, Salvador e Aracajú; em 1875, à Paraíba; em 1876, à Natal e, em 1881, à Fortaleza.

Segundo Edgard B. de Barros, na conferência realizada em 1º de outubro de 1936, na Sociedade de Amigos de Alberto Torres, sobre o Barão de Capanema, das 20 províncias do Império, 13 já se achavam ligadas pelo telégrafo no limiar dos anos 80 dos oitocentos.

Em 1884, a linha chegou a São Luís do Maranhão. Depois ligou-se em Jaguarão, o telégrafo brasileiro ao uruguaio e finalmente ao argentino, pondo em contato direto o Rio de Janeiro e Buenos Ayres.

Depois de incontestáveis serviços prestados à comunicação no Brasil, Guilherme Schuch, Barão de Capanema desde 1881, cuja história praticamente se confunde com a do telégrafo nacional, sentiu que estava na hora de aposentar-se, o que acabou lhe acontecendo compulsoriamente, por força do novo regime implantado a 15 de novembro de 1889.

Afastando-se da vida publica e sempre fiel a D. Pedro II e a seu ideário, seguiu dedicando-se às atividades intelectuais, até que a morte o colhesse em 1908, aos oitenta e três anos de idade.

Parece incrível, que o cinqüentenário da implantação do telégrafo elétrico no Brasil, ocorrido em 1902, somente tenha sido festejado em 1904, já no governo Rodrigues Alves. Foi desprezo demais, por um tema de tamanha magnitude.

Não querendo que o fato se repetisse na oportunidade do sesquicentenário daquele auspicioso evento, resolvi, modestamente, neste canto da serra da Estrela, justo num dos primeiros lugares do Brasil a gozar de tão importante melhoramento, homenagear o fato histórico, relembrando a figura insigne do Barão de Capanema, homem de muitos instrumentos, que prestou enormíssimos serviços ao Brasil, máxime no plano científico, merecendo portanto um lugar de destaque na história pátria e a divulgação de seus feitos nas escolas de todos os níveis, para que o seu exemplo se multiplique neste país já tão acanalhado pelo culto indevido a figuras de somenos importância.