O SONHO DE UMA CIDADE CINEMATOGRÁFICA – CONCLUINDO

Raul Ferreira da Silva Lopes, associado efetivo titular da cadeira n.º 32, patrono Oscar Weinschenck

A pesquisa, às vezes, não consegue alcançar todos os documentos que a completariam em tempo hábil. Foi assim no caso deste artigo publicado na edição de aniversário do I.H.P. Após sua publicação, recebemos uma gentil carta de Vitorino Chermont de Miranda (do Instituto Brasileiro de Geografia e História), contestando a data da compra da Fazenda pela CBC (Companhia Brasil Cinematográfica) como avaliamos. Lembrou-se ele de que havia guardado um exemplar da Revista SELETA, nº 10, de 05 de março de 1921. No artigo apresentado, havia três fotos do Castelo São Manoel. Na principal, em frente ao Castelo e nas escadarias do mesmo, um grupo de pessoas e a legenda assim explicava: “Na recepção no Castelo São Manoel – grupos de convidados do casal Oscar de Teffé, vendo-se ao centro os Drs. José Carlos Rodrigues, Afrânio Peixoto, o Conde de Leopoldina e Sua Sra., e o Dr. Leitão da Cunha.”

Como se vê, em 1921 a Fazenda ainda pertencia ao casal Oscar de Teffé, e não podia ter sido comprada pela CBC em 1919, quando ela havia atingido o incrível número de ter 400 casas de exibição de filmes, donde imaginamos a suposta data de compra, com o objetivo de produzir filmes para abastece-las.

No nosso artigo anterior, publicamos uma carta-requerimento da CBC, em 1927, dirigida ao Prefeito de Petrópolis, em que solicitava a instalação de iluminação pública e informava a venda de lotes do loteamento que haviam implantado na Fazenda, bem como a construção de 20 bangalôs. Está claro que a venda da Fazenda se processou, então, entre 1921 e 1927

Confrontando a história da CBC com os dados acima apresentados, poderemos chegar próximos da real data da compra e venda da Fazenda do Castelo São Manoel.

Francisco Serrador, presidente da CBC, ficou nos Estados Unidos de 1922 a 1925, onde foi se aprimorar nos conhecimentos de produção de filmes, em Hollywood e em montagem e realização de musicais na Broadway. Voltando ao Brasil em 1925, inaugurou, no Rio de Janeiro, o Quarteirão Serrador, hoje Cinelândia, e nele o Cine Capitólio, o mais “chic,” na época, do Rio.

Como já temos o espaço entre 1921 e 1927 para a data real da venda da Fazenda e a compra pela CBC, tranquilamente podemos avaliar a data em torno de 1925 e não como avaliamos anteriormente em torno de 1919.

Na reorganização do arquivo da Prefeitura guardado na Sala Petrópolis da Biblioteca Municipal, também após a publicação do nosso artigo anterior, a responsável pela Sala encontrou um requerimento da CBC ao Prefeito de Petrópolis, juntamente com uma planta do loteamento, a primeira que vimos, produzida pela CBC e tendo como presidente Francisco Serrador. A planta, em escala 1/1000, de 06.03.1930. reproduz todo o loteamento em torno do Castelo, e os lotes já vendidos com seus respectivos compradores; para solucionar o problema da cobrança do IPTU.

Para encerrar esta pesquisa, transcreveremos a introdução do referido requerimento, que achamos ser esse documento o mais valioso na confirmação do projeto e realidade de ter havido o “sonho de uma cidade cinematográfica em Petrópolis”, mais precisamente em Corrêas.

Ele também nos revela que o primeiro projeto, após a compra da Fazenda, foi povoá-la em torno do Castelo, para que se tornasse viável a contratação de artistas e técnicos para uma “vila” habitada, e não para uma “selva” isolada. Mostra-nos, ainda, que os 20 bangalôs que haviam construído o foram para receber exatamente os artistas e técnicos que seriam contratados mais tarde. A seguir a transcrição fiel da introdução do referido requerimento que define claramente a realidade do projeto cinematográfico:

“A Companhia Brasil Cinematográfica, com o fim de crear uma cidade cinematográfica, adquiriu a Fazenda de São Manoel, em Corrêas, 2º Distrito do Município de Petrópolis, idealizava nella estabelecer um meio onde podesse viver o artista nacional e ser creada a industria do film, que motivou países prósperos, e aqui, infelizmente, ainda inexistente. Com esse objetivo, procurou melhoramentos à propriedade já dotada de Castelo, estilo irlandez, além das bellezas naturais verdadeiramente notáveis. Assim, abriu estradas, construiu fontes e lagos artificiais, piscina, jardins e bosques e arborização, procurando por esta forma crear ambiente para a feitura dos futuros films. A par dessa acção de embellezamento do local, iniciou a Companhia a de propaganda e publicidade desse intento. Ainda, no intuito de crear ambiente para as futuras películas e de fixar o artista no meio, a Companhia loteou parte do seu terreno, permitindo a construção de bungallows, de futuro utilizáveis como scenarios para habitação de artistas. Para tal não mediu sacrifícios a Companhia, abrindo novas estradas, captando e distribuindo água,concorrendo, enfim, com todos os esforços para a creação de um pequeno núcleo, onde podessem ser feitas produções cinematográficas.”

Com este documento, uma real certidão do objetivo de se criar uma cidade cinematográfica, fechamos nossa pesquisa sobre a origem do Bairro do Loteamento do Castelo São Manoel e os fatos históricos que o antecederam. Cremos que nosso objetivo de alinhavar esses fatos, preserva a memória histórica de Corrêas e Petrópolis. Esse assunto andava disperso e não se via referência alguma, em qualquer instância, sobre a realidade dessa história tão cativante: de Petrópolis quase ter tido uma “cidade cinematográfica.” e que seria a pioneira no Brasil.