TRAJETÓRIA DE JOÃO VARANDA: EMPREENDEDORISMO E TRABALHISMO NA PETRÓPOLIS REPUBLICANA (1930-1960) (A) – PARTE I
Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, Associada Titular, Cadeira nº 27 – Patrono José Thomáz da Porciúncula
De acordo com as novas abordagens historiográficas, o estudo das trajetórias individuais, muito além de pretender exaltar a imagem de determinadas personagens, visa, sobretudo, perceber as conexões de um sujeito histórico com a sociedade na qual esteve inserido, revelando minúcias sobre as relações sociais que, de outra forma, não seriam notadas.
É, portanto, neste sentido, que propomos recuperar a trajetória de João Varanda.
Nascido em Bicas (MG), em 1913, Varanda chegou a Petrópolis em meados dos anos 1930. Em 1936, fundou a sua primeira empresa, a JVaranda. Nas décadas seguintes, tornou-se um dos maiores empresários da cidade, com dezenas de empreendimentos nos ramos os mais variados, desde o setor de transportes, no qual foi um pioneiro, como proprietário da primeira empresa de ônibus a circular no município, a Rodoviária Sul-Petrópolis, até a imprensa local, com o Jornal O Povo, importante periódico semanal.
Nesta ocasião, Petrópolis passava pela recuperação da sua importância no cenário nacional. A presença constante dos Presidentes da República, Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, havia atraído novamente para a cidade os holofotes, restaurando-lhe o status que obtivera no período imperial. Por outro lado, desde a década de 1930, ocorria um forte processo de mobilização da classe trabalhadora. Quando João Varanda se estabeleceu em Petrópolis, encontrou uma cidade que passava por intensa renovação política, acompanhada de transformações urbanísticas, presenciando um cenário de acirradas lutas dos operários por direitos e garantias trabalhistas e por melhores condições de trabalho.
Assim, como um recorte micro-histórico, por exemplo, a partir das múltiplas ações que ele próprio empreendeu para atender às demandas dos funcionários de suas empresas, como a criação de uma creche-escola e de um centro de atendimento médico, a trajetória de João Varanda torna-se um importante fio condutor para a compreensão do surgimento do trabalhismo e a análise das demandas que pautariam os debates e a conformação da legislação trabalhista, posteriormente.
Por outro lado, o seu empreendedorismo esteve relacionando ao processo de industrialização brasileiro, associado à ideia de progresso que baseava, em última instância, as políticas públicas. Neste caso, a atuação de Varanda no ramo dos transportes públicos permite perceber como o incentivo à substituição dos bondes pelo transporte rodoviário dentro do Município, e o paulatino enfraquecimento da importância do trem como meio de ligação entre o Rio de Janeiro e Petrópolis, privilegiando-se o deslocamento por ônibus e carro, até a extinção da ligação por linha férrea, em 1964, representam uma faceta do projeto político que visava ao que acreditavam ser a modernização do país.
Somando-se a isto, a partir da demonstração da participação de Varanda em várias entidades da sociedade civil, tais como, clubes e associações beneficentes e culturais, a sua trajetória recupera também a composição da vida social e cultural de Petrópolis. Ainda neste contexto, a família Varanda teve importante participação na área dos esportes, seja pela atuação de Varanda na diretoria e presidência do clube Petropolitano, seja pelo envolvimento dos seus filhos e outros familiares com os circuitos automobilísticos, corridas de carros que aconteciam nas ruas do Centro Histórico, alcançando repercussão nacional.
Na política, em 1962, João Varanda aceitaria o desafio de ser candidato a Prefeito de Petrópolis. Na eleição vencida por Flávio Castrioto, Varanda, que havia sido sondado pelo Movimento Trabalhista Renovador, uma dissidência do PTB de João Goulart, acabou se candidatando pelo PR (Partido Republicano). Como quarto colocado, obteve no pleito 3.653 votos, muito abaixo do que se esperava de reconhecimento por três décadas de dedicação ao desenvolvimento da cidade, atestada pelo título de cidadão petropolitano, concedido em 1956.
João Varanda faleceu, em Petrópolis, de infarto agudo do miocárdio, no dia 24 de agosto de 1968. Na data em que se completam 50 anos do seu falecimento, propomos um exercício de reflexão que permita recuperar estes acontecimentos, não só para que a sua memória seja honrada, mas para que a história da Petrópolis republicana seja mais conhecida e difundida.
JVaranda. Estabelecimento na Rua Marechal Deodoro.
Petrópolis. c. 1943. Acervo Família Varanda.
JOÃO VARANDA – 1913-1968. Acervo Família Varanda
FONTES:
Jornal Pequena Ilustração. Acervo Museu Imperial/Ibram/MinC.
MONTEIRO, Ruy. A República em Petrópolis: política e eleições municipais (1916-1996).
SILVEIRA FILHO, Oazinguito Ferreira da. Em tempos de rodoviária… Disponível em: https://ihp.org.br/26072015/lib_ihp/docs/ofsf20051221.htm . Acesso em: 14 Mar. 2018